Ensino de mindfulness para adolescentes: afinal, todos nós precisamos aprender mais sobre nós mesmos

Daniela Degani – Foto: Arquivo Pessoal

A verdade é que, se os adolescentes estão passando por um verdadeiro turbilhão de transformações, falar sobre isso e expor sem julgamentos esses sentimentos pode dar um certo conforto e ensiná-los a lidar com suas questões internas.

Alison Cohen, professora de mindfulness e palestrante, fala sobre o ensino da prática a adolescentes e sublinha a importância de que os professores deem a eles não apenas espaço para falarem sobre suas experiências, mas também para que possam ouvir, com compaixão, a experiência que outros colegas compartilham. Adolescentes, lembra ela, precisam estar atentos a si mesmo e serem encorajados a praticar o autocuidado, para dar conta das mudanças físicas, emocionais, afetivas, psíquicas e mentais típicas da idade.

A importância da prática de mindfulness para os mais jovens tem ainda outro papel. Segundo Chris McKenna, um dos fundadores da Mindful Schools, o desenvolvimento do sistema nervoso humano, em crianças, é informado e influenciado pelo sistema nervoso dos adultos com quem ela convive. Como, para ensinar a prática de mindfulness, é recomendável que o próprio professor pratique, os benefícios da meditação vão atingir a quem ensina, influenciando de maneira positiva o sistema nervoso de seus alunos.

Não tente me corrigir

Enquanto cuidadores e responsáveis, sempre que interagimos com nossos alunos, nós os influenciamos de alguma forma. Ao ensinar adolescentes, mais do que o que dizemos, é a maneira como nos portamos que vai influenciá-los. Autenticidade, capacidade de se relacionar, se estar confortável em seu próprio corpo e autocentramento vão permitir que eles se sintam melhores.

Por isso, o papel do professor vai além de ensinar formalmente: cultivar abertura, curiosidade e atenção é importante para que os alunos se encorajem a navegar em seu próprio mundo interno, mesmo que isso pareça um pouco confuso.

Entretanto, enquanto professores, precisamos estar atentos para não querer oferecer respostas prontas, ou dar a impressão de que nossos alunos adolescentes estão “errados” e precisam de “ajustes”. O adolescente está se descobrindo, e as respostas internas certamente serão mais relevantes que as “broncas” ou as tentativas de corrigi-los. Sob esse aspecto, a prática de mindfulness também nos ensina a sermos gentis e generosos (consigo e com os outros), a não julgar e a enxergar em cada um de nossos alunos, um ser único, uma integridade que tem, também, falhas. “Se compartilharmos nossa prática com eles, eles também terão a oportunidade de transformar suas próprias vidas”, afirma Alison.

Ela lembra que a vulnerabilidade – que se apresenta a cada vez que trocamos experiências e compartilhamos as dificuldades e os êxitos de nossa prática – é uma das principais forças que nos conecta. Por isso, sugere que o professor seja sincero, que dialogue verdadeiramente com seus alunos sobre sua própria prática. Isso pode ser uma chave para que eles se conectem. “Não lide com os adolescentes como se eles não fossem capazes, como se eles precisassem se ajustar. Todos buscamos equilíbrio emocional, solidariedade e compartilhar nossos sentimentos”.

Kit de ferramentas para mentes e corações

Alison diz que sempre é perguntada sobre como um professor pode começar a prática com seus alunos adolescentes e como fazê-los ter interesse. Ela sugere que pensemos sobre o que os motivaria a praticar mindfulness, além de também responder à curiosidade natural deles com honestidade. Afinal, não será incomum que eles perguntem ao professor o que o leva a praticar.

Ela conta que sempre compartilha com os alunos questões que tinha quando era da idade deles. “Eu sempre me perguntava porque estudar matemática e não conversar também sobre o que me preocupava, sobre as emoções extremas pelas quais eu passava, como raiva, ansiedade e aflição. Mais tarde, quando descobri mindfulness, entendi que esse é um kit de ferramentas, um manual do usuário para mentes e corações”.

Se, mesmo assim, algum aluno parecer desinteressado na aula, ela lembra que ele pode estar apenas “parecendo” desinteressado, seja porque aquele não é momento para que comece a prática; seja porque esteja passando por um momento difícil que o impede de se abrir para ela. E, por isso, sugere que o professor não imponha a prática, mas que se mantenha atento a esse aluno. Diga que ele pode se sentir à vontade, inclusive para não realizar a prática, desde que não atrapalhe quem tem interesse nela. Ao final, pergunte a ele o que achou da aula e tente incentivá-lo a compartilhar seus sentimentos e emoções.

Mindfulness, afinal, é sobre estar atento ao presente e saber que nada é permanente. E, como a prática nos ensina a oferecer atenção deliberada e delicadamente a tudo o que surgir ao nosso redor e dentro de nós mesmos, com curiosidade e gentileza, ela também ensina que, tanto quanto falar, precisamos ouvir os outros com compaixão.

*Daniela Degani é especialista em meditação mindfulness, certificada pelo Mindfulness Training Institute da Inglaterra, e idealizadora da MindKids.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Topo