COP30 avança no reconhecimento da biodiversidade como elemento fundamental para enfrentar crise climática

IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas acompanhou as discussões sobre Sinergias entre as Convenções do Rio

Entre os destaques da COP30 – Conferência das Partes sobre Clima, recém-concluída em Belém (PA), ficou evidente o papel fundamental da conservação da biodiversidade para combater a crise climática. Um dos indicativos disso foi o resultado dos debates sobre as sinergias entre as convenções da Rio92 (Clima, Biodiversidade e Desertificação) defendidas por representantes da sociedade civil, pesquisadores, cientistas e negociadores.

O maior corredor florestal restaurado na Mata Atlântica com 2,4 milhões de árvores, em 12 km, localizado na região do Pontal do Paranapanema, no oeste paulista. – Crédito: Laurie Hedges

Para recordar, a Rio92 foi organizada pela ONU, por meio de seu Secretariado da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), em parceria com o governo do Brasil. Dessa conferência nasceram três Convenções que moldaram as políticas ambientais globais nas últimas três décadas – a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), a Convenção da Diversidade Biológica (CDB) e a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD). Dessas convenções, derivaram suas próprias Conferências das Partes, as COPs.

A aceleração da implementação das metas globais para o enfrentamento às mudanças climáticas só será possível com o alinhamento entre as convenções do clima, da biodiversidade e da desertificação, já que não estamos apenas em uma crise climática, mas numa tripla crise ambiental. Para não caminharmos para a desertificação e para a redução (ainda maior) da biodiversidade que é essencial para equilibrar e regular o clima, se criou essa estratégia de sinergia para prevenir que diferentes agendas, regimes e instrumentos que estão presentes nas políticas públicas e nos acordos internacionais, acabem se sobrepondo. Por exemplo, monoculturas podem ser classificadas como estratégias de mitigação por promoverem o sequestro de carbono, mas ainda assim causar perdas ecológicas; da mesma forma, a instalação de parques de energia renovável em áreas de alta relevância ecológica pode gerar impactos sobre a biodiversidade”, destaca Simone Tenório, articuladora do IPÊ nas COPs, no painel Sinergias Clima, Biodiversidade e Desertificação, realizado na Casa IPÊ, na COP30.

Ainda segundo Simone, é fundamental adotar uma abordagem integrada e sistêmica, que articule restauração ambiental com a proteção da biodiversidade, garantindo que os objetivos climáticos e ecológicos avancem de forma complementar, assim como o investimento de recursos financeiros.

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) lançou em Belém, durante a COP30, o Pacto pela Sinergia entre as Convenções do Rio – Plano de Soluções Aceleradas. A iniciativa propõe uma agenda global de cooperação para integrar ações de enfrentamento à mudança do clima, perda de biodiversidade e desertificação em paisagens estratégicas de países tropicais e subtropicais. Como desdobramento dessa ação, o MMA também lançou na COP30 o Mapa de Paisagens Sinérgicas, uma ferramenta para identificar áreas no Brasil onde ações de clima, biodiversidade e desertificação podem ser integradas para resultados mais eficazes. Um Grupo de Trabalho foi criado para continuar as atividades.

As discussões sobre sinergia avançaram desde a COP16, da Biodiversidade, e estão muito conectadas com a restauração de ecossistemas e conservação de espécies vulneráveis e ameaçadas, estratégia que o IPÊ utiliza para a conservação da biodiversidade no Brasil. Por exemplo, a restauração florestal desenvolvida pelo instituto é baseada nos três pilares: biodiversidade, clima e comunidades”, explica Simone.

O investimento em Soluções Baseadas na Natureza (SbN) é uma das alternativas apontadas pelo Acordo de Paris para combate às mudanças do clima, em especial no Brasil. Segundo o acordo, que busca limitar o aquecimento global a bem abaixo de 2°C (preferencialmente 1,5°C) as SbN são um caminho para que muitos países alcancem suas metas voluntárias de redução de emissões de gases de efeito estufa, as NDCs. Florestas, por exemplo, são ecossistemas que oferecem uma série de serviços baseados na natureza, os também conhecidos serviços ecossistêmicos, como regulação do clima e oferta de água em quantidade e qualidade.

Clima e fauna ameaçada

Patrícia Medici, coordenadora da INCAB – Iniciativa Nacional para Conservação da Anta Brasileira, projeto do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, alerta, entretanto, que, se por um lado, a conservação da biodiversidade é estratégica para enfrentar os desafios atuais, por outro lado, os efeitos das mudanças climáticas colocam em risco essa mesma biodiversidade. “Temos uma série de espécies da fauna e da flora que são altamente impactadas pelos efeitos das mudanças climáticas, mas que também são extremamente importantes para manutenção da biodiversidade, como parte das soluções”, destaca

A anta-brasileira espécie pesquisada por Patrícia há quase 30 anos, por exemplo, mantém a biodiversidade de todos os habitats (Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal e Caatinga), onde ela se encontra, por conta da dispersão de grandes sementes. Ao mesmo tempo, que é um animal que precisa de água para termorregulação. “As temperaturas vão aumentar e esse é um animal de massa corporal gigante que precisa ir para água para baixar a temperatura corporal, que ela sozinha não consegue baixar. Então, com as questões de disponibilidade de água, como é que vai ser isso? Esse animal vai começar a ir para altitudes maiores em algumas regiões onde isso for possível? As consequências das mudanças climáticas serão muito particulares de espécie para espécie, será um caso a caso bem complexo”.

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