A profundeza da dor!

Nenhuma dor é fielmente imaginável até ser, de fato, sentida. Na pele, na cabeça, no peito. Em corpos e vidas inteiras. Famílias inteiras, conhecem, com propriedade, uma angústia que tem afetado o mundo todo – a das mortes causadas pelo Covid-19, que se espalha rápido, invisível e letal. A “dupla morte”, deixará marcas psicológicas em milhares de pessoas impedidas de simplesmente “viver o luto”. O ritual do velório, é a primeira tentativa de se compreender, o vazio. Freud dizia que é algo no limite do inaceitável. Por mais que esteja noticiado [a morte], a gente “sabe disso” para os outros, mas não sabe para si e além de evocar dor e luto, também servem como “um impulso vital muito forte, que diz respeito ao desejo de sair desse drama”.  Somos chamados a prestar atenção a nós mesmos e aos outros da mesma maneira. O senso de comunidade é realmente importante. O sentido é preservar-se do vírus para preservar os outros.

Fotos: Divulgação

A morte vive envolta em um véu. Morrer é uma derrota da humanidade, tornado significativo e com intensidade, principalmente quando se deveria ser “protegido” por seu PAÍS, principalmente quem honrou sua bandeira em vida, tratando a todos com cortesia ímpar.

Tarde demais para Aladio Jorge Aranda, a quem dedico esse artigo, e comungo do desespero das 215 pessoas que neste momento estão internadas na capital por coronavírus. (Restam apenas 21 leitos livres). Ele, infelizmente, faleceu essa semana, em decorrência da Covid-19. Estava há cerca de um mês internado no Hospital El Kadri, e em razão de complicações da doença, sofreu duas paradas cardíacas e não resistiu. Foi primeiro secretário da Câmara Municipal constituinte e presidente da comissão de sistematização em 1990, no município de Aquidauana. Foi professor, cronista esportivo sempre perto do “azulão” de Aquidauana, e manteve um site de notícias, o aquidauanaonline, aonde eu tive a honra de publicar muitas das minhas 1363 histórias.

Quero ressaltar, ainda sobre o isolamento social (que não vejo mais). Os números são relevantes para o mapeamento de um cenário de risco coletivo, todavia as palavras também se fazem essenciais para que a vida se sobreponha. Quando a morte chega ao lado, quando despedir é necessário, quando não há mais o que dizer. A Covid se aproxima e está levando nossos amigos. Aqueles que dividiram noites, dias, feriados. Dividiram angústias e preocupações. Eles possuem nome…faziam a diferença neste mundo cruel. Tinham planos e sonhos como todos nós. Só que eles já não estão mais aqui. Foram levados pela doença, pelo despreparo da instituição que trabalhavam, pelo descaso dos governantes e das próprias pessoas que, por interesses diversos e diferentes do que nossos ditames, se propuseram defender. Ficamos nós sentindo, que podemos ser os próximos se nada for mudado; talvez com a chegada da vacina. Mas antes de qualquer vacina, precisamos mudar nossas atitudes em relação a essa pandemia e ao nosso próprio dia a dia.

Agora o nosso “Bugão” como o dizia o parceiro de mais de duas décadas de trabalho, Valter Lopes (o último a vê-lo alegre em seu último dia de labuta); emocionado lembrava, e “meu gordinho” como Suanã em prantos, me disse, voltou a morar na Casa do Pai. Muitos, eu sei, vão dizer, ‘que escritor pretensioso, como ele sabe que o Aranda vai para Deus’. E eu me confesso pretensioso sim, mas tenho minhas razões. E a principal é a quantidade de amigos, alunos e colegas de rádio, que percebemos que ele tinha. E quem tem amigos nessa profusão, não pode carregar maldade. Ele foi tão bom, que cumpriu sua missão mais rápido e, como diz Rolando Boldrin, viajou antes do combinado. Vai amigo, vai para Deus, qualquer dia estaremos ouvindo aquelas músicas antigas novamente. Confesso apenas que, não há como se preparar para a morte. Viva o hoje, cuide a si e a quem estiver por perto. O tempo não para!

Fotos: Divulgação

*Articulista

2 Comentários sobre “A profundeza da dor!”

  1. Maria Cristina Torres disse:

    Parabéns. Linda homenagem. Que todos sejamos mais cuidadosos, mais atenciosos com as pessoas e consigo mesmo.
    A vida é apenas um sopro que não percebemos a hora que ela vai partir e deixar saudades.

  2. Sandra Cristina Ramos disse:

    Excelente artigo e belissima homenagem ao sr. Aladio Aranda. Mas também não deixa de ser um alerta para com os cuidados ao covid…(O sentido é preservar-se do vírus para preservar os outros.)
    Parabéns Rosildo Barcellos, sempre com excelentes artigos.

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