10 cuidados que as escolas devem ter na volta às aulas presenciais

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Após três meses de quarentena decretada para escolas por conta da pandemia, e os consequentes desafios em oferecer condições de estudos para a Educação Básica para milhões de crianças e adolescentes, as escolas começam a planejar o próximo – e difícil – passo. Muitos municípios e estados do Brasil começam a considerar a volta às aulas presenciais, levantando questionamentos sobre quais seriam as boas práticas para tornar isso possível sem comprometer a segurança de seus estudantes e funcionários.

Alguns países ao redor do mundo iniciaram reabertura gradual de suas escolas, adotando medidas de segurança, bem-estar e distanciamento social que têm se mostrado bastante satisfatórias diante do atual contexto da COVID-19. Segundo levantamento do instituto norte-americano Learning Policy Institute, que compila informações preliminares de diretrizes de saúde e segurança adotadas por cinco países (China, Dinamarca, Noruega, Singapura e Taiwan) em três frentes (frequência, distanciamento social e higiene), o sucesso das iniciativas está intimamente relacionado à capacidade desses países de testar e acompanhar casos da doença e de isolar demais indivíduos que tenham sido expostos ao coronavírus.

De acordo com Ademar Celedônio, professor e diretor de Ensino e Inovações Educacionais do SAS Plataforma de Educação, embora o Brasil viva algumas condições relacionadas à pandemia bem distintas, as experiências e medidas adotadas por esses países apresentam um panorama sobre os protocolos que gestores precisam considerar e responder, antes de começarem a pensar em estruturar a volta às aulas presenciais de suas escolas, minimizando os riscos de saúde mental para os alunos. “O objetivo é evitar que a escola se torne um ponto de contágio para toda comunidade escolar”. Nesse sentido, vale destacar 10 (dez) pontos de atenção:

  1. Todos os alunos devem retornar ao mesmo tempo?

A segurança e o bem-estar dos alunos e funcionários precisam estar no centro da tomada de decisão. Na Dinamarca, primeiro país da Europa a reabrir as escolas, o processo foi feito em fases. Primeiramente, apenas crianças menores de 12 anos puderam retornar às atividades presenciais, enquanto as demais idades permaneceram com o ensino remoto. A decisão do país levou em consideração o nível de dependência escolar dessa faixa etária, que não se beneficiava tanto do ensino virtual, bem como o fato de se enquadrar em um grupo de menos risco quando exposto ao vírus. Portugal, por sua vez, optou por retomar as aulas com o Ensino Médio.

  1. O aprendizado na escola deve ser combinado com o ensino remoto?

Combinar ensino remoto e ensino presencial pode e deve ser levado em consideração pelas escolas para uma reabertura, uma vez que permite que as atividades sejam restabelecidas gradualmente e sem gerar aglomerações entre as diferentes faixas etárias.

  1. Qual é o distanciamento físico viável e seguro?

Muitas escolas estabeleceram novos limites de alunos por sala e novas distâncias entre as carteiras. Na Dinamarca, o número de alunos por sala foi reduzido para garantir distanciamento mínimo de dois metros. Já Portugal dividiu grupos de alunos por turno, dobrando a carga horária e a remuneração dos professores.

  1. Como as refeições na escola passarão a ser feitas?

Em linhas gerais, recomendações são de que todos lavem as mãos antes das refeições e que alunos respeitem as regras de distanciamento dentro das salas de aula. Algumas práticas, como trocar alimentos e utensílios, devem ser proibidas. Em algumas escolas da China e da Coréia do Sul, divisórias de vidro foram instaladas entre uma mesa e outra para as refeições.

  1. Como as escolas pretendem diminuir aglomerações?

As escolas são encorajadas a criar escalas de seus horários de início e de término para evitar que alunos e famílias se aglomerem, estabelecendo rotas para as salas de aula com várias entradas e marcações de distanciamento no chão. Professores também não devem utilizar a sala dos professores antes, nos intervalos e após as aulas.

  1. As escolas precisarão checar as temperaturas dos alunos regularmente?

Experiências de países que já retornaram às suas atividades escolares mostram que sim. Para alguns, a temperatura pode ser checada até duas vezes ao dia. Outros, por sua vez, optaram por checar a temperatura dos alunos, apenas, na chegada à escola.

  1. Procedimentos de quarentena devem ser adotados para alunos sintomáticos?

Para esta questão, não há um padrão definido. Países como Noruega e Dinamarca pedem que alunos sintomáticos permaneçam em casa entre 1 a 2 dias, respectivamente. A China, por sua vez, exige que alunos com sintomas permaneçam em casa até os sintomas desaparecerem. Em Singapura, a lei do país exige quarentena para qualquer um que tenha tido contato com uma pessoa sintomática e, caso a escola tenha algum caso confirmado, ela é imediatamente fechada e higienizada. Já para Taiwan, se houver um caso confirmado de COVID-19, a classe toda é suspensa por 14 dias. Além disso, se houver dois ou mais casos confirmados, a escola toda deve suspender suas aulas por 14 dias.

  1. Como deverá ser feita a limpeza dos objetos e ambientes, e a utilização de máscaras nas escolas?

A recomendação é limpeza contínua de objetos e superfícies tocadas constantemente, como corrimões, mesas e maçanetas de porta, por exemplo. Limpeza desses objetos a cada 2 horas pode ser um bom parâmetro. Áreas comuns também precisam ser limpas com frequência, entre duas e quatro vezes ao dia. Tablets e computadores, por outro lado, precisam ser higienizados sempre logo após o uso. O uso de máscaras por professores e alunos em tempo integral é recomendado, exceto em países como Dinamarca e Noruega.

  1. Pais de alunos poderão transitar na escola?

Muitos países têm aplicado medidas mais duras para restringir a aglomeração no ambiente escolar, como impedir a entrada de pais e responsáveis dentro de suas unidades.

  1. Com relação à saúde mental dos alunos, que medidas podem ser tomadas?

As escolas vão precisar ficar atentas às questões e competências socioemocionais, estabelecendo um ponto de apoio para professores, pais e alunos. A volta às aulas, provavelmente, vai desencadear uma onda de ansiedade e expectativa muito grande por parte de todos os agentes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que vão estar vivendo um momento totalmente novo. Nesse sentido, as escolas vão precisar dedicar atenção redobrada em esforços de longo prazo, que auxiliem os alunos a se reconectarem com a escola e com seus pares, e que ajudem o professor a lidar com toda a carga emocional envolvida no retorno.

A sociedade como um todo ainda está aprendendo a lidar com os efeitos da pandemia. Aqui no Brasil, em resposta à crise, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou, no dia 28 de abril, a proposta que legaliza a oferta de atividades não presenciais em todas as etapas de ensino, como diretriz para a reorganização do calendário escolar de 2020. Ao analisar o contexto de retorno às aulas presenciais, o CNE recomenda que, na volta, as escolas apliquem uma avaliação diagnóstica de retorno, para tentar identificar quais habilidades essenciais foram aprendidas, ou não, durante o período de isolamento e ensino remoto.

Enquanto respostas mais concretas não chegam e o Brasil não desenvolve seu próprio manual de retorno às aulas presenciais, com diretrizes e recomendações específicas para a nossa realidade, seguimos nos espelhando e aprendendo com quem já está começando a entender, aos poucos, como será a Educação Básica do pós-pandemia.

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