O ano letivo de 2020 está perdido? Professores debatem os desafios da avaliação em meio à pandemia

Ano letivo atípico impôs aos educadores a necessidade de também reverem os métodos de avaliar o desempenho de seus alunos, apontam especialistas em Educação ouvidos pela Base2edu

À medida que o ano letivo de 2020 caminha para o seu término, uma questão ganha força entre professores e especialistas em Educação: como avaliar o desempenho dos estudantes em um ano totalmente atípico? Avaliar tendo em vista não apenas a aprovação ou reprovação dos alunos, mas sim, o quanto os mesmos absorveram de aprendizado ao longo do ano. Em busca dessas respostas, a Base2edu e a Pro4edu (Pro for Edu) consultaram especialistas em Educação para comentar os desafios da avaliação em meio à pandemia.

Foto: Divulgação

O Professor Renato Mendes Mineiro, Doutor em Educação Matemática pela PUC-SP; e o Professor Marcos Traldi, Mestre em Educação Matemática pela Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), partem do princípio de que a avaliação deve ser um diagnóstico da bagagem já trazida pelo aluno e um meio de buscar o aprimoramento da forma de ensinar. “Um aluno não vêm pra escola como se fosse um caderno em branco, prestes a ser preenchido pelo professor de acordo com o plano de ensino da instituição”, observa o Prof. Renato. “A avaliação deve ser uma ferramenta que nos proporciona identificar pontos fortes e fracos de nosso ensino, proporcionando-nos a oportunidade de aprimorar nosso plano de aula e técnicas pedagógicas de acordo com as necessidades de cada aluno”, completa o Prof. Marcos Traldi.

A seguir, outros pontos elencados pelos dois especialistas em relação à dinâmica de avaliação no contexto da pandemia:

Novas formas de avaliar: para o Prof. Renato Mineiro, no atual modelo de aulas à distância é preciso criar meios de avaliação que vão além da simples memorização de conceitos. “É impossível garantir que os alunos façam as avaliações sem consulta; sendo assim, é preciso pensar em avaliações que lhes permitam consultar e identificar se, de fato, se apropriaram do saber em questão e se são capazes de utilizar esse saber em situações distintas daquelas em que se deu a aprendizagem”. Já o Prof. Marcos Traldi sugere formas de avaliar distintas das tradicionais provas. “Podemos mencionar novos métodos de avaliação, como por exemplo: elaboração de quiz; Desafios on-line; Discussão em chats; Simulados on-line; Questão comentada: atividade com QR Code para que o estudante, após fazer a questão, acesse um vídeo com a resolução comentada” .

Critérios de avaliação também mudam: os pontos a serem considerados pelos educadores na hora de avaliar seus alunos também ganham novos significados com a pandemia. O Professor Renato Mineiro acredita que um dos critérios que precisam ser observados é se o estudante é capaz de percorrer o chamado “caminho de volta”. “Nesse sentido, mais do que avaliar a memorização de conceitos abordados em aula, é necessário apresentar situações em que o aluno seja desafiado a usar o que aprendeu para resolver problemas em contextos diferentes”, exemplifica. O Prof. Marcos, por sua vez, ressalta a importância de não se perder de vista a humanização como critério de avaliação. “Devemos ser pacientes e estimuladores, pois o confinamento nos leva à complexidade. Para que esse acompanhamento do aprendizado e as avaliações sejam coerentes, é necessário utilizar-se de todos os instrumentos tecnológicos, porém sem esquecer que do outro lado da máquina encontra-se um ser humano”, destaca.

Ferramentas de apoio à avaliação: o Prof. Renato Mineiro também comentou a importância do uso de ferramentas que podem agregar ludicidade às aulas e, ao mesmo tempo, facilitar o processo de avaliação. Um exemplo desse tipo de ferramenta é a plataforma Eduten Playground, desenvolvida por especialistas da Universidade de Turku, na Finlândia, e que traz a linguagem dos jogos para a resolução de exercícios matemáticos. “Os recursos disponíveis na plataforma permitem que o professor proponha várias frentes de atividades, tanto aquelas que contemplam os exercícios de fixação, úteis em um primeiro contato com os conceitos matemáticos, quanto aquelas que levam o aluno a utilizar a aprendizagem que desenvolveu na resolução de várias situações desafiadoras”, destaca o especialista.

2020: um ano perdido? Questionados sobre se este seria um ano letivo “perdido”, os dois educadores concordaram que não: 2020 não deve ser considerado um ano sem nenhum aproveitamento educacional. “Não acredito que este foi um ano perdido, mas sim um ano repleto de novos aprendizados, onde pudemos testar nossos limites tecnológicos e aprender muito com isso”, pontua o Prof. Marcos Traldi. O colega, Prof. Renato Mineiro, acrescenta que é preciso dedicar maior atenção aos déficits de aprendizado identificados entre os estudantes. “É preciso criar dinâmicas de reforço escolar focadas no que não se aprendeu. Diante das contingências atuais, não dá pra colocar todos os alunos nas mesmas salas, focando os mesmos conteúdos. Alguns precisarão de reforço em determinadas áreas; e outros alunos, em outras. Talvez esteja aí a importância principal da avaliação diagnóstica”, conclui o educador.

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