Silêncio terrorista

Que o inominável desde sempre foi chegado ao extremismo, isso não é novidade. Contudo, como chefe do Executivo, seu silêncio, criminoso até duas semanas, atingiu agora o nível de terrorismo. Por quê? Não só está prevaricando (por omissão e cumplicidade), como está estimulando suas hordas a atos insanos, como o flagrado no sábado, véspera de Natal. Que ‘cristãos’ são esses?

Ataque em Brasília – Foto: Divulgação

Não é nenhuma novidade que o inominável sempre foi um cultor do extremismo. Como é mesmo que ele ganhou notoriedade quando ainda estava na caserna?

Ora, ameaçando pôr abaixo uma das adutoras do Rio de Janeiro, anúncio estampado na revista Veja, no início da Nova República, o que lhe custou a carreira e um intrincado processo na Justiça Militar. Graças à generosidade do general Leônidas Pires Gonçalves, então ministro do Exército indicado por Tancredo Neves, livrou-se do risco de se ver na melancólica condição de desertor, e assim pôde galgar uma carreira política, embora medíocre, que atingiu o topo, mesmo sem qualquer mérito.

Amoral por natureza, nunca se redimiu do plano de explodir a maior adutora do Rio de Janeiro e alguns quartéis do Exército sediados na antiga capital federal, o que poderia ter custado inúmeras vidas. Justificou-se então que tudo aquilo seria feito com uma pequena quantidade de explosivos, “só pra assustar, não pra matar”. Motivado, segundo sua ‘lógica’ rasa, apenas e tão somente pelo afã mesquinho e nada patriótico de mostrar que o então ministro do Exército não gozava da simpatia da tropa.

Pois, o silêncio do inominável hoje ante o pipocar de tentativas de atos terroristas não só revela sua covardia como sua falta de caráter, ainda que os mercadores da fé o tinjam de ‘messias’ (minúscula), representante da ‘moral e dos bons costumes’. O quê, aliás, esse desalmado e mau-caráter faz desde que a dura realidade o obrigou a se submeter ao mundo real, fora das mentiras engendradas e mal paridas pelas milícias digitais acochadas no Palácio do Planalto desde o maldito dia em que adentrou graças às atitudes insanas dos canalhas travestidos de ‘patriotas’, quando sequer honram a sua condição de servidores públicos detentores dos maiores salários da República?

Não se surpreenda, leitor/a. Todo fascista, além de mentiroso, é covarde. Só sabe agir em bando e traiçoeiramente, feito hiena. A história, que eles temem como o diabo da cruz, traz milhares de fatos, inclusive no Brasil. Como a se convencer, eles recorrem a frases de efeito (mas simples, pois seus cérebros rasos não conseguem processar muita coisa), tipo “Deus, Pátria e Família”, “Alemanha [é assim originalmente] acima de tudo, Deus acima de todos”, “Uma mentira contada mil vezes torna-se uma verdade”, “Nossa bandeira nunca será vermelha” etc.

Desde o dia em que os fatos mostraram que suas mentiras, ainda que aos milhões, não mudavam a realidade (diferentemente do que seu ‘tio’ Joseph Goebbels lhe ensinara nos ‘catecismos’ para iniciantes do nazifascismo), o inominável não faz outra coisa que um verdadeiramente cristão não faria: maldades. Na noite em que apareceu às suas hordas, dia 12 de dezembro, como mefistofélico que é, masturbou e açodou as taras dos tonton macoutes para incendiar Brasília. Não satisfeito, enviou suas mensagens ‘codificadas’ (é tão raso de imaginação, que qualquer iniciante decifra suas ‘mal traçadas linhas’) e hoje nos deparamos de uma série de tentativas de atos de sabotagem nada inocentes: como a se passar por justiceiros de meia pataca, estão afoitos a manchar com sangue inocente o dia da posse do estadista que o Brasil levou 500 anos para revelar para a humanidade.

Perversidades. É o que consegue produzir e reproduzir essa caixa craniana atrofiada, destituída de qualquer senso lógico. Uma total falta de caráter, carência de empatia, profundidade de raciocínio (e aí ele não está sozinho, tem muito marmanjo canalha que o acompanha). Desde o início de sua juventude, contam os seus contemporâneos libertos de qualquer recalque compulsivo, seu atormentado cérebro de psicopata contém sórdidos pensamentos, de pura maldade, pura insanidade. Só gente de baixa qualidade humana, como ele, para ter investido em sua candidatura em 2018. Eis por que muitos de seus primeiros apoiadores saíram de cena (em todos os sentidos: uns por não suportar tanta desfaçatez, outros porque precisaram deixar-lhe o caminho livre).

O que mesmo fez o inominável em quatro anos de desgoverno para merecer continuar? Fez tudo, menos governar.

Prevaricou, perseguiu, ameaçou, desdenhou, mentiu, surtou, ‘motociatou’ (carregando na garupa sempre um gajo tipo guarda-roupa, bem torneado, no seu cangote), ‘sentiu clima’, ‘imbrochou’, ‘causou’ (vexame à nação) e, sobretudo, atentou incessantemente contra a República: desmontou órgãos de Estado, destruiu políticas públicas, imiscuiu-se na gestão de cargos de carreira de Estado, atiçou com fakenews suas hordas, ‘blindou’ suas milícias das sanções do Estado, fragilizou e contribuiu para a morte de servidores honrados e protegeu/empoderou líderes reconhecidamente criminosos de quadrilhas de garimpeiros, madeireiros, sonegadores, traficantes, contrabandistas, desertores, viúvos da (mal)ditadura, armeiros, ‘caminhoneiros’, ‘mineradores’ e ‘empresários’.

Há, no entanto, o estudo consistente e digno de respeito do Jornalista e Pesquisador (maiúsculas, por favor) Helder Prior, que tive a honra de conhecer pessoalmente este ano, que mostra como a extrema-direita brasileira cresceu à sombra do integralismo, se nutriu nos tempos do regime de 1964, se revigorou à sombra do aparentemente inocente e caricato Enéas Carneiro (do PRONA), se radicalizou sob o discurso ‘nacionalista’ de Levy Fidélix (do PRTB) — estes dois baluartes da direita falecidos para felicidade dos seguidores do ‘mito’ (a partir daqui opinião minha) — e se renovou na onda ‘bolso…ista’ internacionalizada graças à ajuda de Olavo de Carvalho (pseudointelectual recém-falecido nos EUA) e Steve Bannon, expressão maior da equipe de milicianos digitais do pato Donald Trump, a um passo de ver a sua bisonha carreira política proscrita por atentar contra a democracia.

Lugar de terrorista é na cadeia. Já passou da hora de tratar fascista como terrorista. Os atos, recentes (as tentativas frustradas de atentados a partir da véspera do Natal) e antigos (vergonhosamente escamoteados pelos derradeiros feitores do regime de 1964, quando ocorreram o acidente ‘de trabalho’ do Riocentro, as cartas-bomba endereçadas a diversas entidades que reivindicavam o fim ditadura — e que matou a secretária da sede nacional da OAB, Dona Lyda Monteiro — e os atentados incendiários contra bancas que vendiam jornais alternativos como O PasquimMovimentoOpiniãoVersusVoz da Unidade etc — são atentados terroristas, portanto, crimes imprescritíveis, cujos autores e mandantes devem ser levados às barras dos tribunais, sem qualquer condescendência.

Como cantou o eterno Atahualpa Yupanqui (1908-1992): “Le tengo rabia al silencio / por todo lo que perdí. / Que no se quede callado / quien quiera vivir feliz.” (‘Le tengo rabia al silencio’, Atahualpa Yupanqui, Don Ata ou Héctor Roberto Chavero, 1968)

 

*Ahmad Schabib Hany

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