Peça infantil aborda questões de gênero na tarde desta quinta na Mostra Boca de Cena

Cena do espetáculo teatral ‘Judith e Sua Sombra de Menino’ – Foto: Thays Nogueira/Divulgação

Campo Grande (MS) – A peça infantil “Judith e sua sombra de menino”, do grupo de teatro “Não é Grupo”, de Dourados, encenada na tarde desta quinta-feira (29 de março) no Teatro Dom Bosco, durante a Mostra Boca de Cena, aborda de forma sensível, com linguagem acessível às crianças, as questões de gênero. O espetáculo busca refletir, de forma lúdica, acerca dos padrões de comportamento impostos à meninas e meninos.

A partir a obra “Julia e sua sombra de menino” de Christian Bruel, publicada originalmente na França em 1976, o Coletivo Douradense faz uma homenagem à filósofa estadunidense Judith Butler, cujo trabalho questiona uma concepção binária e compulsório de gênero. A peça recebeu incentivo do Prêmio Funarte Myrian Muniz/2015.

A atriz Junia Pereira, que faz o papel da protagonista Judith, diz que o grupo de Dourados surgiu a partir deste projeto. “Eu tinha o desejo de montar essa história, fiz o projeto para o Prêmio Myrian Muniz, chamei o Gil Ésper para dirigir e fui formando a equipe. Muitos já tinham trabalhado com o Gil, tínhamos ligação com a UFGD, o pessoal já se conhecia”.

Junia diz que a questão de gênero já está inserida naturalmente no universo infantil, e o objetivo da peça é trazer um questionamento, uma reflexão a respeito do tema. “A gente buscou que fosse algo muito tranquilo, para nós este tema não é um bicho de sete cabeças, essa questão já é colocada para as crianças, não é algo estranho, a gente fala do que elas já vivem, de uma forma lúdica. Nosso objetivo não é trazer uma lição de moral, mas deixar uma reflexão, gerar mais perguntas que respostas, trazer questionamentos”.

Para o grupo, é uma alegria muito grande participar do Boca de Cena. “Para nós, que estamos em Dourados, estamos próximos de Campo Grande, mas é um próximo distante. Então esta é uma oportunidade única, é muito importante, esse intercâmbio com outros grupos é fundamental, não queremos ficar isolados”, finaliza Junia.

O estudante Jonatas Theodor André, de nove anos, assistiu a uma peça teatral pela primeira vez em sua vida. Trazido pela irmã Shaelly Stephany, Jonatas era só alegria. “Eu gostei da Judith, ela fala muito bem!” Jonatas, que gosta de matemática e quer ser motorista, subiu ao palco no final da peça para cumprimentar os atores e atrizes e deu um abraço especial na Junia Pereira, a “Judith”.

Os amigos Ana Kariny Campeiro Silva, estudante de psicologia, e Yuri Tavares, ator do grupo Fulano di Tal, queriam assistir à peça já há algum tempo. “Queria ver como o grupo ia tratar esse tema por ser uma peça para crianças. É muito sensível, chorei a peça inteira. Eu sou gay, passei por isso quando era criança. Eu não tenho esse negócio da transexualidade, mas gostava de fadas, bonecas, não tinha problemas com isso, mas as pessoas falavam. A peça tem muitas referências, nós podemos ser as cores do arco-íris”, diz Yuri.

Sua amiga Ana Kariny afirma que abordar o tema é muito importante. “Os pais da criança na história contada no espetáculo não sabiam como lidar com as diferenças da filha. Essas crianças às vezes gostariam de brincar de carrinho e começam a questionar os pais”.

Os atores Bruno Loiácono, Andressa Bussolaro e Brisa Ramos acham que todo mundo deveria assistir ao espetáculo. “É uma peça infantil, mas em determinados momentos chega a ser para adultos. Somos arte educadores, a gente sabe o grau de responsabilidade que é educar uma criança. A arte tem o objetivo de ser arte, mas acaba levantando questionamentos que educam. A peça é sensível, abarca todos, o menino, a menino. É gostoso ver gente usando sua ferramenta, o teatro, para fazer isso”, diz Bruno.

Andressa completa: “A gente que vive o dia-a-dia trabalhando com adolescentes, a gente sabe a dificuldade que é falar sobre gênero, como tratar isso de maneira adequada. Principalmente no momento atual é difícil falar de gênero por se tratar de algo tão pessoal e estereotipado pela sociedade. Nada melhor que a arte para trazer isso, este espetáculo vem para isso”.

A Mostra Sul-Mato-Grossense de Teatro e Circo – Boca de Cena 2018 traz espetáculos gratuitos de teatro e circo até o dia 1º de abril, próximo domingo. Confira a programação completa clicando aqui e programe-se para participar!

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