
Carlos Santos, presidente do SECCG – Foto: Arquivo Pessoal
O 1º de Maio deveria ser um dia de festa. Um dia em que trabalhadores de todas as áreas pudessem erguer a cabeça com orgulho, sentindo-se reconhecidos pela dedicação que dedicam diariamente às empresas, às cidades e ao próprio país. Durante muitos anos foi assim: havia festas, sorteios, homenagens, prêmios simbólicos que diziam, mesmo que de maneira singela: “seu esforço é importante”.
Mas essa realidade, infelizmente, ficou para trás. Hoje, para milhares de trabalhadores do comércio de Campo Grande, o 1º de Maio é apenas mais um dia de labuta, tensão e invisibilidade. Para muitos, sequer existe a possibilidade de descansar, de passar um tempo com a família ou de simplesmente respirar e se sentir valorizado.
Basta olhar para o centro da cidade, para o setor de gêneros alimentícios e para tantas outras áreas do comércio. É ali que encontramos jovens iniciando sua trajetória profissional sob jornadas extenuantes, sem direitos respeitados, sem salários dignos (pagar salário mínimo pode ser legal, mas é imoral diante da importância e retorno do trabalho da maioria dos colaboradores). É ali também que pais e mães de família carregam nos ombros o peso de jornadas que se estendem muito além do razoável, sob o olhar indiferente de patrões que os veem apenas como números em planilhas de produtividade.
É difícil, muito difícil, ver o brilho da juventude sendo apagado pela exaustão. Difícil ver homens e mulheres aceitando humilhações silenciosas para garantir o pão de cada dia. Difícil ver trabalhadores que, mesmo doentes, continuam na labuta porque sabem que, se pararem, serão facilmente substituídos. Para muitos desses trabalhadores, o que existe hoje é um regime que beira a escravidão moderna — longas horas de trabalho, baixíssimos salários, metas desumanas, pressão psicológica constante.
E é exatamente contra essa realidade brutal que o Sindicato dos Empregados no Comércio de Campo Grande ergue sua voz. Não é por falta de luta que a situação não mudou ainda. A cada rodada de negociação, enfrentamos a resistência de quem prefere acumular lucros à custa do suor alheio. A cada denúncia, sentimos na pele o peso da estrutura que protege mais o capital do que a dignidade humana.
Mas não desistimos. E jamais desistiremos. Nosso compromisso não é apenas com a pauta salarial. Nosso compromisso é com a vida digna. Com a juventude que merece sonhar. Com os pais e mães que merecem respeito. Com cada trabalhador que acorda cedo, enfrenta ônibus lotados, condições adversas, mas ainda assim encontra força para seguir em frente.
Neste 1º de Maio, portanto, não temos motivos para festa. Temos, sim, muitos motivos para indignação — e ainda mais motivos para seguir lutando. Que cada lágrima, cada injustiça e cada história de sacrifício sirvam de combustível para a transformação. A verdadeira vitória virá no dia em que nenhum trabalhador seja tratado como máquina, mas como ser humano.
Que neste Dia do Trabalhador possamos refletir sobre que tipo de sociedade queremos construir. E que a luta por respeito e dignidade continue sendo a nossa bandeira mais alta. Porque enquanto houver exploração, haverá resistência.
E a direção do SECCG, para não deixar a data passar em branco, está sorteando 120 Cestas Básicas entre os Comerciários de Campo Grande, associados ao Sindicato.
*Presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Campo Grande – SECCG