Contra fatos não há argumentos

Ainda que os presidentes da Câmara dos Deputados e do Banco Central teimem em atravancar a volta do Brasil ao mundo real, fatos recentes sinalizam a consistência e inexorabilidade desse processo em construção.

“Contra fatos não há argumentos.” Essa frase me remete, com uma dose de saudade, às falas (verdadeiras aulas) de Amigos muito queridos, como o Doutor Carmelino de Arruda Rezende, ex-presidente da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil de Mato Grosso do Sul. Mais que competente profissional, trata-se de um Amigo querido que, em minha juventude, nos anos de chumbo, foi um verdadeiro Mestre em Cidadania: em fins da década de 1970 (depois da implosão da candidatura vitoriosa do Doutor Plínio Barbosa Martins ao Senado Federal, em 1978, fraudada pela invencionice da sublegenda imposta pelo Pacote de Abril, a fim de dar sobrevida ao regime de 1964), a posse do Doutor Wilson Barbosa Martins à presidência da recém-criada OAB-MS e o lançamento de memoráveis campanhas pela democratização do país, ora em prol da Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, pela convocação da Assembleia Nacional Constituinte e a campanha inesquecível das Diretas-Já.

A frase ganha ainda maior relevância nestes tempos de pós-verdade (ou mistificação?), quando defensores do indefensável se acham no direito de impor uma absurda disputa de narrativas, mas o que está por trás é a acintosa negação da realidade. É imperativo informar às novas gerações que a disseminação de fakenews, por meio das corporações noticiosas pertencentes a poucas famiglias, é de sua responsabilidade, eis que os ‘bons moços’ surrupiaram cinicamente o manual de Joseph Goebbels (aquele que ensinou que a repetição de uma mentira tantas vezes acaba tornando-a ‘verdade’ perante os mal, ou melhor, desinformados) e o adotaram nas emboloradas redações pelo mundo afora, e depois da guerra fria a transformaram em dogma, presentes nos gabinetes acarpetados e, sobretudo, nos templos opulentos em que parasitas manipuladores da fé espalham mentiras e ódio, impunemente.

Mas vamos aos fatos. Apesar da torcida contra, as taxas de inflação estão baixando como consequência das iniciativas da equipe econômica do Presidente Lula. Ato contínuo, a pontuação de credibilidade do Brasil sobe um ‘degrau’, e depois de sete anos (justo os anos de má gestão dos golpistas!) retorna à categoria de confiança, para desgosto dos abutres do mer(d)cado e seus paus-mandados Roberto Campos Neto e Artur Lira (ou seria Eduardo Cunha Junior?). E as estatísticas referendam o retorno da confiança popular na gestão pública, com a adesão de mais de 600 mil ‘desalentados’ (pessoas desempregadas que já haviam perdido a vontade de procurar emprego), que pela primeira vez desde que a turma de Romero Jucá, Eduardo Cunha, Michel Temer e Moreira Franco deram o golpe em Dilma Rousseff e desmontaram todas as políticas de inclusão econômica, social e educacional.

Isso não é tudo: a política de distribuição de renda por meio de conjunto consistente de programas de habitação (a geração de renda com a oferta de empregos na construção e a inclusão habitacional em um país em que rentistas, verdadeiros latifundiários urbanos, mantêm nas alturas os valores dos aluguéis e loteamentos nas periferias das cidades), de qualificação e requalificação profissional, revigoramento do financiamento dos cursos universitários e técnicos de níveis médio e superior, além do fortalecimento de linhas de crédito ao setor produtivo, seja ele urbano ou rural, do micro ao macro, do produtor familiar às corporações industriais.

Que ironia… Enquanto o palerma inominável passou quatro anos no ócio (que é a oficina do diabo), protegendo milicianos e todo tipo de contraventores e fora de lei ou em suas matociatas de meia pataca, em menos de seis meses Lula não só desinfeta o serviço público civil e militar, livrando-nos do fascismo e todas as suas variantes, como revigora a estrutura estatal abrindo vagas nas carreiras de Estado, o que ajuda a acabar com o clientelismo coronelista (que nos dois desgovernos anteriores, do brimo e do inominável, até graúdos de pijama ganharam suas boquinhas, tirando a oportunidade dos jovens e de carreira assegurarem seu ganha-pão).

Deixemos de hipocrisia. Patriotismo não é bravata, e governar não é exclusividade de uma classe ou categoria profissional (ou até denominação religiosa, como tentaram fazer acreditar por meio de arremedos de sacerdotes com trejeitos de maus samaritanos). Em vez de promover a discórdia, açodar as desavenças, masturbar os endiabrados e fornicar os empedernidos, é hora de trabalhar, de arrumar a casa, de retomar o desenvolvimento de que o Brasil precisa, e merece. Até mesmo os ditos ‘empresários verde-amarelos’ já caíram na real e se deram conta de que só colhe quem semeia, e de quem semeia vento só pode colher tempestade.

Passou a hora da prevaricação, procrastinação, prostração e putrefação. Quem tiver contas com a Justiça, que as resolva com quem de direito. O governo tem que trabalhar, até porque não tem por missão controlar a consciência e o óio cego de ninguém, e muito menos as preferências libidinosas ou afetivas de quem quer que seja. Passaram seis anos de orgia, vilipendiando o patrimônio nacional, entregando as riquezas a verdadeiros bandidos (ou são o que os ‘madeireiros’, ‘garimpeiros’, ‘pescadores’, ‘fazendeiros’, grileiros, milicianos, traficantes, contrabandistas, sonegadores e jagunços que tiveram carta-branca para fazer de tudo, menos cumprir a lei?).

Sem arminhas, sem fakenews, sem terrorismo, sem ameaças, sem canalhice. A hora é de arregaçar as mangas e, com responsabilidade política, social e fiscal, dar passos certos na reconstrução nacional para que as atuais e as futuras gerações possam viver com dignidade, civilidade, harmonia e, sobretudo, paz o tempo que tiverem que existir sobre a face da Terra. Não é mais possível ver jovens na flor da idade, mulheres e pessoas que fazem opção de gênero, indígenas e afrodescendentes e moradores das periferias sendo vítimas da violência fomentada e retroalimentada pelo ódio e pela impunidade. A Vida é princípio de direitos e a ninguém cabe poder sobre ela, ainda mais se se declarar ‘de fé’.

*Ahmad Schabib Hany

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