Disléxicos são criativos e podem levar uma vida normal se houver suporte especializado desde cedo

Dra. Maria José Martins Maldonado – Foto: Arquivo Pessoal

Dislexia não tem nada a ver com Q.I. (quociente de inteligência) mais baixo. É um distúrbio genético que dificulta o aprendizado e a realização da leitura e da escrita. O cérebro, por razões ainda não muito bem esclarecidas, tem dificuldade para encadear as letras e formar as palavras, e não relaciona direito os sons às sílabas formadas. Como sintoma, a pessoa começa a trocar a ordem de certas letras ao ler e escrever.

Disléxicos se atrapalham com as palavras, mas costumam ir bem nos cálculos, por exemplo. O comportamento varia também. Há disléxicos desorganizados e outros metódicos; existem aqueles falantes e outros muito tímidos.

Segundo a neuropediatra Dra. Maria José Martins Maldonado, a disfunção afeta preponderantemente o sexo masculino: são três meninos para cada menina. “Existem diversos graus de intensidade e o diagnóstico costuma ocorrer na infância, quando a criança está aprendendo a ler e escrever. Não é raro, porém, que casos mais leves sejam surpreendidos na adolescência ou fase adulta”, explica.

Sintomas

Na linguagem oral:

– Atraso no desenvolvimento da fala;

– Problemas para formar palavras de forma correta, como trocar a ordem dos sons (popica em vez de pipoca) e confundir palavras semelhantes (umidade / humanidade);

– Erros de pronúncia, incluindo trocas, omissões, substituições, adições e misturas de fonemas;

– Dificuldade para nomear letras, números e cores;

– Dificuldade em atividades de aliteração e rima;

– Dificuldade para se expressar de forma clara.

Na leitura:

– Dificuldade para decodificar palavras;

– Erros no reconhecimento de palavras, mesmo as mais frequentes;

– Leitura oral devagar e incorreta. Pouca fluência, com inadequações de ritmo e entonação, em relação ao esperado para a idade e a escolaridade;

– Compreensão de texto prejudicada como consequência da dificuldade de decodificação;

– Vocabulário reduzido.

Na escrita:

– Erros de soletração e ortografia, mesmo nas palavras mais frequentes;

– Omissões, substituições e inversões de letras e/ou sílabas;

– Dificuldade na produção textual, com velocidade abaixo do esperado para a idade e a escolaridade.

A prevenção

Por se tratar de um distúrbio genético, não há como prevenir a dislexia. A saída é detectá-la precocemente para assegurar o aprendizado da criança e sua qualidade de vida.

O diagnóstico

Ele é feito por neurologistas, fonoaudiólogos e psicólogos geralmente entre os 8 e os 9 anos de idade. No consultório, o especialista diferencia a dislexia de outros transtornos, como o déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), além de descartar problemas emocionais ou neurológicos que interfiram na leitura e na escrita.

“Embora a dislexia não tenha cura, é possível levar uma vida normal se houver suporte especializado desde cedo. O tratamento com fonoaudiólogo e psicólogo permite criar estratégias para superar as dificuldades com as palavras e outras eventuais barreiras no dia a dia. A terapia também é importante para dirimir possíveis crises de autoestima”, destaca a neuropediatra.

Como a criatividade é um traço marcante entre os disléxicos, aconselha-se os pais a estimular a criança a desenhar, pintar, tocar instrumentos musicais e praticar esportes.  Com o avanço da tecnologia, o desenvolvimento dos disléxicos ganhou bons aliados. Alguns softwares e até videogames específicos treinam as habilidades na leitura e escrita e audiobooks estimulam a associação do som das palavras às letras correspondentes.

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