Ciência revela o efeito espelhado no deserto de sal da Bolívia

Causas envolvem flutuações climáticas e padrões de precipitação

As flutuações climáticas e os padrões de precipitação são os responsáveis pelo efeito espelhado que caracteriza o Salar de Uyuni, o maior deserto de sal do mundo, situado na Bolívia. A revelação é de um estudo divulgado na quinta-feira (30), que combina dados do programa europeu de observação da Terra, Copernicus, com medições de campo inéditas.

Efeito espelhado no deserto de sal da Bolívia

Pôr do sol no Salar de Uyuni, na Bolívia | Ansaflash

Os resultados foram publicados na revista Communication Earth & Environment por uma equipe internacional.

“Durante a estação chuvosa, uma fina camada de água com apenas alguns centímetros de espessura cobre o deserto e o transforma em um imenso espelho, tão perfeito que parece irreal, o que lhe valeria o título de oitava maravilha natural do mundo”, afirmou o pesquisador italiano Francesco De Biasio, do Instituto de Biofísica e do Instituto de Ciências Polares do Conselho Nacional de Pesquisa (CNR-ISP).

Segundo ele, nos instrumentos que medem a superfície do planeta, o Salar de Uyuni “apareceu tão liso quanto um oceano calmo, ainda que os ventos que sopram pelo planalto devessem ondulá-lo e inibir seu reflexo especular”.

Para verificar essas observações, uma expedição foi à região, cujas análises foram sincronizadas com a atuação de um satélite.

“Ninguém jamais havia realizado medições diretas no centro do deserto durante a estação chuvosa; a salinidade extremamente alta da água representava um perigo” para a operação, acrescentou De Biasio.

Embora a profundidade da camada superficial da água seja relatada por diversas fontes como sendo de 30 centímetros, uma medida “surpreendentemente” pequena, de apenas 1,8 centímetro, foi registrada no local dos estudos, “tão minúscula que é quase impossível a formação de ondas que dispersariam de modo uniforme a luz natural, muito menos os pulsos de satélites de altimetria”.

No entanto, o cientista relatou que “uma leve corrente, variável ao longo do tempo”, e “provavelmente ligada a mudanças na direção do vento”, foi constatada durante o experimento, que também identificou a existência de flocos de sal flutuando na superfície.

“Esses minúsculos cristais poderiam talvez atuar como surfactantes naturais, capazes de amortecer ondulações e manter a superfície excepcionalmente lisa”, comentou De Biasio, destacando que ao longo do ano, a intensidade dos sinais de radar refletidos pela superfície foi muito variável, “um sinal de que as condições do deserto estão mudando e, com elas, o efeito espelho”.

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