‘Folha de S.Paulo’, porta-voz do recalque da casa grande

A cada trinta dias, o atual publisher do mofando jornalão dos Campos Elíseos, aquele que ‘puxou o tapete’ da própria irmã para tomar-lhe o cargo e agradar o sinistro Paulo Guedes, o inominável e o amo e senhor deles, manda seus vassalos e vândalos fazerem ataques sistemáticos ao Governo de Reconstrução Nacional para afagar o ‘mercado’, que também atende pelo nome de Roberto Campos Neto e seus assemelhados da avenida Paulista.

Foto: Divulgação

Prezado(a) leitor(a), pergunte a um recalcado da casa grande sobre o motivo de tanto ódio ao metalúrgico que se revelou o grande estadista admirado indistintamente pelas maiores potências do Planeta e, sobretudo, reconhecido e amado pelas amplas camadas da população brasileira — não por acaso conseguiu vencer o inominável a despeito de todo o aparelhamento do Estado, incluindo generecos como Heleno e o juizeco Moro e os cúmplices da Leva Jeito.

Se for sincero, esse recalcado da casa grande dirá que odeia porque não pode tolerar um ‘da senzala’ fazendo ‘tanto sucesso’ enquanto o seu fantoche tresloucado só conseguiu despertar no concerto das nações risadinhas discretas de constrangimento e deboche, farto deboche, como naquela reunião multilateral em que a primeira-dama do Canadá o identificou como ‘aquele tiozinho’ perdido, que não sabe o que está fazendo…

Mas haverá outro tipo de recalcado, digamos, ‘mais intelectualizado’, leitor da Folha de S.Paulo, que encherá o peito, com muita soberba e empáfia, para proclamar que a mídia revelou que ele não conseguirá governar desta vez… Por que motivo? Bom, antes dos dois mandatos em que se saiu vitorioso (com aprovação de mais de 87% da população), era por ‘falta de preparo e experiência’. Por que será agora?

E deu a pista a Falha, digo, Folha de S.Paulo — que daqui para frente grafarei, como na década de 1970, FSP –, aquela mesma que na semana seguinte à tentativa de golpe postou uma foto fake de Lula com um tiro no peito no alto da primeira página, ao lado da chamada de capa. Em um editorial carregado de preconceitos, fazendo jus à sua triste história, que nos anos de chumbo colocou sua frota de veículos para transportar cadáveres de perseguidos pela ditadura na Operação Bandeirantes (a OBAN, de triste memória): porque ele (Lula) ‘não soube envelhecer’ (sic).

Detalhe: o patriarca da oligarquia da FSP morreu com mais de 95 anos, e mais lúcido que o atual publisher. Pois é, aquele mesmo que depois de colaborar com os torturadores (como Sérgio Paranhos Fleury e Brilhante Ustra) decidiu dar uma guinada e transformá-la em jornal com credibilidade, e contratou Jornalistas (letra maiúscula) como Claudio Abramo, Newton Carlos, Alberto Dines, Ruy Lopes, Perseu Abramo, Getúlio Bittencourt, Pedro Del Pichia, Tarso de Castro, Plínio Marcos, Samuel Wainer, Carlos Alberto Luppi, João Ubaldo Ribeiro, Mauro Santayana, Luiz Alberto Bahia, Josué Guimarães, Gilberto Dimenstein, Ricardo Kotscho, Martha Alencar, Newton Rodrigues, Eduardo Matarazzo Suplicy, Radhá Abramo, Paulo Francis, Nelson Merlin, Sérgio Augusto, Joelmir Beting, Clóvis Rossi, Mino Carta, Washington Novaes, Alexandre Gambirásio, Aloysio Biondi, Oswaldo Mendes e até o querido e saudoso Mylton Severiano (da Silva), que substituiu o Tarso de Castro algum tempo no saudoso Folhetim.

Recalcado não tem remédio. Esse infeliz não se apercebeu que é Lula que está salvando o PSDB? Ao chamar Geraldo Alckmin, um dos fundadores do partido de Mário Covas (a despeito de não ter sido eleito em 1989 presidente da República, é a maior expressão da Social Democracia brasileira). Como assim? Ao chamar Alckmin para fazer a dobradinha com ele e colocá-lo como gestor das políticas de (re)industrialização do Brasil, Lula, de forma discreta e prudente, está ajudando os verdadeiros tucanos a se reerguerem da gentalha que Aéreo Never trouxe para apoiá-lo, como João Dória Jr., tão playboyzinho quanto o garoto mimado que desonrou a memória de Tancredo Neves.

Lula sabe que depende de seu governo de reconstrução nacional a sobrevivência da Democracia (e até a própria sobrevivência do PT). Por ser um político racional, bastante lúcido e, sobretudo, responsável, sabe que, sem perder suas raízes e compromissos com as camadas populares e a esquerda nacional (da qual ele é fruto), precisará governar de mãos dadas com os baluartes da Social Democracia brasileira e com setores racionais e lúcidos da direita civilizada. Daí por que tem atuado com muita prudência e ponderação desde antes do dia em que as urnas o sagraram tricampeão presidencial. Diferentemente do inominável, Lula terá que recompor a governabilidade (re)construindo legendas que, como o PT, construíram o Estado Democrático de Direito a partir da Constituinte, e não com base do ‘toma-lá-dá-cá’. Ou não entenderam por que o ex-presidente José Sarney foi tão prestigiado e, ainda que não estivesse presente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi tratado com cordialidade?

Mas com o atual Frias, nada é surpreendente, nada é fora da ‘ordem’ por ele emanada. Diferentemente do pai e do irmão — e provavelmente da irmã que depôs –, é incapaz de perceber até onde vão suas preferências e o que é Jornalismo. Se ele fosse até o arquivo (ou memória) do jornalão que chegou aos 100 anos com uma mentalidade do tempo de sua fundação, teria oportunidade de ler ou assistir aos depoimentos de Octavio Frias de Oliveira ou de Otávio Frias Filho e começaria a compreender por que o pai e o irmão não execravam Claudio Abramo e todos os seus ‘amigos subversivos’.

Dos anais da FSP consta algo que virou lenda: procurado pelo patriarca Frias, ainda sócio de Carlos Caldeira Filho (meados da década de 1960, consumado o golpe), Abramo sem titubeio confirmara, olhando para os olhos do empresário, de que, sim, era ‘comunista’, ‘autoritário’ e ‘nervoso’ — mas não como o futuro patrão entendera. Quando o chamou para trabalhar com ele, pôde constatar que é bom negócio trabalhar com ‘subversivos’, pois eles não agradam a ninguém e dão credibilidade ao seu local de trabalho. Depois de contratar Abramo, e, por extensão, todos os ‘seus amigos’, o jornalão só perdeu em sua maioria quando foram morrendo ou ficando tão velhinhos que já não podiam trabalhar.

É claro que o patriarca Frias de Oliveira pagou caro por ter mudado de lado: em 1977, ante a imprevisibilidade do coronel Antônio Erasmo Dias, então secretário de Segurança Pública de São Paulo, que invadira a redação de seu principal jornal (no caso a FSP), não teve opção menos dolorosa que demitir Cláudio Abramo e todos os pivôs do imbróglio (crônica em que o colunista Lourenço Diaféria homenageara um sargento do Exército morto ao salvar um menino que caíra num lado com ariranhas e intitulara sua coluna assim: “Herói. Morto. Nós”). Era uma homenagem ao herói que salvara a vida de uma criança numa praça de São Paulo, ante a estátua do Duque de Caxias, patrono do Exército.

Depois disso, a FSP nunca mais fora a mesma, apesar de o velho patriarca ter feito de tudo para não perder Claudio Abramo, que virou titular da coluna São Paulo na página 2 (dos editoriais e opinião), depois correspondente em diversos lugares da Europa e ao final da vida secretário-geral do Conselho Editorial do jornalão. Não demorou muito, e Abramo acabou falecendo, precocemente, em agosto de 1987, antes de ver a conclusão dos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, pela qual ele tanto lutara, inclusive dentro do jornal que dirigira.

Em síntese, o atual Frias reproduz sua senilidade precoce, ou melhor, sua decrepitude, por meio de edições panfletárias exaladas do recalque da casa grande. Ou a oligarquia troca seu feitor, ou a FSP, e todo o Grupo Falha, terá o mesmo fim dos Civita e de sua Abril, detonada pelo igualmente finado Roberto Civita, que também pôs de escanteio o irmão Richard e pôs todo o prestígio de uma editora pioneira a descer a ladeira, mas a ladeira da ética…

*Ahmad Schabib Hany

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