Desordem na audição prejudica desempenho escolar

Pesquisa de instituto americano aponta que distúrbio atinge 7% das crianças.

Foto: Divulgação

Quando uma criança ou adolescente apresenta dificuldade na escola, muitos pais e professores já acham que se trata de desatenção, hiperatividade ou até mesmo dislexia. Porém, poucos avaliam que o problema pode estar na audição, é o que comenta a fonoaudióloga Cintia Fadini.

Cintia conta que há alunos que possuem uma dificuldade no processamento perceptual da informação auditiva chamado Transtorno, ou Desordem, do Processamento Auditivo (DPAC). Apesar de ser pouco conhecido, uma pesquisa realizada pelo instituto American Speech-Language Hearing Association (ASHA) revelou que o DPAC atinge 7% das crianças em idade escolar.

Esse transtorno é caracterizado por afetar as vias centrais da audição humana, ou seja, as áreas cerebrais relacionadas às habilidades auditivas e de interpretação das informações sonoras. A principal consequência do transtorno está no processamento das informações captadas pelas vias auditivas.

– A criança consegue ouvir claramente a fala humana. Não é considerada surda. Porém, ela possui grande dificuldade em decodificar e interpretar a mensagem recebida na presença de barulho, principalmente – explica.

Segundo a profissional, as crianças com DPAC são consideradas preguiçosas e desatentas. Ela diz que geralmente são alunos que têm dificuldade de prestar atenção ou são agitados e, assim, têm seu desempenho acadêmico prejudicado. “O transtorno os impede de acompanhar e memorizar as instruções do professor. Então, acabam perdendo todo o foco da aula”.

Dra. Cíntia Fadini, mestre em fonoaudiologia pela UNESP – Foto: Divulgação

Ela conta que é comum esses estudantes apresentarem dificuldades de aprendizagem ou trocam de letras na hora de ler e escrever. Muitos possuem dificuldade de memória, cansam-se rapidamente quando estão assistindo às aulas ou palestras. Geralmente, não conseguem ouvir nem prestar atenção em ambientes com muitos ruídos. Quase sempre pedem para repetir uma pergunta ou frase, falando “o que?”, “hã?” ou “não entendi”.

– Em muitos casos não conseguem conversar com muitas pessoas ao mesmo tempo e têm dificuldade para localizar de onde um som está vindo – comenta.

A fonoaudióloga conta que também realizou uma pesquisa de iniciação científica sobre crianças com dificuldades na aprendizagem. Das 60 crianças avaliadas, um terço apresentou dificuldades na aprendizagem, mas apenas uma tinha dislexia. Ou seja, a maioria das crianças apresentavam apenas falha na estimulação nas habilidades que antecedem o processo de leitura e escrita, como as de processar as informações auditivas.

– Não há crianças preguiçosas. Elas sempre querem aprender, só que muitas delas não possuem as habilidades auditivas necessárias para que isso ocorra. Então, criamos possibilidades para resolver isso. Elas merecem essa oportunidade – destaca.

Busca de diagnóstico

Fadini conta que recebe muitos pais completamente desesperados por conta da situação. Ela diz que há crianças sendo medicadas sem necessidade e famílias se excluindo do convívio social, o que acentua o problema. “Por isso é muito importante buscar o diagnóstico correto”.

– Somente com o exame do Processamento Auditivo é possível verificar a capacidade da criança de prestar atenção, detectar, discriminar e localizar sons, além de organizar, memorizar e integrar as experiências auditivas para atingir o reconhecimento e a compreensão – diz.

Cintia comenta que os testes são compostos por provas que procuram medir a habilidade do indivíduo em reconhecer, discriminar e memorizar um determinado estímulo, mesmo quando as condições de escuta são dificultadas.

Tratamento

Já o tratamento é realizado por meio de um treinamento auditivo, que pode ser feito em crianças a partir de seis anos de idade após o diagnóstico. O objetivo das sessões é buscar uma reorganização neuronal do sistema auditivo e das conexões com outros sistemas sensoriais, causando melhoria das habilidades que estavam anteriormente alteradas.

A partir de algumas sessões, muitos pacientes já apresentam melhoras significativas. A fonoaudióloga diz que recebeu em seu consultório uma jovem que chegou a repetir o ano escolar. “Ela não conseguia ler e sua autoestima estava muito comprometida. Mas após o tratamento, ela superou as dificuldades e, hoje, é uma criança feliz”.

– Infelizmente, muitos buscam tratamento em fonoaudiologia só após passarem por diagnósticos errôneos, inclusive de deficiência intelectual. É uma cena triste, já que são casos de pessoas inteligentes e completamente reabilitáveis – reforça.

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