‘Kaguateka: Aquelas que Resistem’ revela as vozes das mulheres indígenas de Campo Grande e marca estreia da primeira diretora Guató no cinema

Gravações foram finalizadas no fim de outubro na capital sul-mato-grossense

Há filmes que nascem de roteiros. Outros, de silêncios e escutas. “Kaguateka: Aquelas que Resistem” nasceu do encontro, da força das palavras que atravessam gerações, da memória que insiste em permanecer viva, mesmo quando a cidade parece querer apagá-la. O curta-metragem documental, dirigido por Gleycielli Nonato Guató, é uma celebração da resistência feminina indígena em contexto urbano e, ao mesmo tempo, um marco histórico: é o primeiro filme dirigido por uma mulher Guató.

O documentário acompanha cinco mulheres - Suzie Guarani, Luana Kadiweu, Matilde Kaiowá, Mirian Terena e Gleycielli Nonato Guató

O documentário acompanha cinco mulheres – Suzie Guarani, Luana Kadiweu, Matilde Kaiowá, Mirian Terena e Gleycielli Nonato Guató | Marcus Teles

A previsão é que a obra tenha 15 minutos de duração e as gravações aconteceram no fim do mês de outubro na Capital sul-mato-grossense. O documentário acompanha cinco mulheres – Suzie Guarani, Luana Kadiweu, Matilde Kaiowá, Mirian Terena e Gleycielli Nonato Guató – que vivem em Campo Grande e integram o Coletivo de Mulheres Indígenas Kaguateka, grupo formado por mulheres de diferentes povos que se unem para fortalecer a cultura, o território, o pertencimento e a dignidade. A obra tece, em gesto coletivo, o cotidiano, as lutas e os sonhos dessas mulheres que reexistem entre o concreto e a ancestralidade.

As gravações aconteceram em aldeias urbanas de Campo Grande

As gravações aconteceram em aldeias urbanas de Campo Grande | Marcus Teles

“Esse documentário surgiu como uma forma de manifestar a nossa união. É uma maneira de registrar as histórias das nossas ancestrais e mostrar as dificuldades que nós, mulheres indígenas, enfrentamos nas cidades. É um fortalecimento, um resgate da nossa história e uma semente para que mais mulheres venham somar conosco”, afirma Suzie Guarani, produtora e uma das roteiristas do filme.

Essa é a primeira vez que uma mulher indígena Guató dirige um filme

Essa é a primeira vez que uma mulher indígena Guató dirige um filme | Marcus Teles

A partir da convivência, da escuta e da partilha de histórias, “Kaguateka: Aquelas que Resistem” nasce como um gesto político e afetivo. Não é um filme que fala sobre mulheres indígenas — é um filme que fala e é feito por mulheres indígenas, em primeira pessoa, recusando os olhares folclorizantes e as narrativas externas.

Diretora Gleycielli Nonato Guató estreia na direção e marca pioneirismo Guató no cinema

Diretora Gleycielli Nonato Guató estreia na direção e marca pioneirismo Guató no cinema | Marcus Teles

“Esse filme é feito em coletivo. Eu assino a direção e sou uma das roteiristas, mas quem realmente conduz é o próprio grupo Kaguateka. Essas mulheres sabem o que dizer porque vivem isso todos os dias. Elas conhecem suas dores e suas forças. E é uma honra imensa estrear no cinema com um filme feito por mulheres indígenas, sobre mulheres indígenas, e para mulheres indígenas”, diz Gleycielli, emocionada.

As gravações aconteceram em aldeias urbanas de Campo Grande

As gravações aconteceram em aldeias urbanas de Campo Grande | Marcus Teles

Campo Grande, uma das cidades com maior presença indígena em contexto urbano no Brasil, aparece no filme não como cenário, mas como território ancestral. A terra de asfalto e árvores abriga histórias de migração, saudade, adaptação e luta. São histórias que revelam um paradoxo: a cidade que acolhe e, ao mesmo tempo, desafia; o lar que precisa ser reinventado a cada passo.

“Durante as conversas do coletivo, percebemos que havia muitas histórias guardadas — de migração, de saudade do território, de dor e também de reconstrução. Essas falas não cabiam só na palavra oral. O cinema se mostrou o caminho para que essas vozes ecoassem mais longe, como um gesto político e poético de resistência”, explica Marcus Teles, diretor assistente e um dos roteiristas do filme.

Documentário retrata cotidiano de mulheres indígenas que integram o coletivo Kaguateka

Documentário retrata cotidiano de mulheres indígenas que integram o coletivo Kaguateka | Marcus Teles

Em cada plano, há o cuidado de quem filma com o coração. As imagens foram construídas com consentimento e respeito, acompanhadas por rezas, cantos e fragmentos de línguas ancestrais. “Cada mulher trouxe um pedacinho de sua cultura, da sua reza, da sua espiritualidade”, conta Gleycielli. “O equilíbrio veio do sentimento de pertencimento. Ninguém de fora disse o que deveria ser feito. Cada uma fez conforme o que sentia”, completa.

A estreia do filme, prevista para acontecer na Aldeia Urbana Água Bonita, será um momento simbólico: o retorno das imagens à comunidade que as inspirou. Após a exibição, uma roda de conversa entre as mulheres do coletivo promete ecoar a força dessas histórias e inspirar novas alianças.

Diretora Gleycielli Nonato Guató estreia na direção e marca pioneirismo Guató no cinema. Ela também integra elenco

Diretora Gleycielli Nonato Guató estreia na direção e marca pioneirismo Guató no cinema. Ela também integra elenco | Marcus Teles

“A expectativa é grande. Queremos que as mulheres indígenas se reconheçam nas nossas falas e venham se juntar a nós, para continuar construindo políticas públicas e fortalecendo nossa presença na cidade”, reforça Suzie Guarani.

Mais do que um filme, “Kaguateka: Aquelas que Resistem” é um registro de um tempo e de um gesto: o de mulheres que transformam a dor em memória e a memória em futuro. É também um convite para escutar — com os olhos, com a pele, com o coração — as vozes que o cinema, finalmente, começa a enxergar.

“O audiovisual é uma ferramenta poderosa. Há muitos filmes com indígenas, mas poucos feitos por indígenas. Este documentário é uma força ancestral histórica. Ele vai levar nossas vozes para muitos lugares”, conclui Gleycielli Guató.

O curta-metragem “Kaguateka: Aquelas que Resistem” é uma realização do Coletivo de Mulheres Indígenas Kaguateka – CGRMS, com investimento da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), do Governo Federal, através do Ministério da Cultura (MinC), operacionalizada pela Prefeitura de Campo Grande, por meio da Fundação Municipal de Cultura.

Ficha Técnica

Direção: Gleycielli Nonato Guató
Direção Assistente: Marcus Teles
Roteiro: Gleycielli Nonato Guató, Marcus Teles, Mirian Terena, Suzie Guarani
Produção: Suzie Guarani
Direção de Fotografia: Marcio Padilha
Assistente de Fotografia: Luan Iturve
Som Direto: 4real.wav
Assistente de Som: Anderson Kaiowá
Assistentes de Produção: John Terena, Jefley M. Cano
Assistente de Produção Executiva: Lucas Moura
Trilha Sonora Original: Gian Markes
Edição de Som e Imagem: Rafael Viriato
Produção Executiva: Marcus Teles
Assessoria de Imprensa / Comunicação: Lucas Arruda, Aline Lira
Elenco: Suzie Guarani, Luana Kadiweu, Matilde Kaiowá, Mirian Terena, Gleycielli Nonato Guató

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