Para além do sexo: saiba se existe consentimento na sua relação

58% das mulheres não tiveram nenhum tipo de orientação sobre consentimento, segundo estudo

Foto: Divulgação

O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 08 de março, transcende uma mera data comemorativa. O dia é um convite à reflexão sobre os desafios enfrentados por mulheres de todas as idades e origens.

Um deles é a falta de conhecimento sobre atitudes invasivas no relacionamento que podem ferir a intimidade e a autonomia feminina. Uma pesquisa do Instituto Data Popular, realizada com 2.000 mulheres brasileiras de 18 a 44 anos, revelou que 41% delas não souberam definir o que é consentimento em uma relação.

Já um estudo da Plan International, realizado em 14 países, mostrou que 58% das mulheres não tiveram nenhum tipo de orientação sobre consentimento. Além disso, apenas 1 em cada 5 das entrevistadas afirmou ter total autonomia sobre o próprio corpo e sobre suas escolhas dentro de um relacionamento.

“Por desinformação, educação ou estereótipos de gênero, milhões de mulheres não reconhecem sinais de qualquer tipo de abuso, o que exige medidas eficazes de enfrentamento para promover a autonomia feminina”, diz Claudia Petry, pedagoga com especialização em Sexologia Clínica, membro da SBRASH (Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana) e especialista em Educação para a Sexualidade pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/SC).

Afinal, por que falar sobre consentimento e como entender isso na prática

Segundo a psicóloga Monica Machado, fundadora da Clínica Ame.C, e pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein; o consentimento deve estar no centro de cada atitude e decisão entre o casal.

Promova o diálogo contínuo e, se preciso, estabeleça limites que definam o que é permitido ou não, garantindo um espaço seguro entre ambos. Quanto mais à vontade você se sentir, mais prazerosas serão as interações entre vocês”, afirma a psicóloga e host do podcast Ame.Cast.

Por onde, então, começar a avaliar a saúde da relação? Para ajudar nessa tarefa, as especialistas citam 4 exemplos de situações que mostram se há consentimento na sua relação (ou não):

Mantenha sua individualidade: Segundo Monica Machado, para seu relacionamento ser saudável, é fundamental manter sua vida pessoal, suas escolhas e seus interesses particulares, incluindo carreira, estudos, hobbies e amigos.

Claro que você precisa se dedicar ao seu parceiro, mas tome cuidado. Se perceber que ele não respeita seu espaço, não valoriza seu trabalho e que seus objetivos estão ficando em segundo plano, retome as rédeas da sua vida e converse com ele. O consentimento envolve o ‘ter e dar apoio’. A partir do momento em que a relação deixa de somar e começa a subtrair, é hora de rever esse romance”, pondera a psicóloga.

Reflexão: Você se sente aceita e respeitada como mulher e ser humano? Seus interesses são valorizados? Ou seu único valor é ser parceira dele?

Quem cala, NÃO consente: Muitas vezes, o silêncio é confundido com consentimento. Mas não é. “O fato de você hesitar não significa um ‘pode ser, talvez’. O seu consentimento, seja para uma relação sexual ou uma ida ao cinema, tem que ser explícito e autêntico, com demonstração genuína de interesse”, explica a sexóloga Claudia Petry.

Segundo ela, você até pode abrir mão do cansaço, por exemplo, para agradar seu parceiro que está louco para ir ao churrasco de velhos amigos, que já estava agendado com bastante antecedência. “Porém, a iniciativa deve ser legitimamente sua, ou seja, você vai por vontade própria, e não por manipulação ou vitimização do parceiro”.

O mesmo não vale para o sexo. “Esse quesito é indiscutível e inegociável. Nunca esqueça: não importa se é seu marido de 20 anos ou um relacionamento casual. Se você não está disposta a ter relação sexual, seja qual for o motivo, o ‘não’ é sua palavra final. O corpo é seu, e jamais deve ser ‘cedido’ para satisfazer o outro”, esclarece Petry.

Reflexão: Você tem voz ativa nas tomadas de decisões? Você consegue ser compreendida e respeitada em relação ao que quer e o que não quer?

Você pode voltar atrás quando quiser: Um dos aspectos mais fortalecedores do consentimento é que ele não é permanente. “Você pode ter dito ‘sim’ ou ‘não’, mas mudar de ideia a qualquer momento, e por qualquer motivo. Isso vale especialmente na intimidade. Não importa se você deu consentimento no dia anterior ou há uma hora. Se não estiver confortável para você naquele momento, decline”, ressalta Claudia Petry.

Um ponto a avaliar, segundo a sexóloga, é a reação do seu parceiro. “Se ele é gentil, te ouve, respeita seu momento, não tenta te pressionar a nada e ainda demonstra preocupação, buscando entender seu estado físico e emocional, considere-se uma privilegiada e, claro, cultive essa relação”, exalta a especialista.

Reflexão: Como seu parceiro reage quando você muda o ‘sim’ para o ‘não’? Você tem liberdade parar mudar de ideia sem medo de consequências ou culpa?

Consentimento vale sob efeito do álcool? As especialistas são unânimes: se o consentimento precisa ser explícito e não é permanente, então, é impossível validá-lo quando se está sob a influência do álcool. “Se o seu parceiro for íntegro, ele saberá que não tem consentimento algum (ainda que você diga o contrário) para fazer algo impróprio com você”, afirma a psicóloga Monica Machado.

Entretanto, a sorte pode não ser a mesma com outro parceiro, que facilmente pode se aproveitar da sua vulnerabilidade. Daí a importância de se cuidar em dobro diante de situações e pessoas que podem oferecer perigo.

Reflexão: Se você estiver sob efeito de álcool, vai se sentir 100% segura e protegida com seu parceiro?

Quando é o momento de pedir ajuda: Segundo a pesquisa Datafolha/FBSP, 72,4% das mulheres que passam por algum tipo de violência psicológica ou física sentem necessidade de consultar um especialista em saúde mental, enquanto 69,4% consideram buscar suporte legal e serviços que a orientem.

Mulheres que desconhecem o significado do consentimento em uma relação e a importância do respeito mútuo são mais propensas a sofrer violência física, psicológica e, consequentemente, impactos negativos na saúde física e mental”, finaliza a sexóloga Claudia Petry.

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