PhD em Nutrição aponta os 4 mitos da obesidade

Sophie Deram, pesquisadora e autora do best-seller "O Peso das Dietas", traz reflexões sobre o que pode mudar no tratamento contra a doença

São Paulo (SP) – É comum encontrar pessoas obesas ou com excesso de peso que já tenham sofrido algum tipo de discriminação. As atitudes preconceituosas direcionadas para os que convivem com essa condição são inúmeras, como um olhar atravessado ao passar na catraca do ônibus ou comprar roupas novas, ao montar a refeição em um restaurante ou até mesmo ao ocupar assentos no transporte público.

Sophie Deram é especialista em tratamento de Transtornos Alimentares pelo AMBULIM – Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP. Crédito: Divulgação

Julgamentos pré-concebidos podem, muitas vezes, acuar pacientes e impedir que procurem ajuda especializada. Este cenário resulta em pessoas na busca de se tratar de forma autônoma, com o uso de medicamentos e dietas restritivas que não resolvem, mas pioram a condição do indivíduo.

“Muitos pensam que as causas da obesidade dependem exclusivamente de questões pessoais, como preguiça gula e a falta de força de vontade. São suposições que estão em desacordo com as evidências científicas”, repudia Sophie Deram, PHD em Nutrição, autora do best seller “O Peso das Dietas” e especialista em comportamento alimentar.

A partir de diversas pesquisas, o consenso indica que o estigma da obesidade é uma questão bem difundida na sociedade. A prevalência de discriminação apresenta taxas mais altas entre aqueles com maior Índice de Massa Corporal (IMC) e entre as mulheres, quando comparadas com os homens. Um estudo de 2018 citado pelos autores sugere que aproximadamente 40% a 50% de adultos norte-americanos com excesso de peso e obesidade sofrem internalização do estigma, e cerca de 20% experimentam isso em níveis elevados.

Pesquisa feita pelo IBGE aponta que a obesidade no Brasil atinge um em cada quatro adultos. O estudo abrange o período de 2002 a 2019. Crédito: Divulgação

Sophie esclarece que existem quatro mitos relacionados à obesidade. Para a especialista é necessário mostrar às pessoas os reais motivos por trás desta condição pode tornar o tratamento desta doença mais humano e efetivo, não apenas no ponto de vista dos estudiosos da área, como também da população em geral que convive e, muitas vezes, maltrata quem sofre com o excesso de peso. Confira abaixo:

1 – Obesidade é uma opção

Esta é uma das declarações mais irresponsáveis que podem ser feitas em relação ao excesso de peso, pois transfere toda a responsabilidade para a pessoa que já está vulnerável. “É preciso se atentar que a obesidade é um problema multifatorial, ou seja, envolve questões genéticas, emocionais, culturais e fisiológicas”, esclarece a especialista.

2 – Consome mais calorias do que gasta

Usar esta expressão é simplificar a complexidade com a qual o corpo humano trabalha. A conta não é tão simples. “São muitos os fatores que podem levar um indivíduo a desenvolver esta condição, comer muito não pode ser considerada uma causa predominante”, destaca Sophie.

3 – Obesidade é um estilo de vida

Mais uma vez a desinformação pode levar as pessoas a tirarem conclusões equivocadas como esta. Dados de estudos realizados em diversos países mostram que a obesidade é sim um problema de saúde que pode afetar as pessoas em diferentes momentos da vida. “Considerar a obesidade como opção é transferir toda a responsabilidade para o indivíduo. Na verdade, é um problema multifatorial, que envolve questões sociais, culturais, genéticas, emocionais e fisiológicas”, avalia.

4 – Obesidade severa pode ser resolvida com dietas e exercícios físicos

E por último, porém não menos insensata, esta afirmação pode ser refutada pelo simples fato de não ter apoio científico. Estudos já comprovaram a ineficácia de tentativas voluntárias de restringir a alimentação e adicionar exercícios físicos nesta equação ajuda menos ainda. Esta combinação, para aqueles que sofrem com um quadro severo de excesso de peso, traz resultados modestos que não se sustentam em longo prazo.

Sophie explica que, quando aderimos às dietas restritivas, acontecem duas mudanças em nosso corpo: o aumento de apetite e a redução da taxa metabólica basal – mínimo de energia necessária para manter as funções vitais do organismo. “Justamente por essa combinação de resultados, nosso corpo entende que estamos passando pela privação de alimentos e promove a recuperação de peso”, aponta Sophie.

Manifesto sobre a obesidade

Sophie acredita que a falta de informações no tocante à obesidade com base na ciência é uma das principais responsáveis pela existência desses quatro mitos sobre o tema. Para desmistificar esses equívocos, a nutricionista realiza no próximo sábado (21/11) o “Manifesto para um novo olhar sobre a obesidade” no formato online. O evento debaterá com um time de especialistas um tratamento mais humano e digno para as pessoas que sofrem com esta condição. Confira a programação neste link.

Sobre Sophie Deram: Autora do livro “O Peso das Dietas”, é engenheira agrônoma de AgroParisTech (Paris), nutricionista franco-brasileira e doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) no departamento de Endocrinologia. Além de especialista em tratamento de Transtornos Alimentares pelo AMBULIM – Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP, é coordenadora do projeto de genética e do banco de DNA dos pacientes com transtorno alimentar no AMBULIM no laboratório de Neurociências.

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