A Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) expressa profunda preocupação com a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo governo dos Estados Unidos. A medida, caso efetivada, afetará diretamente a competitividade das exportações brasileiras de derivados de cacau — um dos segmentos mais dinâmicos do agronegócio nacional nos últimos anos em termos de agregação de valor.

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Entre 2020 e 2024, os Estados Unidos responderam, em média, por 18% do valor total exportado de derivados de cacau pelo Brasil. Em 2024, esse valor atingiu US$ 72,7 milhões, com um volume de 8,1 mil toneladas. Apenas no primeiro semestre de 2025, o país já importou US$ 64,8 milhões em derivados brasileiros, representando mais de 25% das exportações totais do setor no período. Com a manutenção desse ritmo, o ano de 2025 tem potencial para ser o maior da série histórica — cenário agora ameaçado pela nova tarifa.
A medida chega em um momento de forte pressão sobre a indústria brasileira de cacau, que enfrenta sucessivas quebras de safra, restrição na oferta interna da amêndoa e preços internacionais em patamares recordes. Em 2025, a moagem nacional de cacau já registra queda significativa, com a exportação de derivados funcionando como uma das principais válvulas de escape para a sustentação das atividades industriais e da geração de empregos nas regiões produtoras.
Além do impacto comercial, a tarifa traz riscos fiscais e operacionais severos. As exportações de derivados de cacau se dão no âmbito do regime de Drawback, que permite a importação de insumos com suspensão de tributos, desde que destinados à exportação. A impossibilidade de honrar contratos firmados sob esse regime, devido à inviabilidade econômica imposta pela tarifa, poderá resultar em multas, exigência de recolhimento de tributos suspensos e insegurança jurídica para o setor exportador.
“A imposição dessa tarifa representa um risco não apenas econômico, mas também jurídico e logístico. É fundamental preservar os canais de exportação que garantem o funcionamento da indústria, a geração de empregos e a agregação de valor à produção brasileira de cacau”, afirma Anna Paula Losi, presidente-executiva da AIPC.
A AIPC defende a adoção urgente de medidas diplomáticas e comerciais, com a atuação coordenada entre os governos brasileiro e norte-americano, para mitigar os impactos da medida e buscar alternativas que preservem a previsibilidade e a estabilidade das operações de exportação.
Comprometida com o desenvolvimento da cacauicultura brasileira, a AIPC seguirá atuando de forma técnica e propositiva, junto aos diversos atores públicos e privados, para proteger a competitividade e a sustentabilidade da cadeia produtiva de cacau brasileira.