Rubenio Marcelo e sua poesia simbolista no Vestibular da UFMS

Recentemente, foi publicada a lista oficial da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul contendo livros de leituras obrigatórias – sendo três de poesia, quatro romances, e dois de contos – para o Passe 2020 e também para o Vestibular 2021. E, nesta seleta relação de nove obras de autores da literatura de língua portuguesa, está incluso o livro de poemas Vias do Infinito Ser, de Rubenio Marcelo, que foi publicado em 2017 pela Editora Letra Livre, com lançamento em Campo Grande e posteriores sessões de autógrafos em outros locais, inclusive em Portugal. Integram também este referido conteúdo programático da UFMS: Marília de Dirceu, de Tomás Antonio Gonzaga; Esaú e Jacó, de Machado de Assis; Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto; Viagem e Vaga música, de Cecília Meireles; Sagarana, de Guimarães Rosa; O encontro marcado, de Fernando Sabino; Seminário dos ratos, de Lygia Fagundes Telles; e Cinzas do Norte, de Milton Hatoum.

Livro ‘Vias do Infinito Ser’ de Rubenio Marcelo – Foto: Arquivo

Sobre a vertente característica do poeta Rubenio Marcelo, a professora e escritora Enilda Mougenot Pires já afirmou: “Fortemente influenciado pela estética da literatura simbolista, defende a imaginação, o sonho e a fantasia criadora do inconsciente como matérias-primas da obra de arte. Desse modo, a voz poética acredita no desregramento dos sentidos (…) Para Rubenio, a poesia é um rito mágico, associação alquímica de vocábulos reveladores de outras dimensões da existência. Na expressão do filósofo, poeta e escritor Paul Valery, é “simbiose do som e do sentido”, feita de ritmo, harmonia, combinações sonoras”.   Já o escritor e jornalista José Pedro Frazão disse: “O estado etéreo da poesia de Rubenio Marcelo nos mostra que esta arte não é apenas a luz da estética, a claridade do inexplicável, o brilho do indizível. Afinal, a poesia não é produto de sentimentos, mas uma fonte geradora dos mesmos. E por ser protagonista de sua própria imortalidade, a verdadeira poesia é infinita e transcendental. Assim, comprovamos que a infinitude poética se confirma em cada verso simbólico, filosoficamente criado, como um fio de sensações cósmicas interligando astros e nos conduzindo ao misterioso princípio/fim da existência”.

Com forte feição simbólica, apresentando especialmente poemas em versos livres com características metalinguísticas e existenciais, Vias do Infinito Ser, de Rubenio Marcelo, colige significativas análises paratextuais. O crítico literário José Fernandes (doutor em Letras pela UFRJ) afirmou: “O livro se compõe de uma poesia profunda, marcada por forte dimensão metafísica, como requer a concepção de infinito a que o ser tem de conquistar durante a existência. Para isso, o jogo poético, tal como o existencial, se executa entre o finito, o concreto, o físico, e o essencial, abstrato, metafísico. Em decorrência, cada poema deve ser sorvido mediante várias leituras, a fim de que se possa mergulhar na essência da poesia e no sublime que ela encerra. A viagem pelo poema, deste modo, assemelha-se à viagem do ser em busca do infinito. Tem de ser executada passo a passo…”.  E o crítico literário e poeta Antonio Carlos Secchin, da Academia Brasileira de Letras, em análise na aba do livro, afirma: “Na poesia de Rubenio Marcelo, em vez de o ser humano habitar o cosmo, é o universo que reside no homem. Tudo emana da força da poesia, e é com essa luz de dentro, deflagrada pelo poder do verbo, que subitamente as coisas ganham forma e novo sentido”.

Perscrutando os poemas de Vias do Infinito Ser, sentimos que, ao conceber naturalmente o perfil estético deste seu livro, Rubenio Marcelo sintonizou-se com um ser lírico empreendendo livremente uma viagem por dentro de si e pelo íntimo pulsante da linguagem, na esteira daquele preceito de Heidegger: “a linguagem é a morada do ser”. Com efeito, neste sentido, o prefaciador da obra nos lembra que é através da linguagem que o ser se aproxima ao infinito, especialmente na relação com a expressão artística, mormente a arte poética, na criação que transcende e que pode ascender à dimensão do metafísico. Assim, temos a poesia como vetor da busca do conhecimento do nosso ser, num plano que difere do simples aspecto humano, conciliando os nossos valores em harmonia com os ditames da essência, tudo em linguagem acessível e reflexiva, visando também ao crescimento pessoal e autoconhecimento dos leitores.

*Geraldo Ramon Pereira é poeta, membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, prof. ap. da UFMS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Topo