Conheça cinco mitos que desafiam a jornada de quem tem Artrite Reumatoide

Longo caminho em busca do diagnóstico correto e do tratamento adequado é um dos desafios do paciente de Artrite Reumatoide (AR), doença que atinge cerca de 2 milhões de brasileiros em plena fase produtiva

Foto: Divulgação

Em outubro, o dia 12 marca a Conscientização da Artrite Reumatoide (AR), doença autoimune e crônica que afeta as articulações gerando dores fortes e que pode provocar desgaste ósseo, limitações físicas e até comprometimento psíquico como transtornos de ansiedade e depressão, ocasionados principalmente pelo fator incapacitante da doença. Conhecer melhor a jornada do paciente de AR no Brasil é importante para compreender os principais obstáculos enfrentados durante esse percurso desafiador e marcado pela dor. É assim que o paciente define a sua luta até ser diagnosticado e chegar ao tratamento adequado. Esse processo, que em alguns casos pode levar anos, acaba impactando fortemente a qualidade de vida de quem tem AR.

É importante estar atento aos principais sintomas para não demorar a procurar o médico. “Entre eles destacam-se: dores intensas, inchaço e vermelhidão nas articulações, especialmente nas mãos, e dificuldade em se mexer ao acordar, durando pelo menos uma hora. Os sintomas também podem aparecer separadamente”, afirma o reumatologista Thiago Ferreira da Silva. O especialista responsável pelo tratamento da AR é o reumatologista, peça fundamental na jornada do paciente, o que já derruba um dos mitos que rondam a doença, como o de que reumatologista cuida apenas de idosos. Outro mito a ser derrubado é de que a AR é doença de pessoas idosas. A prevalência da doença é de duas a três vezes maior nas mulheres e os primeiros sintomas costumam se manifestar entre os 30 e os 40 anos.

Esses mitos podem desafiar o paciente na busca pelo diagnóstico precoce, o tratamento adequado e a conquista por mais qualidade de vida, sem dor. Conheça mais alguns deles:

“DOR TODO MUNDO TEM, É NORMAL”

Achar que é normal e acostumar-se com a dor, é o sintoma mais comum e latente da AR, sendo um dos maiores mitos. “Isso acontece tanto com quem já teve o diagnóstico, quanto com quem ainda não foi diagnosticado. Além disso, conviver com a dor é deixar de buscar qualidade vida arriscando a liberdade de movimento”, diz Dr. Thiago. A busca por mais vida com qualidade para o paciente também envolve o

médico, conhecendo o que há de mais inovador para tratar a doença e contribuindo para acelerar o diagnóstico.

“REUMATOLOGISTA É MÉDICO DE IDOSO/A”

A percepção de que a AR afetaria exclusivamente idosos é um dos mitos frequentes sobre a doença contribuindo para o atraso no diagnóstico. Os primeiros sintomas costumam se manifestar em plena idade produtiva, ameaçando a realização das atividades diárias e a vida profissional e social do paciente.

AR É UMA DOENÇA DE “JUNTAS”

A Artrite Reumatoide é uma doença sistêmica, ou seja, ela afeta todo o corpo humano, ao invés de apenas um órgão ou região, e causa efeitos variados. Ela também é autoimune e outras doenças desencadeadas pelo mesmo mecanismo são mais frequentes nestes pacientes quando comparados com quem não tem a doença. Por isso, elas também são associadas a algumas comorbidades”, esclarece o especialista.

Por exemplo, não é raro o paciente ter artrite reumatoide e tireoidite de Hashimoto. Outra complicação comum em pacientes com artrite reumatoide, são doenças que estão relacionadas a deposição de placas de gordura (colesterol) nos vasos sanguíneos. Assim, doença coronariana, aterosclerose nas artérias carótidas, doença vascular periférica e acidente vascular cerebral (AVC), em especial o tipo isquêmico, podem ocorrer. Outras condições mais frequentes em quem tem artrite reumatoide são insuficiência cardíaca congestiva, diabetes mellitus tipo 2, osteoporose e distúrbio dos lipídios (colesterol, HDL e triglicerídeos).

“A presença de comorbidades nos pacientes com artrite reumatoide é importante pois podem aumentar ainda mais a chance de um infarto do miocárdio e/ou AVC, com consequente aumento da incapacidade e mortalidade, caso estas doenças concomitantes não sejam reconhecidas e tratadas de forma adequada. Por isso, a abordagem multidisciplinar é fundamental”, complementa o especialista.

AR NÃO TEM A VER COM SAÚDE MENTAL

O afastamento das atividades sociais, a interrupção das práticas esportivas e o abalo na vida profissional, podem impactar também a saúde mental dessas pessoas. Essas informações corroboram com os achados científicos que reforçam a ligação entre a enfermidade e quadros depressivos, por exemplo. Estudos revelam que a prevalência de transtornos depressivos em portadores da doença varia entre 13% e 47%, de acordo com o tamanho e as características das populações analisadas.

Alguns trabalhos apontam que a depressão teria um efeito direto sobre as citocinas, substâncias que estimulam o processo inflamatório relacionado à artrite reumatoide. Um artigo recente, publicado no Arthritis Care & Research diz que 1/3 dos adultos americanos com artrite, com mais de 45 anos de idade, relata ter ansiedade ou depressão. O trabalho destaca que a ansiedade é quase duas vezes mais comum que a depressão entre os pacientes artríticos. “Por isso estimular o cuidado multidisciplinar do paciente reumático, com grande atenção à saúde mental, é muito importante. Vale destacar que o transtorno mental também pode interferir na adesão ao tratamento, agravando o quadro”, afirma Dr. Thiago. Também há grande impacto no trabalho. As fortes dores e a perda de autonomia interferem fortemente na vida profissional: um terço das pessoas com AR tem afastamento do trabalho nos primeiros 5 anos.

“TENHO MEDO DE USAR MEDICAMENTO BIOLÓGICO”

De acordo com especialistas, o tratamento com imunobiológicos é um avanço no campo da saúde para tratar as doenças autoimunes, podendo trazer mais qualidade de vida ao paciente. Em sua maioria, a administração é feita de forma segura por via intravenosa ou subcutânea. O paciente recebe a medicação em ambiente ambulatorial e pode continuar as atividades do seu dia a dia. “Podemos concluir que, o diagnóstico tardio é prejudicial porque adia, por consequência, o início do tratamento, o que pode impactar fortemente o cotidiano do paciente, desde a realização das atividades mais básicas como se alimentar, se higienizar, trabalhar, até a convivência com os amigos”, finaliza o reumatologista.

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