Filósofo responde: Por que ainda há quem se interessa por quem não presta?

Filósofo Fabiano de Abreu – Foto: Gabriela Mello / MF Assessoria

A pessoa não vale nada, mesmo assim tem gente que a quer. Esse cenário comum— que acaba em coração partido — pode ser explicado de duas formas. Ou algumas pessoas sentem forte atração por aqueles que revelam ter um mal caráter, ou simplesmente, não dão ouvidos quando são alertadas que aquela pessoa com a qual se relacionam “não presta”.

De acordo com o filósofo e escritor Fabiano de Abreu, para algumas pessoas há mesmo charme em quem tem má fama. “O peso do mal que ela é capaz de fazer contra uma outra pessoa, por incrível que pareça, pode excitar quem também, possui uma índole duvidosa, ou apenas, se sente atraído por poder, status e dinheiro. A questão em torno desse indivíduo é justamente o mistério”, aponta.

Isso porque, de acordo com a leitura de Fabiano de Abreu, todo mistério acende a chama da descoberta, do desvendar. E independente da forma como essa pessoa se coloca no mundo — se ela trai, se ela engana, se ela finge —, ela consegue criar um interesse nos outros e chamar a atenção mesmo que de forma negativa. “Geralmente essas pessoas sabem que não prestam, e gostam de ser quem são. Aspecto que revela uma forte autoestima, e uma enorme disposição para a autopreservação”, analisa o filósofo.

A raiz do mau-caratismo

Diversos estudos sugerem que existe um componente genético que predispõe o desenvolvimento para o narcisismo e para a psicopatia, enquanto o maquiavelismo — tendência pessoal à insensibilidade e ao afastamento da moralidade convencional — parece ser mais influenciado pelo ambiente. Fabiano de Abreu explica que há estudos que comprovam, inclusive, que indivíduos com hábitos noturnos tendem a apresentar mais características ligadas à maldade. “Isso pode ter a ver com a evolução, onde as pessoas mais obscuras buscavam a noite para fazerem suas atrocidades, assim como roubar”, sugere.

Isso explicaria o interesse por pessoas de má índole, já que o sadismo embutido está ligado ao narcisismo. Portanto, dar moral a uma pessoa que sabidamente não presta, revela que inconscientemente a pessoa gosta do que ver no outro, o que possivelmente, também possuí em si, ou algo que gostaria de ter. “Pode ser que, quem se alia àquele que ‘não presta’, deseje ser como ele, mas não tem coragem o suficiente para fazer tudo o que ele faz. Portanto, acaba se realizando observando a sua maldade no outro. Mesmo que essa o atinja”, analisa.

Autoconhecimento que resguarda

Sendo assim, se conhecer a fundo é uma maneira de se resguardar de ciladas emocionais, já que apesar de serem tidas como “cafajestes”, ou “vagabundas”, essas pessoas possuem grande habilidade em manipular o outro a seu favor.

O filósofo aponta que a maioria daqueles que “não prestam” e que vivem rodeados de homens e mulheres que os bajulam, possuem uma personalidade narcisista e conseguem angariar seus muitos seguidores por valorizar a aparência e se sobressair com uma postura imperial, que o coloca acima do bem e do mal.

Esse capital estético e a lábia de sedutora gera “amor” e “ódio” em quem convive com ele. “O amor expresso pelas pessoas que o circundam é mais uma devoção, uma adoração, um respeito imposto pelo medo. E o ódio que ele gera nas pessoas é uma sensação de revolta e impunidade, pois ao fazer valer suas vontades, acaba passando por cima de Deus e todo mundo”.

O tal do dedo podre

Há quem diga que tem “o dedo podre”, pois sempre acaba se relacionando com pessoas que “não prestam”. Dentre tantos homens e mulheres que existem no mundo, acabam sempre se relacionando com o traidor, impostor, ou mal caráter. Para Fabiano de Abreu, é importante entender por que isso acontece. “Devemos pensar que o que nos atrai no outro são as qualidades que acreditamos que ainda não temos e gostaríamos de ter, ou tudo que temos em comum.”

Portanto, Fabiano de Abreu recomenda que é necessário parar de se vitimizar, e principalmente, parar de buscar no outro o que falta em si. “Sejamos completos para encontrarmos outro ser igualmente completo. Mas principalmente, para parar de dar moral a quem não presta”, defende.

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