Brasília (DF) – O dia 10 de maio é uma data que chama atenção para uma das principais doenças autoimunes já conhecidas: é o Dia Internacional de Atenção à Pessoa com Lúpus. Cerca de cinco milhões de pessoas em todo o mundo possuem algum tipo desta condição, segundo dados da Fundação Lúpus da América (Lupus Foundation of America). Especialistas que integram a Rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) desmistificam a condição e apresentam as principais formas de tratamento, garantidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que ampliam a qualidade de vida dos pacientes.

Sintomas do Lúpus são, muitas vezes, confundidos com os de outras doenças. Por isso, a avaliação clínica criteriosa é o caminho para o diagnóstico correto e a adequada intervenção. – Foto: Divulgação
Como essa doença se manifesta?
O lúpus ocorre quando o sistema imunológico ataca os próprios tecidos e órgãos do corpo. Segundo Luiz Barbosa, reumatologista do Hospital Universitário Júlio Müller, da Universidade Federal de Mato Grosso (HUJM-UFMT). “Existem diversos tipos de lúpus, com apresentações muito diferentes entre si: há formas predominantemente cutâneas, outras que afetam articulações, rins, sangue, cérebro, entre outros órgãos. Essa complexidade torna o lúpus uma doença desafiadora tanto para quem convive com ela quanto para quem precisa reconhecê-la e tratá-la”, explica.
Existem, então, dois tipos principais de lúpus mencionados pelo especialista: o cutâneo, caracterizado por lesões na pele, como manchas avermelhadas e áreas de despigmentação, muitas vezes provocadas pela exposição solar. Além disso, o couro cabeludo pode ser afetado, levando à perda de cabelo. Já o lúpus sistêmico, mais abrangente, pode gerar uma série de sintomas, como dores articulares, lesões na pele, aumento da pressão arterial, problemas renais, tosse, dor torácica, convulsões, com destaque para a fadiga, que é um sintoma comum.
Os sinais são alertas para a busca pela avaliação clínica que contará com exames de sangue e de imagem dos órgãos para o diagnóstico. “O lúpus não é uma sentença. É um desafio real que exige empoderamento, conhecimento e acompanhamento especializado. Mas não significa fim de planos, de trabalho, de estudo ou de maternidade”, destaca Luiz.
A paciente do HUJM-UFMT, Maria Aparecida Ribeiro, de 55 anos, é um exemplo de quem convive com a doença. Ela teve o diagnóstico em 2006 e vem tratando as manchas que começaram no rosto e se espalharam pelo corpo, além da queda de cabelo. Esses sintomas pioraram durante a pandemia de covid-19, mas ela tem seguido seu acompanhamento médico no Hospital com otimismo: “Eu sou estou muito confiante. Faço tratamento com os melhores profissionais do estado”, afirmou.
Possíveis causas
O lúpus eritematoso sistêmico, como é cientificamente reconhecido, é causado por uma combinação de fatores genéticos e ambientais, conforme explica o reumatologista Márcio Reis, chefe do Serviço de Reumatologia do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS). Embora os gatilhos ambientais ainda não sejam totalmente definidos, o tabagismo, a exposição aos raios ultravioleta do sol e as infecções virais podem contribuir para o desenvolvimento da doença.
O lúpus, indica o médico, pode afetar qualquer pessoa e em qualquer idade, mas a incidência maior tem sido observada em mulheres jovens, entre 18 e 40 anos, e tende a se manifestar de forma mais grave em pessoas pretas e asiáticas. Segundo o especialista, o mais importante “é o reconhecimento precoce dos sintomas e o início imediato do tratamento para evitar danos permanentes aos órgãos”.
Tratamento para o Lúpus
Apesar de não ter cura, o lúpus pode ser controlado com acompanhamento contínuo. O tratamento inclui medidas medicamentosas, que variam de acordo com os órgãos atingidos, e orientações para evitar a exposição solar, manter uma alimentação saudável, praticar atividade física (quando possível) e abandonar o tabagismo.
Isso também vale para a prevenção que, embora não haja uma forma específica, envolve um estilo de vida que contemple bons hábitos para a saúde física e mental. “O importante no tratamento é a disciplina de ir às consultas, fazer os exames, tomar a medicação corretamente. Entender que é uma doença multifatorial e que precisa tanto dos medicamentos quanto dos cuidados com a rotina”, destaca Márcio Reis.
Também sobre o tratamento, o médico do HUJM-UFMT Luiz Barbosa acrescenta que a estratégia medicamentosa pode incluir anti-inflamatórios, imunossupressores, medicamentos biológicos e, mais recentemente, o uso de células geneticamente modificadas em laboratório, como a terapia CAR-T Cell. Além disso, a vitamina D tem sido uma importante substância adjuvante (que melhora o desempenho dos outros medicamentos). A abordagem terapêutica deve ser personalizada, com ajustes conforme a evolução da doença, que passa por fases de atividade e remissão. O médico enfatiza a necessidade de levar em conta a particularidade de cada paciente para garantir o melhor controle dos sintomas e a qualidade de vida.