A Cidade Branca em Festa

Banho de São João em Corumbá (MS) – Foto: Divulgação

Comemorada no Brasil desde o período colonial e trazida pelos portugueses, as festas juninas adquiriram, com o tempo, características típicas do país, pródigo, justamente, em misturar influências. Outrossim, considerada pelo Ministério do Turismo um dos cinco principais destinos de festejos juninos do Brasil, Corumbá celebrou essa semana o famoso “banho” de São João, manifestação secular que ocorre na noite do dia 23 de junho com a descida dos andores com a imagem do santo para o batismo no Rio Paraguai. A tradicional festa foi tombada pelo Estado como patrimônio imaterial e aguarda reconhecimento nacional como Patrimônio Cultural Imaterial.

Tradicionalmente os festejos juninos se espalham pelo país com fortes ingredientes das culturas locais que misturam o profano e o sagrado e atraem milhares de pessoas, movimentando as cidades nos meses de junho e julho. É um pouco desse clima que o Ministério do Turismo promove de maneira ímpar nos cinco destinos (Belo Horizonte-MG, Bragança-PA, Campina Grande-PB, Corumbá-MS e São Luis-MA) contemplados pelo projeto destinado à promoção e apoio à comercialização.

Em 2019, na cidade branca foi investido cerca de R$ 700 mil reais na realização do Arraial do Banho de São João com recursos próprio da Fundação de Cultura. O Governo do Estado foi parceiro da prefeitura na realização dessa grande festa   informou Joilson Cruz. “O São João é uma tradição da nossa cidade, faz parte da nossa cultura, da cultura do nosso povo. É uma festa que mobiliza a fé a e devoção de milhares de pessoas”, asseverou o chefe do Executivo Municipal ao destacar a importância do evento para a cidade ao lembrar que, assim como faz o carnaval, o São João “movimenta fortemente a economia” finalizou Marcelo Iunes, que realmente tem olhado para a cultura como fonte geradora de empregos e mola mestra para apoiar outros setores essenciais a administração municipal.

Jailson Sudário – Foto: Divulgação

O Arraial do Banho de São João começou na noite da quinta-feira, 20 de junho, com os shows de Márcio Reis, Marcelo Oliveira, Jailson Sudário e de Cristiano Garcia. E desde as 18 horas, o público também já podia prestigiar a Praça de Alimentação, estande de artesanatos, Altar de Todos os Santos e o pau de sebo, uma tradição junina. Todas essas atividades continuaram na sexta-feira, sábado e também no domingo.  No dia 21, sexta-feira, aconteceu o Concurso de Andores e os shows serão de Isac e Brandão, Gurizada Baileira, Marinho Azevedo e os inesquecíveis Matogrosso e Mathias. No sábado, dia 22, ocorreu além do Concurso de Quadrilhas, shows de Izze, Marcelo e Renato, Tiel e Renan, Dudu Lino e Alex e Yvan. As festas juninas são eventos tradicionais e envolvem boa parcela da população e representam a história da música e da cultura brasileira, tanto que as músicas tocadas são as que tem a maior longevidade e todos conhecem, por exemplo:

Porto Geral de Corumbá (MS) – Foto: Divulgação

Cai, Cai, Balão (1932) – Assis Valente É o primeiro clássico junino com autoria conhecida do Brasil. Composta em 1932 por Assis Valente, E foi lançada em um dueto com Francisco Alves e Aurora Miranda, irmã de Carmen. Ela traz o mesmo título de uma cantiga popular de domínio público (cai, cai, balão/cai, cai, balão/aqui na minha mão), porém a composição de Valente envereda por outro caminho ao lançar mão da sabedoria popular com os versos: “quem sobe muito, cai depressa sem sentir”.  Chegou a Hora da Fogueira (1933) – Lamartine Babo E não menos conhecida, de 1933 reúne, de uma só vez, vários astros da canção brasileira. Composta por Lamartine Babo foi lançada em dueto com Carmen Miranda e Mário Reis sob os arranjos de Pixinguinha. Por isso não espanta que seus versos e melodia tenham permanecido por tanto tempo no imaginário popular. “Chegou a hora da fogueira/é noite de São João/o céu fica todo iluminado/fica o céu todo estrelado/pintadinho de balão”. Foi regravada pelo palhaço Arrelia, outra inesquecível é:. Isto É Lá com Santo Antônio (1934) – Lamartine Babo A fim de bisar o sucesso do ano anterior, Lamartine Babo compôs para 1934 outra marchinha junina, e chamou para gravar, novamente, a dupla Carmen Miranda e Mário Reis. Deu certo. Essa canção brinca com os milagres praticados por São Pedro, Santo Antônio e São João ficou entre as mais executadas. “Eu pedi numa oração/ao querido São João/que me desse um matrimônio/São João disse que não/isto é lá com Santo Antônio”, diz em versos. Notadamente vem Pula a Fogueira (1936) – Getúlio Marinho e João Filho Lançada por Francisco Alves em 1936, época áurea do cantor tido como o Rei da Voz, “Pula a Fogueira” é presença garantida nos festejos, ela aborda a tradição descrita em seu título. Originária dos tempos mais remotos a fogueira foi, aos poucos, incorporada aos festejos para louvar, principalmente, São João. Os versos ganham teor romântico: “olha que a fogueira já queimou o meu amor” e por fim, mas não a última pois tenho certeza que muitos leitores vão lembrar muitas outras vem a que eu tenho um carinho especial. Pedro, Antônio e João (1939) – Benedito Lacerda e Osvaldo Santiago Também em 1939 o compositor Benedito Lacerda, que havia acompanhado com seu regional a cantora Dalva de Oliveira na gravação de “Noites de Junho”, deu a sua contribuição para a festa. É dele e de Osvaldo Santiago a autoria de “Pedro, Antônio e João”, não por acaso lançada por Dalva. Assim como na música de Lamartine Babo se inspira nos santos louvados: “Com a filha de João/Antônio ia se casar/mas Pedro fugiu com a noiva/na hora de ir pro altar”. Viva São João e até a próxima semana, escrevendo sobre cultura popular e erudita aqui no Correio de Corumbá, o jornal mais eclético da cidade.

*Poeta e escritor. Membro do Conselho de Cultura, Comendador condecorado com as comendas Vespasiano Martins, Visconde de Taunay e Wilson Fadul. Laureado com as medalhas Zumbi dos Palmares. Marçal de Souza e Francisco Anselmo. Detentor dos títulos de cidadão dos municípios de Anastácio, Dois Irmãos do Buriti, Aquidauana, Bodoquena e Corumbá.  Articulista, com 1291 artigos publicados.

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