Diversificar o consumo de fibras pode potencializar os seus benefícios

As estruturas e os tipos de fibras interagem de forma variada com os receptores celulares, proporcionando diferentes efeitos biológicos.

As fibras alimentares oferecem uma série de efeitos benéficos ao organismo: contribuem para o melhor funcionamento do intestino e auxiliam no controle da glicemia e do colesterol, reduzindo os riscos do desenvolvimento de diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares, por exemplo. No entanto, dependendo da estrutura de cada fibra, pode-se obter diferentes resultados – cada tipo de fibra apresenta uma interação específica com as células. Dessa forma, consumir fibras de fontes variadas – diferentes frutas, hortaliças, leguminosas e cereais integrais- pode ser mais vantajoso para a saúde.

A nutricionista Samira Bernardino Ramos do Prado, pesquisadora do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – Food Research Center) da USP, estudou uma das fibras do mamão papaia, a pectina, e descobriu que ela interage de modo diferente com os receptores das células intestinais dependendo do estágio de maturação da fruta. Em experimentos em animais, a pectina isolada do mamão maduro, que tinha um tamanho molecular menor do que a do mamão verde, foi capaz de inibir o surgimento de lesões pré-neoplásicas, que antecedem o desenvolvimento do câncer de cólon.

Segundo a pesquisadora, essa é uma característica específica do mamão: a estrutura da pectina é modificada conforme a fruta amadurece – e o amadurecimento do mamão ocorre muito mais rápido do que outras frutas. No entanto, a estrutura da fibra dos frutos depende também de outros fatores. “A condição em que o fruto foi plantado, o solo, a região, a incidência de chuva ou calor – tudo isso pode influenciar a estrutura da fibra. O próprio fruto pode dar características diferentes para a fibra dependendo de suas condições”, explica.

Um estudo recente publicado na revista Cell Host & Microbe analisou em humanos os efeitos do consumo de amido resistente – um tipo de fibra presente em batata, milho e mandioca. Foi constatado que mesmo pequenas mudanças estruturais deste mesmo tipo de fibra induziam uma quantidade diferente de produção de ácidos graxos de cadeia curta pelas bactérias do intestino. Além disso, quanto mais fibras o indivíduo consumia, maiores eram os benefícios observados. Os efeitos chegaram a um nível constante quando o consumo foi de 35 a 50 g de fibras por dia.

“As evidências nos mostram que diferentes estruturas podem ter diferentes efeitos e que é importante diversificar o tipo de fibra alimentar ingerida, consumindo diferentes fontes desse componente, seja para alcançar a quantidade mínima recomendada por dia, 25 g, como para tentar potencializar os seus efeitos biológicos. Assim, diferentes bactérias serão beneficiadas no intestino e alguns tipos de fibras podem interagir diretamente com as nossas células”, conclui Prado.

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