Vanderlei Cordeiro de Lima atrai grande público no encerramento do Treine com os campeões, em Santos

Vanderlei Cordeiro de Lima em Santos (SP) – Foto: Fábio Maradei

O projeto Treine com os Campeões, do 33º 10 KM Tribuna FM-Unilus, foi encerrado em grande estilo neste sábado (12), em Santos. Primeiro pelo convidado mais do que especial, o herói olímpico Vanderlei Cordeiro de Lima, e depois pelo grande público presente, que lotou a Concha Acústica, na Praia do Gonzaga, onde foi realizada a palestra do ídolo do esporte e que tem grande ligação com a Cidade.

Sob olhares e ouvidos atentos de muitos fãs de corridas, Vanderlei contou a sua história, deu dicas, num bate-papo descontraído, mas sem dúvida, motivador para a esperava prova, daqui uma semana, no próximo domingo (20). Depois, com o amigo Valmir Nunes, fez uma corrida nas areias, levando muita gente junto. “Foi espetacular. Muito legal ver esse carinho do pessoal. Venci aqui em Santos há 21 anos. É bastante tempo”, falou o medalhista de bronze na maratona na Olimpíada de Atenas 2004 e que mais recentemente, nos Jogos do Rio 2016, foi o escolhido para acender a pira, mais uma grande honraria em sua carreira vitoriosa.

Vanderlei Cordeiro de Lima em Santos (SP) – Foto: Fábio Maradei

Em 1997, antes de brilhar na olimpíada, ele foi o grande campeão dos 10 KM Tribuna FM, com direito a recorde, com 28min01s. A relação com Santos já era mais antiga e já tinha corrido várias vezes em outras provas menores. Lembrou, inclusive, um episódio no começo de carreira que teve de dormir no banco do jardim da praia, em frente ao Aquário. “Não conseguiu lugar para dormir e acabamos passando a noite na praia, para correr no outro dia e ainda consegui me superar e vencer a prova”, lembrou.

Mas foi nos 10 KM Tribuna FM que mostrou seu potencial. Venceu com uma marca que depois durou 14 anos para ser superada. O tempo poderia ter sido mais baixo, até como planejado. Naquele ano, o percurso ainda não era tão bom quanto o atual (parte dele era de paralelepípedo e haviam vias mais sinuosas) e correu os dois quilômetros finais, na praia, sozinho, e ainda na reta de chegada fez o aviãozinho.

“Santos sempre foi referência, uma prova mais rápida. Para todo atleta que quer fazer marca, quer aparecer, certamente será uma referência. A gente tinha um desafio e um planejamento para fazer uma marca expressiva nos 10 km. Treinei muito para essa prova e escolhi o momento certo para vir e alcançar esse resultado. Não foi por acaso, não foi sorte! 28min01s foi fruto de muito trabalho. Assim como o resultado de Atenas”, contou.

Vanderlei Cordeiro de Lima em Santos (SP) – Foto: Fábio Maradei

Contando a sua história, Vanderlei deu dicas importantes, sobretudo planejamento, e também persistência, superação e vontade de vencer. “Não existe milagre. No esporte, principalmente individual, corrida é longo prazo. É dar tempo ao tempo, ganhar condicionamento, experiência, bagagem. Não só para conseguir resultado, mas para ter longevidade na sua carreira e vida esportiva”, ressaltou, lembrando o foco na prova para chegar ao recorde: “Eu tinha como meta correr 28 minutos baixo e possibilidade de correr abaixo de 28. Saí muito rápido, abaixo de 2min40s por km”.

De volta à Cidade depois de alguns anos, Vanderlei também citou a satisfação de reencontrar o amigo e outro grande ícone das corridas, Valmir Nunes, bicampeão mundial dos 100 km, entre tantas conquistas e o atleta que abriu o projeto Treine com os Campeões. Ele fez questão de chamar o ultramaratonista para o palco da Concha Acústica e tecer elogios. “Tive o prazer de reencontra um grande amigo. Esse é monstro. Sem dúvida um dos maiores representantes do esporte de Santos”, enalteceu.

“Tanto ele quanto eu não ficamos esperando, fizemos a nossa parte, buscamos nossas conquistas. Isso que tem de fazer. Ser exemplo. Quantas histórias aqui podem ser contadas. Importante que seja bom exemplo”, complementou Vanderlei, dando mais um importante conselho aos participantes.

Vanderlei Cordeiro de Lima em Santos (SP) – Foto: Fábio Maradei

Com a expertise e experiência que acumulou na carreira, Vanderlei deu dicas, sobretudo para quem está iniciando e vai correr pela primeira vez na prova. “Quem vai estrear ou começou há pouco tempo, e não é diferente do atleta profissional, no dia da corrida, na véspera da corrida, na semana da corrida acaba a ansiedade acaba tomando conta da gente. É reação do nosso corpo, da nossa mente”, comenta.

“No dia da corrida, relaxa, porque na verdade não vai mudar nada. Aquilo que você faz anteriormente é que pode mudar o resultado. No dia da corrida deixa acontecer, deixa o vento te levar. Se fizer bom planejamento vai correr bem certamente. Igual à vida. Tudo é planejamento”, reforçou.

Segundo ele, a ansiedade é normal e vencida rapidamente após o tiro de largada. “Enquanto não começa, a gente não descarrega a adrenalina, não relaxa. Fica inquieto. Mas isso mostra que está apto a largar, que precisa esvaziar o tanque, porque tem muito combustível. Depois de 30 segundos, muda tudo. O legal da corrida é que ninguém fica para trás, sempre tem alguém ao seu lado. Isso é o grande diferencial”, falou. “A gente vai ganhar de alguém. Hoje tem disputa para quem vai ser o último”, brincou.

“Isso que faz ser a corrida ser o que é. Potencial todos tem. O poder de superação está dentro de todos. Você só precisa ter vontade. Tudo se consegue com o tempo, a longo prazo. Não vale a pena buscar atalho”, destacou. “Sempre tive minhas limitações, nunca me considerei o melhor, mas pode ter certeza de que sempre procurei fazer o melhor na minha vida”, confessou.

Vanderlei Cordeiro de Lima em Santos (SP) – Foto: Fábio Maradei

Medalhista conta como foi a conquista do bronze em Atenas 2004

Nos Jogos Olímpicos de Atenas, 2004, Vanderlei Cordeiro de Lima fez o que muitos não acreditavam: um brasileiro ser medalhista na maratona olímpica. A conquista ganhou uma grande projeção pelo episódio do padre irlandês o agredir, segurando-o, quando estava na liderança isolada da prova. Vanderlei teve forçar para voltar rapidamente à disputa, mesmo com tudo que poderia atrapalhar, como fator psicológico, ácido lactato, por exemplo.

Foi ultrapassado mais à frente por dois atletas, mas chegou ao Estádio Panathinaikos comemorando, fazendo o famoso aviãozinho, sua marca registrada, sem reclamar, sendo ovacionado pelo público. O feito rendeu a Medalha Barão de Coubertin, honraria máxima do Comitê Olímpico Internacional por seu elevado grau de esportividade e espírito olímpico, sendo o único latino-americano a receber a homenagem até hoje.

O próprio Vanderlei contou na palestra a conquista do bronze em Atenas: “Atenas, minha terceira participação em Jogos Olímpicos. Meu grande momento na carreira, estava fazendo meus melhores resultados, e fruto de um planejamento de oito anos. Não foi por acaso. Já tinha competido em Atenas, num campeonato mundial. Em Atenas, em 1997, eu tinha sido medalha de bronze na Copa do Mundo de Maratona, junto com outros atletas, então já tinha um conhecimento do local, do percurso, do clima.

Vanderlei Cordeiro de Lima em Santos (SP) – Foto: Fábio Maradei

Em 2004, começamos a estudar quais seriam os possíveis atletas que poderiam sobressair naquelas situações, no percurso. Claro que jamais a gente poderia imaginar ou planejar que o padre iria entrar na prova. Isso não planejou, Quando o cara me agrediu, porque ele não veio de frente, me agrediu lateralmente, acabei nem vendo, porque quando está correndo uma maratona, principalmente, quem está lá na ponta, acaba não percebendo o que está à volta, porque está muito concentrado e focado. E isso foi um diferencial para sair daquela situação e ainda continuar.

Mas o legal de tudo isso é que dentro da minha preparação para a maratona dos Jogos, todos os dias que eu ia treinar na Colômbia, eu colocava um filme na minha cabeça. Eu sonhava que estava chegando no estádio e brigando por medalha. Mentalizei isso todos os dias no treino. Isso foi fundamental, porque estava tão focado, tão concentrado na realização daquele sonho, que superei tudo. E a determinação e a vontade de vencer foram grandes.

Na verdade, para mim foi uma reação normal, mas acabou surpreendendo as pessoas. Eu teria todos os motivos para reagir de uma forma no momento da agressão, chegar no final e reclamar, reivindicar uma posição melhor. Mas não, aquele momento foi tão grandioso, quando eu entrei no estádio e o público inteiro se levantou, ovacionando, me aplaudindo, eu já tinha até esquecido o fato do cara ter me agarrado.

Vanderlei Cordeiro de Lima em Santos (SP) – Foto: Fábio Maradei

Eu não estava em qualquer lugar. Estava em Atenas, o berço das olimpíadas. Deus, obrigado, eu consegui! Vou reclamar do que? Tantos outros obstáculos que passei na minha carreira, que superei e não reclamei, por que eu vou reclamar agora, sendo aplaudido?

Certamente aquele foi um momento mais grandioso que um atleta poderia viver na vida e eu tive esse privilégio, que certamente compartilhei com cada um de vocês na expressão do aviãozinho de comemorar, de não reclamar. E na vida, se a gente olhar para o lado, para trás, vamos ver que somos privilegiados. Temos muito mais que agradecer”.

SERVIÇO – O 33º 10 KM Tribuna FM-Unilus será disputado no outro domingo (20), com largada no Centro e chegada na Praia do Gonzaga. Os kits dos atletas serão entregues na Academia Unilus, à Rua 28 de setembro, 233, no bairro do Macuco, na quinta e sexta-feira (17 e 18), das 12 às 21h, e no sábado (19), véspera da prova, das 9 às 18h. Todos detalhes no site www.triesportes.com.br.

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