Em um tempo em que a pressa urbana nos desconecta do essencial, o artista Guilherme Garboso lança, no dia 1º de agosto, o projeto Roçando o Urbanismo, uma obra sonora contínua de 30 minutos que convida o público a ouvir o mundo “pelo lado de dentro”.

Foto: Divulgação
Longe da estrutura convencional de um álbum musical, a proposta é um fluxo ininterrupto de palavras, sons e sensações — uma experiência imersiva que combina poesia falada, crítica social e ambientações sonoras, sem faixas, sem pausas, como quem atravessa uma cidade que nunca dorme.
“Quis construir um trajeto sonoro onde cada trecho empurra o próximo, como se a cidade estivesse colapsando enquanto a gente escuta”, afirma Garboso.
As letras que compõem a obra — escritas como peças literárias independentes — também serão disponibilizadas com minutagem indicativa para estudo ou curadoria editorial.
Ao longo da jornada, Roçando o Urbanismo percorre contrastes profundos entre cidade e campo, velocidade e pausa, concreto e palha, buzina e silêncio. O ouvinte é conduzido por uma dramaturgia invisível, onde personagens surgem, falam com sotaque, desafiam cortinas com portas e entregam arte em um “olá de palha”.
Do protesto ao afeto — e de volta ao colapso urbano
A narrativa se desenrola como um ciclo: começa no caos urbano — barulhos de motor, buzinas, estresse e poluição — e caminha em direção ao campo, onde a fala desacelera, o afeto reaparece e a vida volta a respirar. Mas o retorno ao colapso é inevitável: a obra culmina com a amargura da modernidade e a despersonalização dos “urbanoides”, indivíduos que perderam o nome, o espaço e a própria humanidade.
“A cidade grita o tempo todo. E muitas vezes a gente grita junto, sem nem perceber”, comenta o artista.
Em um dos trechos mais provocativos, o embate entre o urbano e o rural ganha voz por meio da linguagem: “falo porta”, diz o personagem com o tradicional sotaque do interior, afirmando sua identidade contra quem prefere “cortinas para se tapar”.
“A forma como a gente fala carrega muita verdade. O sotaque é uma armadura contra o apagamento cultural”, pontua Garboso.

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Modernidade, ironia e saturação
Nos minutos finais, a obra assume um tom ácido. Um micro-ondas é exaltado por sua praticidade — até que o protagonista revela: “eu não tenho e nunca tive”. A modernidade vira promessa vazia.
“A gente adora o que nem tem. A tecnologia virou quase uma religião — mesmo quando não nos serve”, ironiza o autor.
O desfecho é amargo. A superpopulação e a perda de identidade se traduzem em versos como: “Você agora já não é mais filho único”. O termo “urbanoide” surge para nomear o que sobra quando o humano se dilui na massa.
“O urbanoide é o que resta quando a cidade suga tudo. É o corpo sem nome, o morador sem lugar”, conclui Garboso.
Mais do que uma produção musical, Roçando o Urbanismo é um manifesto artístico que questiona o que chamamos de progresso — e nos convida a reconectar com aquilo que ainda pulsa, ainda fala, ainda respira.
Roçando o Urbanismo pode ser vivenciado em diferentes formatos:
- Concerto Sonorocom a execução ao vivo da obra (improvisos e experimentalismo)
- Apresentação sensorialcom trilha original e estímulos olfativos;
- Instalação sonoraem ambientes expositivos, acompanhada por obras visuais que enriquecem a narrativa;
- Audições dirigidas e bate-papos educativos com estudantes, educadores, artistas e produtores;
- Disponível nas plataformas digitais em 1º de agosto – acompanhe pelo Instagram: @guilhermegarboso
Sobre o artista:
Guilherme Garboso iniciou sua trajetória como compositor em 2000 e participou da primeira edição do Araraquara Rock, em 2002, com composições autorais. É integrante do coletivo Ecompor, com o qual cria composições coletivas. Também é o autor de trilhas sonoras para peças teatrais, contações de histórias e documentários infantis no projeto EnCantar Histórias de Infância, além de compor para o projeto de música eletrônica/experimental Cabeção Cansado.
Com influências de Djavan, Sérgio Sampaio, Ivan Lins e Caetano Veloso, já lançou os singles: Veneno Perfume (2020); Custos Do Amar (2022); Paraíso Ostentação feat William Chacal (2023); e o álbum EU ALI – Ao vivo (2024). Neste ano, dividiu o palco com Ivan Lins no Festival Show Case (Sons, Vozes e Versos), do SESI de Jaú, e mantém o projeto Celular Sessions no Instagram (@guilhermegarboso) e YouTube.
Artista da palavra, da performance e da escuta crítica, Garboso propõe obras híbridas que unem oralidade regional e crítica urbana em narrativas sensíveis e provocativas.