A encruzilhada do dia 7

Jornalista Juca Kfouri – Foto: Divulgação

O presidente da República está cada vez mais isolado e reage com atos diretamente proporcionais ao seu desespero. Tem quem o ouça entre os bolsonaristas de raiz, estimulados pelas redes antissociais que dominam e com a cumplicidade criminosa de programas fascistoides na mídia eletrônica, além de novos veículos que surgiram graças ao financiamento público, como demonstrado pelo Tribunal de Contas da União.

O 7 de Setembro aparece como ameaça às instituições e reúne um bando de malucos incentivados por gente como o tal coronel Azim, da reserva do Corpo de Bombeiros, com discurso típico dos torturadores do DOI-Codi —quem esteve lá identifica o tipo sem dificuldade. Azim provavelmente jamais deu um tiro na vida, no máximo manobrou mangueiras, no que fez muito bem.

Mesmo que nas Forças Armadas haja quem diga que tudo não passa de blefes, ou que até o vice-presidente da República fale em “fogo de palha”, nunca será demasiado alertar que, em clima quente e seco, uma fagulha pode botar fogo no circo.

“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”, gostava de dizer Martin Luther King, frase que, se não cabe para o momento atual do país diante de tantas vozes a denunciar os desatinos da extrema direita, reforça a necessidade de atitudes concretas para evitar derramamento de sangue nas ruas brasileiras.

A situação exige coragem, firmeza e bom senso. Coragem para enfrentar com a Constituição todos e quaisquer atos, por palavras e gestos, que a desobedeçam. Firmeza para não recuar diante de eventuais resistências ensandecidas. Bom senso para não cair em provocações e nas armadilhas dos agentes do caos.

A história nos ensina o quanto já se mentiu no Brasil para ferir a democracia e instalar ditaduras.

Do inventado Plano Cohen, em 1937, às notícias falsas dos dias de hoje, para ficar apenas da primeira metade do século passado até agora, falácias jamais faltaram, como o perigo do comunismo.

Confronto só interessa aos violentos, capazes até de simular conflitos para justificar o injustificável, fazer vítimas fatais para forjar culpados.

O presidente da República, decacampeão nacional em crimes de responsabilidade, noves fora as “rachadinhas”, já pregou o fuzilamento de 30 mil brasileiros antes de colaborar com sua insanidade para as quase 600 mil mortes da pandemia. Terrorista desde os desde seus tempos no quartel, é a paz que lhe causa dor.

Há quem veja na falta de rupturas radicais, na ausência de uma guerra civil, o não chove nem molha da história brasileira.

Não derrubamos a Bastilha, não libertamos os escravos à bala, não invadimos o Palácio de Inverno.

Os que enraivecidos, ou quimicamente ouriçados, açulam os demais, “em nome da democracia”, contra o Supremo Tribunal Federal ou contra o Congresso Nacional, nada mais querem se não manter seus privilégios —nem aí para os famélicos e desempregados.

Cabe aos democratas a serenidade de quem receia a barbárie sem temor de enfrentá-la.

Não será preciso fazer bravatas, distribuir convocatórias enlouquecidas, gritar em microfones com ares e olhares ridiculamente ameaçadores que não resistem a um susto; nada disso. Apenas a tranquilidade de estar do lado da civilização, das leis, da justiça social. E não permitir aos tresloucados que tentem executar o que ameaçam, bravatas ou não.

*Jornalista, colunista da Folha e Conselheiro Consultivo da ABI

Fonte: Associação Brasileira de Imprensa/ABI

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