Avenida Professora Élida Aparecida de Campos

Independentemente das medidas legais a serem tomadas, judicial e administrativamente, devemos reivindicar a imediata mudança de nome da “Avenida Gaturama” para Avenida Professora Élida Aparecida de Campos, como homenagem póstuma e reconhecimento de seu importante trabalho, ainda que anônimo, com crianças que a amavam como a um anjo que agora se eternizou.

Ainda sob o impacto da tragédia com a Professora Élida Aparecida de Campos, vítima do desgoverno em que o Brasil se encontra em todos os níveis administrativos — um jogo de empurra de envergonhar os/as corumbaenses que amam verdadeiramente a sua cidade, e não a (m)amam hipocritamente –, e, sobretudo, como integrante da geração que participou intensamente da Constituinte de 1987/1988 e fez com que ficassem consignadas importantes conquistas da cidadania na chamada Constituição Cidadã, entendo ser fundamental que a atual “Avenida Gaturama” (isso é nome de via pública?) passe a ser denominada com seu nome, até como homenagem póstuma a essa grande cidadã cuja ausência não está doendo só no seio de sua Família, perplexa e desolada, dos/as colegas, crianças e pais/mães dessas crianças, mas da coletividade, e em particular de toda a rede de proteção social em que ela trabalhava há mais de 12 anos.

Não tive a sorte de conhecê-la em vida, mas a sua história de Vida e a maneira como a Professora Élida se eternizou nos consternou profundamente, como a todos/as os/as que acompanharam pela mídia as circunstâncias em que teve a sua existência interrompida. Simplesmente foi roubada de sua Família, de seu local de trabalho, das crianças e colegas com que convivia diariamente. Nada justifica a conjunção de fatores que culminaram com a tragédia que lhe ceifou a Vida. E, pior, a demora com que os diferentes agentes públicos reagiram numa hora como aquela, em que os/as munícipes sentiram a total ausência do Estado (enquanto ente público), ainda tomados/as pela perplexidade.

Somos todos/as Professora Élida Aparecida de Campos. Uma trabalhadora da Educação que dedicou os melhores anos de sua Vida para acolher, amar e contribuir efetivamente para a formação integral de crianças com deficiência ou eventualmente dificuldades transitórias de aprendizagem, convivência ou comportamento. E tudo isso de maneira anônima e sincera, como está retratado no semblante das pessoas com quem ela convivia diariamente ao longo de anos. Uma história que ficou interrompida pela total ausência de planejamento estratégico, pelo descumprimento da legislação, pelo maldito improviso que tem tomado conta de todas as instâncias administrativas nestes últimos anos em que o ódio disseminado passou a justificar ineptos/as ocupando cargos públicos relevantes.

Na verdade, o gesto de homenageá-la postumamente com a denominação da via em que circulava ao ir e voltar do trabalho, todos os dias, constitui-se em primeiro passo rumo a uma nova atitude dos/as agentes públicos/as incumbidos/as da Vida das pessoas comuns como a já saudosa Professora Élida também o era. Ela teve a sua Vida ceifada enquanto cumpria com suas obrigações. Já a tragédia não foi evitada porque havia muitos/as que não cumpriam com as suas obrigações, como algum dia será possível constatar. Esperamos que este inquérito não tenha a mesma sina de tantos outros, como o da pequena Lívia cujos algozes e a própria existência até hoje não foram elucidados e, sobretudo, os/as responsáveis devidamente punidos/as, mais de oito anos depois de seu desaparecimento inexplicável.

*Ahmad Schabib Hany

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