Avião com 30 repatriados da Faixa de Gaza chega a Brasília

Aeronave da FAB pousou às 6h53 na Base Aérea. O grupo resgatado é composto por 14 crianças, 11 mulheres e cinco homens. No total, a operação já repatriou 1.555 pessoas, entre brasileiros e parentes

Em mais uma etapa da Operação Voltando em Paz, uma aeronave KC-30 da Força Aérea Brasileira (FAB) aterrissou na Base Aérea de Brasília neste sábado (23), às 6h53 (de Brasília). O voo trazendo 16 brasileiros e binacionais e 14 familiares palestinos resgatados de Gaza havia decolado às 21h55 (horário local, 16h55 de Brasília) desta sexta (22) do Aeroporto do Cairo, no Egito. Dos 30 repatriados, 14 são crianças, 11 mulheres e cinco homens.

Desembarque dos repatriados da Faixa de Gaza na Base Aérea de Brasília

Desembarque dos repatriados da Faixa de Gaza na Base Aérea de Brasília (Foto: GovBR/FAB)

Dois homens que chegaram a cruzar a fronteira na quinta-feira não embarcaram no avião da FAB: um senhor de 73 anos, por razões médicas, e outro que decidiu não viajar.

Ao descer da aeronave em Brasília, Laila Shahin, 50 anos, expressou o alívio dela e dos demais repatriados, destacando o suporte oferecido pela representação brasileira em Ramala. “O Brasil é o país que acompanhou a gente todo tempo tentando proteger, tentando acolher. Deram de tudo que podiam. Graças a Deus. Só podemos agradecer. O escritório de Ramala acompanhou a gente em tudo”, afirmou.

Já Marwan Saud Abu Sada falou sobre o drama vivido pela população em meio à guerra. “A situação é muito difícil. Não há lugar seguro em Gaza. As crianças estão sempre com medo”, afirmou, destacando a gratidão por chegar ao Brasil. “Eu me sinto muito bem no Brasil, agradecido. Todas as pessoas estão nos tratando bem. Muito obrigado ao Brasil e ao presidente Lula.”

A major Christiane Loureiro, médica da FAB, detalhou a importância do acolhimento aos repatriados antes mesmo do embarque. “Nós tivemos a oportunidade de ficar no mesmo hotel dos repatriados e dar esse acolhimento tanto para as crianças quanto para os adultos. Isso foi muito importante porque conseguimos atender algumas demandas psicológicas, algumas demandas de saúde que conseguimos interferir antes do voo. Isso contribuiu para que tivéssemos menos intercorrências durante o trajeto”, disse.

Desde o início do conflito no Oriente Médio, em 7 de outubro, este é o 12º voo de repatriação coordenado pelo Governo Federal. Com esses 30, a operação chega a um total de 1.555 pessoas resgatadas, entre brasileiros e parentes que estavam em Israel, em Gaza e na região da Cisjordânia. As escalas trouxeram também 53 animais domésticos.

Alívio – Depois que cruzou a fronteira e fez os trâmites de imigração, o grupo foi recepcionado pela equipe da Embaixada Brasileira no Egito e conduzido até o Cairo, uma viagem de cerca de seis horas. Na capital egípcia, foram hospedados em um hotel e tiveram as primeiras refeições longe da guerra em semanas. As crianças se encantaram com enfeites e decorações natalinas. Nesta sexta, todos foram conduzidos em veículos locados pela embaixada até o aeroporto do Cairo, para o embarque no voo da FAB.

Articulação – Esta é a terceira operação de repatriação específica com brasileiros que estavam em Gaza, um processo que exige articulação mais complexa. Isso porque a única fronteira para a saída de civis da zona de guerra é no sul do enclave, em Rafah, na divisa com o Egito. Cada lista precisa ser aprovada por autoridades de Israel, do Egito e da Palestina, em um trabalho protagonizado pelas equipes das embaixadas brasileiras em Tel Aviv e no Cairo e pela representação em Ramala. Somando as três operações, já são 141 brasileiros e parentes próximos resgatados de Gaza. Segundo levantamento da representação brasileira em Ramala, ainda há 23 aguardando aprovação das autoridades para poderem cruzar a fronteira.

Purificadores – O voo que saiu do Brasil para resgatar os brasileiros levou na bagagem seis toneladas em equipamentos de ajuda humanitária. São 150 purificadores de água portáteis, equipados com “kit” voltaico (painel solar, inversor veicular e controlador de carga) para ampliar a autonomia de energia.

Esta nova doação humanitária brasileira, a quarta desde o início do conflito no Oriente Médio, soma-se aos esforços internacionais de assistência aos afetados pelo conflito naquela área. A doação humanitária foi entregue aos cuidados do Crescente Vermelho Egípcio, organização responsável por fazer o transporte e entrega dos insumos que entram em Gaza.

Os purificadores têm capacidade aproximada de produção, por unidade, de mais de cinco mil litros de água por dia. Além dos equipamentos e do “kit” voltaico, foram enviados itens de reposição suficientes para o funcionamento adequado dos equipamentos pelo período adicional de um ano.

Segundo Alessandro Candeas, embaixador da representação brasileira em Ramala, a escassez de água potável na Faixa de Gaza é crítica, especialmente na área norte, o que faz com que as pessoas apelem com cada vez mais frequência a fontes salobras ou poluídas. Em relatório recente, a ONU advertiu que a situação pode resultar na disseminação de doenças, como diarreia e até o cólera. “O acesso a quantidades suficientes de água potável é questão de vida ou morte, e as crianças em Gaza mal têm uma gota para beber”, disse a diretora-executiva do UNICEF, Catherine Russell.

A iniciativa é coordenada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores (MRE), com apoio do Ministério da Defesa, do Ministério da Justiça e da Segurança Pública, da Receita Federal, da Força Aérea Brasileira, da Polícia Rodoviária Federal, da Embaixada do Brasil no Cairo e do Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS).

Histórico – No último dia 12 de dezembro, uma aeronave KC-390, fabricada pela Embraer, aterrissou no Aeroporto de Al Arish, no Egito, com 11 toneladas de alimentos não perecíveis.

Em 18 de outubro, um VC-2 da Presidência da República pousou no Egito com equipamentos de filtragem de água e kits de saúde. A carga continha 40 purificadores de água com capacidade de tratar mais de 220 mil litros por dia e kits de saúde para atender até 3 mil pessoas ao longo de um mês, composto por medicamentos e insumos, como anti-inflamatórios, analgésicos, antibióticos, além de luvas e seringas. Ao todo, cada kit continha um total de 267 quilos de materiais.

Em 2 de novembro, um outro VC-2 da Presidência da República pousou no Aeroporto Internacional de Al-Arish, Egito, levando 1,5 tonelada de alimentos – arroz, açúcar, derivados de milho e leite – destinados à população da Faixa de Gaza, oferecidos pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), em nova ação de ajuda humanitária.

Resposta imediata – O mundo ainda assimilava o choque dos atentados cometidos contra Israel no sábado, 7 de outubro, quando o Governo do Brasil deu início à mobilização para estruturar a retirada de brasileiros da zona de conflito.

No mesmo dia dos ataques, foi montado um gabinete de crise e, uma vez acionadas, as embaixadas do Brasil em Tel Aviv (Israel), do Cairo (Egito) e o Escritório de Representação em Ramala (na Palestina) deram início à operação diplomática para identificar quem eram e onde estavam os brasileiros na região conflagrada. Em paralelo, a FAB era acionada para garantir que as aeronaves pudessem resgatar os cidadãos nacionais no mais breve prazo possível.

Por meio de formulário online, cerca de 2,7 mil manifestaram interesse em retornar ao Brasil de Israel. Aqueles que não conseguiram lugares em voos de companhias aéreas privadas passaram a ser atendidos pela Operação Voltando em Paz, seguindo requisitos de prioridade para brasileiros sem passagens, não residentes, gestantes, idosos, mulheres e crianças. Especialistas do Ministério da Agricultura foram envolvidos para garantir o repatriamento de animais domésticos. A operação também atuou para atender brasileiros na região da Cisjordânia e em Gaza.

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