Suspense digital em tempos de Covid

Jornalista Ariosto Mesquita – Foto: Acervo Pessoal

“Kimi”, o novo filme do genial Steven Soderbergh pode ser compreendido como uma obra de suspense digital em tempos de covid. A obra faz pinceladas sobre paranoias do confinamento, do trabalho em home office, do movimento me too, e fará você pensar duas vezes antes de voltar a chamar e bater um papo com sua “Alexa” em casa. “Kimi” também faz críticas à conglomerados tecnológicos que, por interesses financeiros, acabam tratando com naturalidade discursos de ódio, de violência e de negacionismo.

Eu assisti recentemente (18.02.22) e confesso que demorei a entender que raios de profissão tinha a nossa protagonista Angela Childs (interpretada por Zoë Kravitz – filha do guitarrista Lenny Kravitz), que sofre de agorafobia, nitidamente agravada pela pandemia. E neste aspecto, ponto para o roteiro, que contextualiza o trabalho contemporâneo (ou ‘novos trabalhos’) de modo muito competente. Angela labuta em home office como intérprete de transmissão de voz de uma assistente virtual (chamada Kimi), ou seja, pontua as solicitações não atendidas, colaborando para o aperfeiçoamento da inteligência artificial. Oportunidade para abrir discussão sobre privacidade e insegurança. Admito que me identifiquei em várias situações que se tornaram habituais em nosso cotidiano nos últimos dois anos.

Mas além de tratar de temas tão atuais, “Kimi” carrega um delicioso plus de nostalgia ao homenagear o mestre Alfred Hitchcock, com takes e travellings claramente inspirados em “Janela Indiscreta”. No âmbito comportamental, a protagonista engrossa a fila das abordagens psicológicas do cinema de suspense que vão desde o clássico hitchcockiano “Psicose” ao recente “A Mulher na Janela”, de Joe Wright.

Negativamente minha observação é sobre a introdução arrastada. Tipo “demora um pouco pra dar liga”. Mas este é um ponto de vista. Talvez este alongamento tenha sido necessário para não deixar ponto solto.

Não entro no mérito se o filme é bom ou ruim. Certamente teremos várias e diversas opiniões, e isso é bom. Mas uma coisa é certa. É um prato cheio para um bom debate. “Kimi” foi lançado mundialmente dia 10 de fevereiro e pode ser conferido na HBO Max.

(*) É jornalista, mestre em produção e gestão agroindustrial e cinéfilo – ariostomesquita@gmail.com

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