E se ensinássemos bondade nas escolas?

Daniela Degani – Foto: Arquivo Pessoal

Se você começou a ler este texto por causa do título, deve estar se perguntando: “como é que se ensina bondade na escola?” Muitas pessoas pensam que bondade é uma característica inata. Até mesmo Darwin, apesar de destacar a importância da seleção individual, fala de um “comportamento moral”, que ajudaria grupos humanos a serem mais coesos e organizados. Paul Bloom, professor de psicologia e ciência cognitiva, realizou um estudo no qual aponta que mesmo bebês pequenos já apresentam traços de empatia.

Mas, como todos nós aprendemos também pelo exemplo, nascer com a semente da compaixão é só o começo. Ao longo da vida, podemos treinar e aprimorar essa habilidade. Ao convivermos com pessoas que praticam bondade, poderemos nós mesmos nos tornarmos mais bondosos.

E o que isso tem a ver com a escola, já que não é um conhecimento formal? Como a escola é um importante espaço de convívio tanto para crianças quanto para adolescentes – além de ser um ambiente privilegiado para aprender e ensinar -, nada melhor do que incluir as qualidades do coração no cotidiano escolar para estimular características como bondade, empatia e compaixão, por exemplo. É possível ensinar bondade na escola porque esta é uma habilidade treinável (bem como empatia, gratidão e compaixão, por exemplo). Além de tornar o ambiente escolar mais harmonioso e propício ao aprendizado, habilidades do coração podem contribuir para diminuir práticas danosas, como bullying, preconceito e indisciplina, problemas tão comuns no ambiente escolar.

Bondade, empatia, compaixão

Se por um lado todas essas três características são ligadas entre si, elas não significam a mesma coisa. E é importante conhecer cada uma delas. Segundo o dicionário, bondade é a qualidade de quem tem boa índole, é generoso(a) e é naturalmente inclinado a fazer o bem.

Já empatia é a capacidade de entender e sentir o que a outra pessoa está passando, de colocar-se no lugar do outro, olhar o outro pelas lentes que esse outro está usando – e não pelas nossas. Acontece que colocar-se no lugar do outro é difícil, simplesmente porque, para isso, precisamos, ainda que seja por alguns instantes, deixar o nosso lugar e caminhar até o outro, sem julgamentos. Afinal, ter empatia não significa concordar nem aceitar algo. É unicamente perceber as razões pelas quais algo acontece ou alguém age de determinada forma e não de outra; é colocar-se no lugar de vulnerabilidade em que todo ser humano fica, às vezes.

Quando exercitamos a empatia, nosso mundo se alarga, porque entramos em contato com a realidade do outro, nos identificamos com aspectos de sofrimento ou dificuldades do outro que também são nossos. Ao mesmo tempo, quando nós passamos por uma situação difícil, conseguimos sentir que fazemos parte de um grupo de pessoas que também estão passando por situações semelhantes. E isso nos conforta, porque nos faz entender que não estamos sozinhos. Ao sermos empáticos, enxergamos além de nós e, ao mesmo tempo, pertencemos a algo que é maior que nós.

É esse “fazer parte” que nos torna mais humanos, assim como a falta de empatia acarreta a separação entre eu e o outro. E, ao apartar o outro de mim, eu o “coisifico”, tiro seu valor, diminuo a relevância de seus sentimentos e de humanidade. Aí nascem os preconceitos e os comportamentos agressivos, pois eu não me identifico mais com o outro.

A empatia é um primeiro passo, e podemos ir além. A compaixão é um passo além da identificação com o outro. É o desejo de aliviar o sofrimento do outro. Essa ação à qual a compaixão chama nos tira do lugar de impotência. Apesar de não ser diretamente ligada a um resultado efetivo (a compaixão não significa que necessariamente teremos êxito ao tirar o sofrimento do outro), ela empodera porque nos inspira a fazer algo a respeito do sofrimento do outro. Mesmo que esse “algo” seja aparentemente pequeno, como enviar pensamentos bons para outra pessoa que está em uma situação adversa.

Se a bondade é a inclinação para fazer o bem, a empatia é a capacidade de colocar-se no lugar do outro, enquanto que a compaixão é, para além da inclinação bondosa, a capacidade de agir e, de fato, mudar algo no mundo em que vivemos. Compaixão é a bravura de desejar realizar pequenas atitudes que fazem a diferença. Já imaginou aprender tudo isso na escola?

A MindKids apoia professores e alunos na adoção de práticas de mindfulness que ajudam a cultivar atenção, equilíbrio emocional e compaixão no ambiente educacional.

*Daniela Degani é especialista em meditação mindfulness, certificada pelo Mindfulness Training Institute da Inglaterra, e idealizadora da MindKids.

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