Soluções para aperfeiçoar drenagem são expostas em Painel Internacional na Câmara

Os desafios da drenagem urbana foram debatidos na Câmara Municipal de Campo Grande, durante a sexta-feira (7), contando com vários especialistas no assunto. O Painel Internacional Drenagem Urbana – desafios e oportunidades foi proposto pelo vereador Eduardo Romero, vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente da Casa de Leis e coordenador nacional da Frente Parlamentar de Vereadores Ambientalistas, com objetivo de integrar planejamento e ações baseadas em pesquisas científicas, bem como aquelas que estão sendo aplicadas por gestores que atuam nessa área. A Política de Manejo e Águas Pluviais de Campo Grande e discutiu-se como algumas medidas podem ser aperfeiçoadas.

O Painel Internacional integra as ações do Junho Verde e da Semana do Meio Ambiente, somando-se a eventos promovidos nos últimos dias para debater essa temática. “É um desafio no mundo inteiro, aqui basta chover mais forte que temos alagamentos. Drenagem não é algo que você estala o dedo e resolve, precisa conhecimento, estudos. Tivemos oportunidade de conhecer elementos para melhorar a drenagem, as políticas integradas e também criarmos oportunidade para buscarmos parcerias”, afirmou o vereador Eduardo Romero.

Soluções para aperfeiçoar drenagem são expostas em Painel Internacional na Câmara – Foto: Assessoria

O vereador enfatizou as contribuições do debate. “Fazemos o diálogo entre sociedade civil organizada, empresariado, área de pesquisas científicas, Legislativo e Executivo. Teremos nossos atritos, mas essa experiência faz com que ganhemos em conhecimento. Não existe passe de mágica, estamos habituados com questões de curto prazo, mas precisamos pensar naquelas de médio e longo prazo. Em Campo Grande, avançamos em legislações, mas ainda temos muito mais a crescer e evoluir”, afirmou.

O professor doutor José Góes Vasconcelos Neto, da Universidade de Auburn (Alabama, EUA), considerado referência no assunto, trouxe ao debate sua experiência de 20 anos trabalhando com drenagem urbana, tanto na área acadêmica como ajudando gestores a montar planos de drenagem em várias cidades do mundo. “Atuamos em colaboração com universidades e aproveitamos todas as oportunidades de integração. Todas as cidades têm esse mesmo problema em comum e há interesse em resolvê-los. Precisamos de um ganho de perspectiva, adotando novas práticas, novas tecnologias”, disse. Por isso, ele enfatizou a necessidade de integração com as universidades para buscar essas soluções.

Com imagens de algumas medidas implantadas, ele demonstrou obras e recursos para melhorar a drenagem urbana, citando que Campo Grande tem oportunidade de se tornar vitrine no manejo de águas pluviais. Apresentou o reservatório de usos múltiplos, em que esse espaço é agregado à paisagem urbana, até valorizando a região do entorno, inclusive com bancos feitos de grama, para melhorar a permeabilidade. Nesta mesma linha, outra opção sugerida seria substituir os canais de concreto, optando pelos canais de grama, sem esquecer da manutenção.

Há ainda o desafio para controle de sedimentos, pois a água da chuva acaba carregando lixo, fertilizantes, óleo de motor. Outra preocupação é com o sedimento dos canteiros de obra, pois não há qualquer controle para evitar que sejam carregados para a rede. Montar um manual técnico para destinação e acondicionamento dos resíduos nas obras foi uma das alternativas apresentadas.

Pesquisas e prática

O professor doutor Paulo Tarso Sanches de Oliveira, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), falou do Sistema de Alerta e Previsão de Inundação (SAPI) para Bacias Urbanas. O ponto de partida para começar a estudar o tema foi quando, da janela do prédio onde mora, viu o alagamento em avenida de Campo Grande e começou a pensar o que poderia ser feito para evitar aquele problema recorrente.

Pesquisas são feitas na Bacia do Prosa, incluindo topografia, pontos de medição da vazão, manutenção dos pluviômetros instalados pela administração municipal para monitorar a realidade e aplicar o modelo de estudos. “O objetivo é gerar esse sistema online e como público teria acesso a isso. Assim, a população pode ter informações sobre esses pontos de alagamento”, disse o doutor Tarso Sanches. Ainda, está sendo desenvolvido aplicativo e novos equipamentos instalados na Bacia. A ideia é avaliar outras bacias e utilizar diferentes técnicas de engenharia para saber os efeitos.

Também da UFMS, o professor doutor José Marcato Junior, da área de Engenharia Cartográfica, abordou as aplicações de VANT no contexto de monitoramento hídrico, mostrando como os drones estão sendo bastante utilizados em aplicações dentro de contexto ambiental. “Temos alguns trabalhos utilizando o deep learning (que propicia os reconhecimentos de imagens), possibilitando identificar espécies arbóreas e análise das condições do asfalto”, afirmou. Ele ponderou, porém, que a utilização dos drones nas áreas urbanas esbarra em questões legais. Ele mencionou algumas aplicações de uso de imagens para obter dados e, assim, dar suporte às pesquisas na área de recursos hídricos.

A vereadora Enfermeira Cida Amaral, que também acompanhou o Painel, enfatizou a preocupação com as enchentes em vários bairros da cidade e agradeceu a oportunidade de conhecer novas soluções para compreender melhor o que pode ser feito. “Não dá para falar de saúde sem falar de meio. Obrigada aos professores e especialistas por nos ajudarem a entender melhor”, afirmou.

Projeto Municipal

O engenheiro civil Marcos Cristaldo, da Central de Projetos da Prefeitura de Campo Grande, apresentou um retrospecto das ações executadas pela administração para tentar evitar as enchentes, desde a década de 1960, quando eram recorrentes os alagamentos na Rua Maracaju. Relembrou que o plano de ação que está sendo adotado atualmente partiu de relatório elaborado depois em Audiência Pública, em 2005, na Câmara Municipal para discutir as causas e soluções das enchentes.

Desde então, série de ações foram executadas, como processos de desfavelamento, construção de parques lineares, elaboração da Carta de Drenagem, urbanização de córregos, criação do Zoneamento Ecológico e Econômico de Campo Grande e capacitação de servidores. Cristaldo apresentou o Programa Municipal de Drenagem Urbana. “Temos cronograma até 2022 e técnicos de seis secretarias envolvidas integrados para desenvolver esse plano de ação. Buscamos capacitação aos técnicos da prefeitura. Pretendemos fazer a identificação de áreas impermeáveis, implantação de sistema de alerta, dados do sistema de drenagem, cadastro das micro e macro drenagens”, exemplificou.

Também estão sendo feitas as tratativas para Política Municipal de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais, o que precisa ser feito em até quatro anos, conforme estabelecido no Plano Diretor. Como base do sistema de drenagem, será contratada empresa para implantar modelo trabalho e cadastramento de toda a rede, com diagnóstico geral da drenagem na cidade, e aplicativo de alerta para informar sobre os pontos de alagamento. Ainda, há meta de software para os projetos de infraestrutura.

O secretário municipal de Infraestrutura, Rudi Fiorese, também esteve presente no evento e destacou que cada um precisa cumprir sua obrigação com o meio ambiente. “Os problemas vêm de nós e a solução também tem que vir. Precisamos mudar nossa maneira de pensar, agir. Precisamos buscar novos recursos, tecnologias”, afirmou, ressaltando a importância de debater novos projetos com a participação também de vários estudantes na plateia que poderão tomar decisões importantes em relação ao meio ambiente.

Acompanhamento

A promotora de Justiça Andreia Peres falou do trabalho do Ministério Público Estadual na Comissão Especial de Acompanhamento e Fiscalização da Drenagem Urbana em Campo Grande. Ele salientou a importância de esforço conjuntos e união de todos os segmentos para buscar soluções. “Recebo muitas demandas de cidadãos que têm suas casas alagadas todos os anos, são histórias de sofrimento, de apreensão e medo. Isso é muito preocupante. Ingressei com ações civis públicas, pedindo que Judiciário compelisse Município a resolver problema daqueles bairros”, lembrou.

Comissão, com várias pessoas da sociedade, foi formada para discutir ponto central na política de drenagem, relacionado à falta de recursos para execução das ações que constam no planejamento. A meta é incluir no orçamento essa previsão de investimentos para garantir que as propostas sejam colocadas em prática.

O Painel contou com a presença de vários profissionais da área, professores, acadêmicos que puderam conhecer mais sobre o tema. Estudantes de Publicidade e Propaganda da UCDB trouxeram à Casa de Leis o projeto Clique Verde, com exposição de fotos relacionadas ao meio ambiente. Também tiveram exposições dos projetos Arara Azul e Ipê Inteligência e Projetos Ecológicos. Ao final, os participantes puderam fazer pergunta aos palestrantes, esclarecendo dúvidas e também apresentando suas sugestões.

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