Semana Mundial da DPOC: Aumento do número de jovens fumantes é alerta para doença pulmonar crônica

Embora o número de fumantes esteja em queda mundialmente, cigarro eletrônico e narguilé ainda atraem público jovem

São Paulo (SP) – O hábito de fumar está diminuindo mundialmente desde 2000, segundo os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS)i. No Brasil, embora tenha ocorrido redução do número de fumantes, o Ministério da Saúde aponta que houve aumento no grupo de pessoas entre 18 e 24 anos e 35 a 44 anosii. Os números são preocupantes, porque o tabaco causa diversos problemas para a saúde, como doenças crônicas pulmonares e vasculares. A semana é de conscientização da DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), condição causada principalmente pelo tabaco.

Foto: Divulgação

O alerta para o consumo de cigarro é importante para promover o controle da doença, que é a quarta principal causa de morte no Brasil e, até 2020, deve se tornar a terceiraiii. Mundialmente, a redução do número de fumantes e a tendência de maior preocupação com a saúde não são suficientes para diminuir os danos que o tabaco provoca, já que a OMS estima que mais de 7 milhões de pessoas morrem anualmente devido a elei. A DPOC é uma condição crônica, o que significa que acompanhará a pessoa por toda a vida. A sigla indica a combinação de duas condições pulmonares bastante graves: a bronquite crônica, quando os brônquios estão com inflamação e produzem muita secreção, e o enfisema, que é a destruição das paredes das células dos pulmões.

Como os sintomas da DPOC são parecidos com os de outras doenças pulmonares, as pessoas que desenvolvem a doença não costumam dar atenção aos sinais no começo da doença e acabam procurando o especialista quando a condição está avançada. Os pacientes sentem falta de ar, tosse seca e pouca disposição para fazer as atividades do cotidiano, por conta da limitação do fluxo de ar que entra e sai dos pulmões. O diretor da Comissão de Infecções Respiratórias da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, Dr. Mauro Gomes, alerta que “os pacientes, muitas vezes, não sabem reconhecer e explicar para o médico exatamente o que estão sentindo. A falta de ar, por exemplo, costuma ser relatada como um cansaço constante. Muitas vezes eles atribuem isso ao sedentarismo, excesso de peso ou à própria idade e não imaginam que já exista uma doença pulmonar. Outras pessoas evitam ir ao consultório também porque sentem culpa pelo hábito de fumar – e não sabem como parar”.

A iniciativa GOLDiv aponta o principal grupo de risco da doença: pessoas com mais de 40 anos, fumantes ou ex-fumantes, com queixas de tosse frequente, expectoração ou “catarro” constante e cansaço ou falta de ar ao fazer esforço, como subir escadas ou caminhar. O levantamento feito pelo Ministério da Saúde indica que os homens são o público que mais fumaii. O mesmo estudo apontou que uma das faixas etárias que teve aumento do número de fumantes foi a de 18 a 24 anos. Por isso, o Dr. Mauro Gomes ressalta a importância do trabalho de conscientização da população: “embora a doença atinja mais homens e pessoas com mais de 40 anos, os jovens também devem estar cientes dos seus sintomas. Como a DPOC não tem cura, a prevenção é a melhor escolha para não desenvolver a doença. Aqui, vale pontuar que não só o cigarro traz problemas aos pulmões. Narguilé e cigarros eletrônicos também são prejudiciais à saúde”.

Para o especialista, a prevenção está atrelada ao autoconhecimento e à mudança de hábitos. “Como o tabaco causa uma dependência, ele faz parte da rotina do fumante e costuma ser associado a momentos de lazer e de alívio do estresse“, explica o pneumologista. Portanto, parar de fumar pode ser um processo lento e desafiador – e o acompanhamento de um especialista pode facilitar essa mudança de rotina. Uma das dicas do especialista é focar sempre no resultado, que é positivo para a saúde da pessoa. Muitas vezes, os amigos e familiares que convivem com o fumante auxiliam nesse processo.

O diagnóstico precoce da DPOC é a principal medida para evitar complicações. Pacientes com crises recorrentes de falta de ar possuem 4,3 vezes mais risco de morte do que os que realizam o tratamento adequado e não enfrentam essas crises, chamadas de “exacerbações”v. Além do acompanhamento médico, o especialista indica o tratamento regular com medicamentos para evitar restrições no dia a dia do paciente. “O uso contínuo da medicação reduz complicações pela doença e evita limitações na rotina do paciente. O tiotrópio, uma das opções de tratamento, reduz em 16% o risco de morte nos pacientes com DPOC”, explica o Dr. Mauro Gomes. Medidas além do tratamento convencional também são fundamentais, como a prática de atividade física regular com acompanhamento médico, vacinação contra gripe e pneumonia e não fumar.

Referências:

i http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5688:consumo-de-tabaco-esta-diminuindo-mas-ritmo-de-reducao-ainda-e-insuficiente-alerta-novo-relatorio-da-oms&Itemid=839

ii http://portalms.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/43401-habito-de-fumar-cai-em-36-entre-os-brasileiros

iii Moreira Graciane, Manzano Beatriz, et al. PLATINO, a nine-year follow-up study of COPD in the city of São Paulo, Brazil: the problem of underdiagnosis. J Bras Pneumol, 2013; 40(1); 30-37.

iv Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease. Global Strategy for Diagnosis, Management, and Prevention of COPD – 2018 [Internet].

v A. Anzueto. Impacto of exacerbations on COPD. Eur Respir Rev 2010; 19: 116, 113-118.

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