Com alta de feminicídios, São Paulo é o estado que menos investiu em Segurança Pública em 2024, no Brasil, segundo Sindicato dos Delegados

Ações no combate à violência doméstica, como atendimento em unidades especializadas, trabalho de investigação e aplicação de medidas protetivas exigem maior aplicação em recursos públicos, segundo Sindpesp; entidade avalia que discurso misógino na Internet também colabora para a alta deste tipo de crime.

De janeiro a outubro deste ano, ao menos 207 mulheres foram assassinadas no estado de São Paulo, vítimas de feminicídio. Por outro lado, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, edição de 2025, entre 27 unidades da federação, São Paulo foi o 26º em investimento por habitante em 2024 – só perdeu para o Maranhão. Para o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp), a redução em aplicação de recursos públicos na Polícia Civil impacta no combate à violência de gênero, a medida em que enfraquece investigações e afeta o atendimento especializado às vítimas.

Foto: Divulgação

Conforme o Instituto Sou da Paz divulgou no último dia 8 (segunda-feira), feminicídios aumentaram 10% no estado de São Paulo – com 207 casos de janeiro a outubro deste ano, contra 188 do mesmo período de 2024. Discursos misóginos e crimes cibernéticos também potencializam a violência, de acordo com análise do Sindpesp.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025 traz um raio-X dos investimentos governamentais na área. No quesito Gasto per Capita com Segurança Pública, o estado governado por Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) aparece na penúltima posição, entre 27 unidades da federação, com R$ 362,48 investidos por habitante em 2024 – apesar da arrecadação recorde de impostos, de R$ 275 bilhões, somente no ano passado. São Paulo só está à frente do Maranhão, com R$ 317,47 per capita e receita estimada em R$ 24,1 bilhões pela gestão de Carlos Brandão (PSD).

Delegada Jacqueline Valadares – Foto: Arquivo Pessoal

O Amapá, administrado por Clécio Luís Vilhena Vieira (Solidariedade), é o campeão de investimentos em Segurança Pública por morador no Brasil, com R$ 1.355,21 – apesar da receita orçamentária prevista de apenas R$ 9,75 bilhões em 2024.

Para o Sindpesp, o baixo investimento histórico na Polícia Civil bandeirante impacta negativamente no enfrentamento à criminalidade, incluindo o feminicídio:

Casos de violência doméstica requerem trabalho de investigação, solicitação à Justiça de medidas protetivas, acolhimento humanizado às vítimas nas Delegacias especializadas, e, portanto, a aplicação real de recursos na Polícia Civil, que detém essas atribuições e poderia fazer muito mais pela sociedade. Crimes digitais também exigem apuração complexa e uma Polícia preparada para agir. Porém, é de conhecimento público que investimentos na Polícia Civil têm sido reduzidos em São Paulo”, dispara a delegada Jacqueline Valadares, presidente do Sindicato.

Propaganda x realidade

São Paulo tem 142 Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs) — 18 delas funcionando 24h —, e 170 Salas DDMs, com atendimento virtual 24h. Equipes destas unidades, segundo Jacqueline, desenvolvem trabalho hercúleo, mas a estrutura deficitária não consegue estancar a violência de gênero, como mostram as estatísticas em alta:

O Governo do Estado de São Paulo criou novas DDMs 24h neste ano, mas, em que pese a propaganda política, não investiu o necessário em Recursos Humanos e em materiais. Pelo contrário, tirou policiais de outras Delegacias, que ficaram desfalcadas, para cobrir a demanda nas novas – o famoso ‘despiu um santo para cobrir outro’”.

Ainda de acordo com a presidente do Sindpesp, o déficit, hoje, na Polícia Civil paulista, é de 15 mil profissionais:

É preciso investir em pessoas, na contratação de mais servidores, em capacitação, e na efetiva valorização salarial, para a retenção de talentos que, não de hoje, migram para outras carreiras, e até para outros estados que pagam melhor seus policiais”, conclui a delegada.

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