Cultura hip hop deu o tom no Som da Concha do último domingo com o rapper MCN e o grupo de rap indígena BRÔ MC’s

Grupo BRÔ MC’s – Fotos: Daniel Reino (FCMS)

Campo Grande (MS) – Noite de confraternização em família, entre amigos, com muita alegria na pegada do rap e da cultura hip hop. Assim foi a energia do Som da Concha deste último domingo, 24 de outubro de 2022, que trouxe ao palco da Concha Acústica Helena Meyreles o rapper MCN (Maycon dos Santos Silva) e o grupo de rap indígena BRÔ MC’s, que recentemente tocou no palco do Rock’n’Rio.

O público foi chegando aos poucos para conferir o show de abertura com MCN. Não foi só um show de rap, mas um verdadeiro manifesto da cultura hip hop: no palco, o rapper MCN cantando suas músicas falando sobre sua vivência como morador da periferia de Campo Grande, com seu filhinho Khaleb, que desde pequeno já acompanha o pai nos palcos e com toda a sua equipe de músicos e técnicos de som, com a participação mais que especial de dois bailarinos de break. Logo abaixo do palco, junto com a galera da plateia, dois grafiteiros mostrando a arte do graffite, que faz parte da cultura hip hop.

O rapper MCN iniciou sua carreira no hip hop através do skate há 15 anos. “Através do skate eu conheci a música, conheci a dança, conheci o graffiti e várias outras vertentes que fazem parte da nossa cultura. E uma das vertentes mais fortes com as quais me identifiquei e abracei com carinho e defendo onde eu vou, está dentro do meu repertório, está dentro do meu estilo de vida, de tudo aquilo que sai de mim, que é o graffiti, o skate, e toda esta forma de expressão livre de dançar, cantar, pintar. Isso é a minha identidade. Vários MCs vêm através de outras formas, a minha carreira vem através disso. É algo que eu levo como estilo de vida, o jeito de eu falar, de andar, de me portar frente a outras pessoas. Tudo isso eu devo à cultura hip hop”.

Rapper MCN Fotos: Daniel Reino (FCMS)

Maycon afirmou que hoje o hip hop e o rap estão tendo mais espaço na cultura do Estado, mas acha que esta forma de manifestação merece “um pouco mais”. “Mas eu sou grato, isso para mim é valioso, porque eu venho tentando estar neste palco já tem uns anos, me inscrevi, faço toda a parte burocrática que o edital pede, estou aí, como a minha arte é, esta forma de resistência, quem é da nossa cultura sabe, e estou nesta caminhada. Além de a gente ser rua no olhar da sociedade a gente também acredita em trabalho de forma profissional mesmo. É isso que a gente quer mostrar quando a gente sobe no palco: mostrar que a gente faz isso com coerência, com respeito, tentando mostrar aquilo que a gente vive. Eu escrevo basicamente o que eu vivo e o que eu vivencio na minha vida. Isso é um ponto positivo que eu tenho. Cantar não é tão difícil. Rimar, tem um monte. Agora falar o que vive e trazer essa essência é para poucos”.

BRÔ MC’s, o primeiro grupo de rap indígena do Brasil, subiu ao palco do Som da Concha para o show de encerramento com o público lotando as arquibancadas. Todo mundo queria ver o grupo indígena mais famoso do país, cantando em sua língua materna, o guarani, canções compostas por eles mesmos contando a realidade da sua aldeia, em Dourados

Bruno Veron, da etnia Kaiowá-Guarani, disse que é muito bom tocar em Mato Grosso do Sul, mesmo o grupo já tendo subido a grandes palcos e festivais. “É muito massa tocar no nosso Estado. Independentemente de a gente tocar em um evento grande, como o Rock’n’Rio, é uma honra para nós tocar no Som da Concha, daqui do nosso Estado. É muito massa estar trazendo esta realidade nossa da comunidade indígena de Dourados, da aldeia Jaguapiru-Bororó, para Campo Grande também, para eles poderem ver como é nossa realidade, nossa situação, trocar essas ideias num palco desses”.

Kelvin Peixoto, da etnia Kaiowá, tem consciência da representatividade do grupo: “É uma representatividade muito grande que nós do BRÔ MC’s temos em vários palcos onde nos apresentamos, temos uma responsabilidade, porque estamos levando o grito do povo indígena, principalmente guarani-kaiowá-terena, mas também de levar a cultura dos povos indígenas, para mostrar que os guarani-kaiowá existem, e todos esses problemas que acontecem com nosso povo a gente fala através da nossa arte. Por isso é importante para nós”.

Clemerson Veron, da etnia Guarani-Kaiowá, explicou como ocorre o processo de composição das músicas do grupo: “Quando a gente vai criar nossas músicas a gente manda nossas ideias um para o outro, a gente começa a escrever sobre um tema, aí cada um faz sua parte, e depois a gente junta tudo para ver onde vai encaixar o que. A gente discute sobre as ideias para as letras, a gente fala sobre a nossa realidade. Tudo isso a gente mistura o pensamento e forma essa música que o BRÔ MC’s cantam em cima do palco”.

Charlie Peixoto, etnia Kaiowá, lembrou do início do grupo e acredita que o vai chegar muito mais longe ainda por ser um grupo diferente. “A princípio, quando a gente começou a gente era moleque, não tínhamos a ideia que iríamos chegar tão longe onde a gente chegou. Hoje o BRÔ MC’s sobe em cima do palco do Rock’n’Rio mas eu creio que já estava escrito, por ser um grupo diferente. O BRÔ MC’s é isso, é um grupo de rap diferente, canta na sua língua, levando essa origem guarani-kaiowá e toda a nação indígena. Eu acredito que nós vamos chegar muito mais longe por ser um grupo diferente. Não é todo dia que você vê um grupo de indígenas cantando na sua língua, levando no rap a sua realidade na música”.

E se você quer conferir as próximas atrações do Som da Concha, vai ter que aguardar um pouquinho, porque no próximo domingo não vai ter show por conta das eleições. O Som da Concha volta no dia 06 de novembro, com Caio Mendes e Alex Cavalheri. Você não pode perder!

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