Por que estamos perdendo nossos lagos e lagoas?

Foto: Jean Fernandes

A imagem de um banco de areia no meio do lago do Parque das Nações Indígenas é de impressionar, e de tempos em tempos ela surge para nos fazer refletir. Os lagos do Rádio Clube e o do Sóter a nova geração talvez nem o tenha conhecido, o lago do Amor amargura tentando resistir, a lagoa Itatiaia segue por caminhos parecidos, em comum: todos tentando sobreviver. Por que os assoreamentos ocorrem nesses locais?

Primeiramente, precisamos refletir que com o desenvolvimento urbano, a construção de novas vias, a retirada de árvores para abertura de loteamentos e a implantação de empreendimentos no entorno desses espaços contribuem para o assoreamento.  Se mais pessoas estão morando nessas regiões, maior o índice de urbanização, que causa redução na permeabilidade do solo e diminui as áreas para que as águas de chuva infiltrem no solo.

Assim, em terrenos impermeáveis, com calçamento e asfalto, as enxurradas ganham maior velocidade e carregam detritos pelo caminho que, naturalmente, param nos locais mais baixos (como lagos, lagoas e córregos). De forma geral, é o mesmo problema que faz secar importantes corpos d’água de Campo Grande. Para evitar esses impactos, é importante que as diretrizes urbanísticas, principalmente relacionadas à permeabilidade do solo, sejam respeitadas. No mais recente Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental de Campo Grande, aprovado em 2018, constam critérios para uso e ocupação do solo, preservação de áreas verdes e estratégias relacionadas à recuperação e proteção dos corpos d’água do município.

Além disso, é fundamental a revisão e ampliação do Plano Diretor de Drenagem, elaborado em 2008, aprovado somente em 2015, que teve como foco a Bacia do Prosa. O desafio da revisão dessa legislação é a realização de um inventário da rede de drenagem existente e um diagnóstico que contemple todas as Bacias de Campo Grande, visando prevenir problemas de assoreamento, enchentes e alagamentos em toda a capital.

Medidas urgentes e necessárias devem ser adotadas, seja na construção de barragens/piscinões, recuperação de matas ciliares, ampliação de áreas permeáveis, porém, vale destacar que esses tipos de medidas custam caro para a sociedade e para o Poder Público, então, investir em ações de prevenção é sempre a melhor opção.

O planejamento e construção de boas legislações são de extrema importância para a resolução da problemática, porém, sem efetiva aplicação, tornam-se somente um amontoado de normas. Boa parte das medidas propostas no antigo Plano Diretor para Drenagem Urbana não foram cumpridas. Planejar o crescimento da cidade com respeito às áreas verdes e de proteção ambiental, sejam elas particulares ou públicas, é a chave para evitar esses problemas, que são desafios enfrentados em todas as grandes capitais do Brasil.

Não há solução mágica e nem isolada, é uma responsabilidade conjunta entre sociedade e poder publico, se faz necessário investimentos em infraestrutura e mudanças de comportamentos. Esses espaços não dizem respeito apenas a paisagem estética da cidade, são termômetros da qualidade de vida e do tipo de futuro que queremos para nossa Capital. Vamos juntos Campo Grande! Com qualidade de vida e uma cidade sustentável que garanta uma vida melhor para tod@s.

Curiosidade: 

Embora a expressão lago e lagoa tenham muita interferência do uso popular, os lagos têm característica preponderante por serem áreas represadas por ação humana ou natural. Assim ocorre nos lagos do parque das Nações Indígenas, do Rádio Clube Campo e Lago do Amor.

Já as lagoas seriam áreas que não dependem de represamento e nem sempre tem um curso d’água que as abasteçam, podendo ter contato direto com o lençol freático e nem sempre escoando suas águas por córrego, por exemplo. Em Campo Grande temos a Lagoa Itatiaia como referência.

*Eduardo Romero está vereador por Campo Grande, vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal e Coordenador Nacional da Frente Parlamentar de Vereadores Ambientalistas, Doutorando em Comunicação.

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