Vida e obra de Lídia Baís são retratadas em peça teatral patrocinada pelo FIC

Campo Grande (MS) – Um espetáculo forte e ao mesmo tempo suave, com Tatiana De Conto interpretando, sozinha no palco, a artista Lídia Baís, uma mulher à frente de seu tempo. A peça, que leva o nome da artista que aqui viveu no século passado, é bastante didática, contando as diversas fases da vida de Lídia, desde a vinda do pai, Bernardo, da Itália; seu nascimento, quando Bernardo tinha apenas 16 anos; quando saiu de casa para fazer seus estudos, a estada na Europa e sua fuga para o Rio de Janeiro.

A peça aborda também o acontecimento de sua interdição, seu casamento com o filho do seu advogado, a anulação do casamento, que não foi consumado, e a revogação da interdição; a volta para Campo Grande e como Lídia viveu, até os 85 anos, administrando a herança dos pais, já falecidos.

Toda a história é contada permeada de obras da artista. Alguns quadros de Lídia fizeram parte do cenário e da encenação em alguns trechos. Também foi falada sobre sua obra musical, que como foi gravada numa época anterior aos discos de vinil, para ser recuperada e ouvida precisa ir para São Paulo e serem utilizados os equipamentos adequados. “Tarefa para os musicistas e estudantes de música”, diz De Canto. As músicas são acervo do MIS e alguns exemplares estão na Morada dos Baís.

Após o espetáculo foi realizada um bate-papo com a participação da atriz, Tatiana De Conto; a diretora, Thaty D. Meo e a pesquisadora Fernanda Reis. O público aproveitou a ocasião para fazer perguntas e comentários sobre a peça.

A produtora Thaty D. Meo agradeceu a presença de todos e disse ser um desafio imenso contar a história da Lídia Baís por meio do teatro. “Tivemos nosso projeto aprovado pelo FIC e produzimos um trabalho de caráter pedagógico com uma ‘pegada’ artística, respeitando a atuação da contadora de histórias, que não é atriz. Hoje é um dia muito especial, pois estamos na cada da Lídia, contando a história dela. A arte tem esse papel, de promover, tocar, emocionar”.

Tatiana De Conto disse que não é atriz, é psicóloga por formação, e faz um trabalho terapêutico por meio da contação de histórias. “Eu uso a arte como ferramenta para chegar na vida das pessoas. Foi assim que surgiu a primeira versão da peça, que foi uma contação para crianças. Em 2015. Enquanto eu esperava um ônibus e outro, eu ia ao Marco, que ficava na avenida Calógeras e me encantava e espantava com as obras. Eu não imaginaria que estaria aqui hoje nessa casa fazendo um processo de cura do feminino”.

Tatiana falou sobre a época em que Lídia viveu, no início do século passado. “Naquela época, uma menina que transgredia ia para a fogueira. Lídia foi internada. Ainda hoje continuamos indo pra fogueira. Quando encontramos uma mulher que transgride, ela choca, vira fofoca. O feminismo é uma postura de vida, de valorização do feminino nesse espaço de vida. Estamos prestes a fazer 40 anos de Estado. Se a Lídia é uma desconhecida hoje, significa que não estudamos história regional nas escolas”.

A atriz-contadora de histórias-psicóloga agradeceu ao Fundo de Investimentos Culturais pelo apoio. “Agradeço ao FIC, é superimportante essa parceria para dar voz, é a possibilidade de se fazer alguma coisa que toca nosso coração e tornar isso realidade”.

A pesquisadora Fernanda Reis era só elogios a Tatiana: A sensibilidade, o carinho, a paixão que você coloca na sua interpretação são divinos. Eu terminei o mestrado e decidi que tinha muito mais coisa para se saber sobre essa mulher. Decidi continuar no doutorado. É sempre emocionante falar sobre Lídia”.

Presente na plateia, dona Maria Garcia, trineta de José Antônio Pereira e vizinha e amiga de Lídia e de toda a família Baís, foi convidada a falar sobre sua vivência. “Eu agradeço a gentileza, aos corações generosos que veem nos outros, qualidades que eles mesmos possuem. Eu moro próximo da casa onde a Lídia morou, na rua 15 de novembro. Ela foi uma mulher fora do seu tempo. Lembro da maneira como ela se vestia, com aquela sainha pregueada, cabelo com cachos, pessoa muito ativa, pintava muito bem, uma mulher além do seu tempo. Eu me pergunto: será que ela realizou tudo o que sonhou? A atriz a interpretou muito bem, ela se saiu muito bem no monólogo. O que a gente sabe da história a gente conta”, diz dona Maria, que hoje tem 89 anos e muita história pra contar.

O espetáculo “Lídia Baís” vai circular por mais quatro municípios do Estado, com 17 apresentações, todas abertas ao público, com entrada franca. Mais informações sobre a circulação do espetáculo podem ser obtidas no FIC, pelo telefone (67) 3316-9320.

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