Desinformação e combate às fake news são tema de Conferência de Jornalismo

Evento reúne os maiores especialistas da área no Texas, Estados Unidos

Simpósio Internacional de Jornalismo Online

Simpósio Internacional de Jornalismo Online (Foto: Divulgação)

O Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ), organizado pelo Knight Center, reúne jornalistas, executivos de mídia, professores e estudantes de jornalismo do mundo todo para discutir o presente e o futuro do jornalismo online. Dezenas de palestrantes de diversos meios de comunicação e universidades do mundo todo discutiram algumas das questões mais urgentes do jornalismo digital. Na edição deste ano, o combate às fake news e à desinformação estiveram no centro das palestras. As mesas aconteceram na Universidade do Texas, em Austin, nos Estados Unidos, de 14 a 15 de abril de 2023.

Um dos fundadores do Simpósio é o brasileiro Rosental Alves, que também falou no evento. Depois de 27 anos como professor de jornalismo no Brasil, Alves iniciou sua carreira acadêmica nos Estados Unidos. Rosental Alves foi também diretor do Jornal do Brasil e trabalhou no periódico por 23 anos. Foi escolhido, entre 200 candidatos, para criar o Knight Center for Journalism para as Américas.

Dentre os palestrantes deste ano no ISOJ estavam Joseph Kahn, editor executivo do News York Times, Janelle Rodriguez, vice-presidente executiva da NBC News, Kourtney Bitterly, diretora de parcerias jornalísticas globais do Youtube e os brasileiros Sérgio Dávida, editor-chefe da Folha de S. Paulo e ex-bolsista da Fundação Knight em Stanford, e Cristina Tardáguila, fundadora da Agência Lupa, a primeira agência de checagens do Brasil.

Checagem de notícias

As mídias sociais e a polarização política fazem das agências de checagem uma necessidade. Os especialistas explicam que não é simples fazer com que o público confie na checagem dos fatos. Isso porque a desinformação viraliza com velocidade e se encaixa dentro da agenda política. Para Glenn Kessler, chefe do departamento de checagem do Washington Post, o maior problema é o viés de confirmação.

As pessoas são mais suscetíveis a acreditar apenas em fatos que apóiam suas crenças pré-existentes e descartam o que não confirma seus preconceitos. O título da fala de Kessler era: “Mentir na política, armar notícias falsas e atacar jornalistas: o que aprendemos até agora e como reagir à infodemia?”

Bill Adair, fundador do PolitiFact e professor do Centro Knight de Jornalismo e Políticas Públicas na Universidade de Duke, falou dos desafios de pensar em maneiras criativas de levar informações ao público.

“A verificação de fatos não está alcançando as pessoas que mais precisam”. Adair citou a possibilidade de usar a inteligência artificial para melhorar a verificação de fatos, o que criaria um campo de batalha totalmente novo, pois poderia aumentar a disseminação de desinformação.

Sérgio Dávila, editor-chefe da Folha de S. Paulo, falou dos esforços de checagem de fatos políticos e de como estas iniciativas podem aumentar a tensão entre a imprensa e as autoridades às quais ela aponta as responsabilidades. Dávila mostrou um clip com imagens do ex-presidente Jair Bolsonaro criticando a cobertura da Folha de S. Paulo e ofendendo seus jornalistas.

Ele também lembrou que o clã Bolsonaro lidera uma campanha online de assédio sexual acusando falsamente uma jornalista que fez uma cobertura negativa do governo dele. A família Bolsonaro compartilhou informaçoes falsas dizendo que a jornalista teria feito sexo em troca de um furo jornalístico.

De acordo com Dávila, com o recém-eleito presidente Lula a relação com a imprensa está mais respeitosa. Mas é também preocupante as tentativas de Lula de criar um verificador oficial de fatos do governo. “Um absurdo, isso é orwelliano”, disse Dávila, referindo-se à obra 1984, de George Orwell. Todos os palestrantes foram unânimes ao relatar que enfrentam críticas, tanto da direita quanto da esquerda política, quando estas não concordam com as checagens de fatos.

A diretora de tecnologia, media e comunicações da Universidade de Columbia, Anya Schiffrin, disse esperar ver verificações de fatos que possam ir além da verdade/mentira das alegações de políticos ou figuras públicas. Para ela, seria importante também que o jornalismo descobrisse as “motivações financeiras subjacentes à disseminação da desinformação”.

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