Projeto de Extensão da PUC-Campinas resulta no livro infantil “Rolê”: caracol que ensina sobre empatia, respeito e superação de preconceitos

Um projeto de Extensão que promove a escuta atenta e qualificada de populações em situação de vulnerabilidade, como pessoas em situação de rua, ganhou um desdobramento sensível e potente: o livro infantil “Rolê”. Lançado pela Editora Asinha, selo da Editora Ases da Literatura, a obra é escrita pela Profa. Dra. Tatiana Slonczewski, Docente da Faculdade de Psicologia da PUC-Campinas, em coautoria com a egressa do Curso de Psicologia Karineh Suave e a estudante de graduação Maria Laura Tavares Queiroz de Almeida, do mesmo Curso.

Foto: Divulgação

O livro conta a história de Rolê, um pequeno caracol que coleciona objetos simples, enfrenta desafios por ser diferente e descobre o poder da amizade, do respeito, da empatia e do acolhimento. Com delicadeza, a narrativa convida as crianças a enxergarem o mundo com mais gentileza e compreensão, abordando temas como superação de preconceitos e a importância da garantia de direitos.

A inspiração para a história vem diretamente da experiência da Profa. Dra. Tatiana Slonczewski e de suas alunas no “Projeto Varanda”, uma iniciativa de promoção de saúde mental do Programa de Desenvolvimento Humano e Integral: Levanta-te e Anda (PDHI:LA), da PUC-Campinas.

Desde criança sou alguém que gosta muito de ler. Literatura infantil sempre fez parte da minha vida e há tempos eu tinha o sonho de escrever um livro infantil. E esse livro em especial, surgiu muito conectado ao trabalho de Extensão que desenvolvemos. Pensamos muito em gerar uma contribuição para diminuir a invisibilidade das pessoas em situação de rua, de levar esse conhecimento mais sensível para o máximo de pessoas que a gente pudesse, ressaltando a importância de estarmos atentos ao mundo ao nosso redor, de escutarmos as pessoas que encontramos em distintas situações de vulnerabilidade, em seus diferentes cenários de vida”, explicou.

O projeto Varanda é focado na promoção da saúde mental. “Varanda porque a gente entende que a Varanda é a extensão da casa pra rua. E um projeto de saúde mental com esse nome representa a extensão da Universidade para a rua e suas vulnerabilidades. O trabalho tem três eixos. Um deles é a escuta ativa com populações em situação de rua; Temos também uma iniciativa chamada “Ninho’, que são as iniciativas relacionadas à saúde mental com acolhimento, quando envolve famílias e especialmente as famílias que têm crianças em situação de vulnerabilidade, ou contextos que tratem de famílias nessa situação e a terceira, a “Alma Lavada”, que são oficinas interdisciplinares para trabalhar convívio, promoção de saúde mental e também a produção de produtos de limpeza doméstica sustentáveis”.

Por que um Caracol?

A observação atenta da vida das pessoas que vivem nas ruas, seu movimento constante, a forma como carregam seus poucos pertences que se tornam referências de seu território, foi o ponto de partida para a metáfora do caracol que carrega a casa nas costas e coleciona pedacinhos do mundo.

A inspiração para a história de Rolê, o caracol que carrega seu mundo, veio diretamente da experiência das autoras nas ruas. Ao acompanhar as equipes que trabalham com a população em situação de rua, elas observaram como as pessoas “fluem nos espaços”. Essa dinâmica de movimento e a forma como “cada uma dessas pessoas às vezes carrega tudo que tem nesse trânsito pela cidade” se transformaram na metáfora central do caracol que carrega sua casa nas costas. A Profa. Tatiana explicou que o objetivo foi “trazer a ideia de que esse animalzinho que coleta e que carrega o mundo nas costas pode ter alguma similaridade com a realidade de quem precisa coletar e carregar a vida aí nas costas pelos caminhos difíceis da cidade”. A sensibilidade e a poesia encontradas na obra também foram inspiradas nos escritos de Manoel de Barros. O livro conta com ilustrações da artista Mari Holtz.

Conversando com a criança de forma respeitosa

Um dos grandes méritos de “Rolê” é abordar temas complexos para o público infantil. A Professora ressaltou a importância de não subestimar a capacidade das crianças de compreenderem as realidades ao seu redor. A Profa. Dra. Tatiana Slonczewski enfatizou que, ao escrever para crianças, é fundamental não menosprezar sua capacidade de entendimento e evitar o que ela chama de “uma linguagem bobinha”. Para as autoras, a prioridade foi “conversar com elas de uma forma respeitosa, sempre, e se fazer entender, ter um desejo de comunicação”.

A Professora explicou que o livro se propõe a “trazer para o universo da criança debates que são superimportantes quanto a direitos humanos, empatia, sensibilidade, respeito, mas de uma forma que seja convidativa a fazer essa conversa”. A intenção é falar de situações difíceis “que a criança reconhece, sabe que existem em algum nível”, garantindo que a abordagem “não traga dor”, mas abra espaço para o diálogo. Também destacou que a função educativa em relação à população em situação de rua e suas dificuldades é fundamental: “Existem muitas concepções erradas em torno desta realidade. Muito preconceito, invisibilidade, dificuldade de lidar. E quanto antes a gente puder introduzir o assunto para que as famílias conversem sobre isso, reduzindo os estigmas, melhor poderemos lidar com esse público. Existem muitas situações difíceis que presenciamos, e se a gente as colocar numa linguagem que se torne acessível às crianças e confiarmos que as crianças, que são muito observadoras, inteligentes, curiosas, atentas ao mundo, poderão compreender, então abriremos um espaço para o diálogo”, disse. “É deixar disponível a ideia de que é possível conversar sobre isso. Não precisamos fingir que não vemos o que é difícil de se ver. A realidade precisa que a gente tenha coragem de olhar para ela, conversar sobre ela e, sobretudo, transformar nosso olhar e a relação que temos com o outro”, destacou.

A força da coautoria e o apoio da Universidade

A colaboração com a egressa Karineh Suave, que iniciou o trabalho como aluna voluntária, e a discente Maria Almeida, que trouxe uma importante contribuição artística e de identidade visual, foi essencial para a concretização do livro. A publicação de “Rolê” pela Editora Asinha surgiu após a obra estar pronta, a partir de um convite para apresentação do material. A recepção foi extremamente positiva.

A Profa. Dra. Tatiana Slonczewski faz questão de salientar o papel crucial da PUC-Campinas em todo o processo. “Eu acho que o apoio da Universidade foi essencial. A possibilidade de estar vinculado a um Programa Institucional, promovendo a Extensão dentro da Universidade, já promove uma série de oportunidades de desenvolver trabalhos interessantes. Eu tive voluntários, aluno bolsista. E é por conta desse suporte que eu consigo realizar, que tenho contato com esses públicos, suporte para realizar minhas ações. Esse apoio é essencial, dele deriva todo o suporte para a criatividade poder fluir e para o livro nascer. Nós inclusive trazemos um agradecimento especial à Universidade e ao Programa no livro”, relatou. Para ela, o livro “dialoga, traz para o universo infantil o diálogo de valores que a Universidade preconiza também. Discute o papel da fraternidade, do compromisso de a gente olhar para a sociedade e buscar promover condições mais respeitosas com aquilo que é diverso, com possibilidades de vida diferentes das nossas, de se relacionar com públicos que não têm acesso ao meio acadêmico e que nem por isso tem menos valor, menos sabedoria. Nós encontramos sabedoria nesses contextos e promovemos o desenvolvimento humano e integral, promovendo uma sociedade mais justa”.

O livro “Rolê” é mais um exemplo de como o conhecimento produzido na PUC-Campinas transcende os muros da academia, transformando Pesquisa e Extensão em ferramentas de impacto social e educação para a cidadania, começando pelos pequenos leitores. As autoras estão em vias de receber os exemplares físicos do livro e planejam em breve realizar eventos de lançamento para apresentar a obra ao público.

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