Mário Márcio em seu primeiro aniversário na eternidade

Neste dia 15 de setembro, semana de véspera da primavera, um Pai chora a ausência eterna de um aniversariante. Trata-se do Senhor Jorge José Katurchi, que do alto de seus quase 94 anos, chora incontidamente a dor da partida de Mário Márcio Maldonado Katurchi, sem ter podido se despedir dele.

Embora o Pai e o Filho tivessem muitas afinidades e uma personalidade muito parecida, a Vida, em seus labirintos inexplicáveis, em momento algum permitiu, no entendimento do sábio nonagenário, um momento de confidências. Foi na longa agonia da esperada recuperação de Mário Márcio ─ primeiro em Campo Grande e depois em São Paulo ─ que Seu Jorge foi descobrindo a alma-gêmea que sempre esteve ao seu lado.

Sobretudo depois da dolorosa partida do Filho, quando ao Pai coube a dura missão de reunir papéis disciplinadamente acondicionados e que, como um filme, permitiram rever a trajetória de Mário Márcio desde o seu retorno a Corumbá, depois de ter-se formado em uma das melhores faculdades de Economia do país.

Mais que a competência profissional, discretamente revelada em anotações minuciosas, Mário Márcio era um observador arguto da realidade, que sob o manto da irreverência habitual se permitia alertar os mais próximos. Quem dera que seus contemporâneos tivessem um lampejo dessa luz, para a felicidade do povo de sua letárgica Corumbá…

Além disso, dono de um coração generoso e gigante, nunca postergou suas iniciativas solidárias, sempre mantidas a sete chaves. Isso jamais deixou relatado. À medida que as pessoas são informadas de sua partida extemporânea, inúmeras são as revelações de uma personalidade capaz de compartilhar todo bem material.

No entanto, e Seu Jorge se entristece também por isso, guardava com o mesmo zelo as suas aflições, decepções e, sobretudo, seus problemas de saúde, próprios da maturidade que alcançara. Ainda que fosse um paciente disciplinado, não permitia que alguém se preocupasse com sua saúde, até porque ele sabia se cuidar.

Surpresa maior para um Pai zeloso como Seu Jorge é saber que seu Filho, agora ausente para toda a eternidade, não era diferente dele, até na forma de anotar tudo. Até sua preocupação com Corumbá, seu amor pela Família…

Já diz a sabedoria popular, Deus escreve certo por linhas tortas. A longa agonia vivida pelo Pai e toda a Família nos últimos dois meses, antes de sua eternização, permitiu, a despeito da angústia e do sofrimento, que Seu Jorge se preparasse para esse momento e recebesse a surpresa de ter um grande Filho, talvez maior que ele mesmo, afinal, acrescido das virtudes de Dona Anna Thereza, sua saudosa Companheira de Vida.

Em vez de lamentações públicas e cenas dramáticas, Mário Márcio deixou esta surpresa, como forma de mitigar a dor de sua partida. Um pingo de esperança e de conformação, ao se revelar ao Pai que sempre amou e com quem se espelhou naturalmente.

*Ahmad Schabib Hany

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