Lula, um cavalheiro

Ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva – Foto: Divulgação

Corriam os anos 1980 e, por essa época, Lula já percorria o país.

Mas a caravana, que no futuro aglutinaria milhões de brasileiros, ainda era reduzida a ele e a uns poucos conhecidos.

No entanto, militantes do recém-criado partido, o PT, já apostavam no seu imenso carisma.

Uma jornalista mineira e eu bebíamos num bar da avenida Afonso Pena, em Campo Grande (MS). Lula chegou lá.

Um petista me reconheceu.

Aproximou-se:

— Você não quer entrevistar o Lula?

Querer, eu não queria.

Fazia calor: tínhamos bebido muitas cervejas.

Mesmo assim, propus à minha convidada:

— O que você acha?

Virando-se para o interlocutor petista, ela sugeriu:

— Você poderia trazer o Lula aqui?

Lula foi onde estávamos, embaixo de uma árvore, num banco improvisado.

A jornalista mineira era moça bonita e vestia só saias curtas.

Sofria enorme preconceito por ser uma das primeiras jornalistas diplomadas, em busca de trabalho, a migrar para o Mato Grosso do Sul.

Coleguinhas de profissão já manifestavam o seu ódio e a gente ainda não se dava conta disso.

 (Não havia faculdade de jornalismo em Campo Grande.)

Agachados: incômoda posição nossa para um bate papo jornalístico.

Cedemos o lugar para o entrevistado se sentar.

Lula falava com desenvoltura.

E com muita segurança.

A mesma segurança que, anos depois, demonstraria, em Londres, no passeio de carruagem com a rainha Elizabeth II.

Com a elegância do povo nordestino, Lula e a rainha foram de carruagem até o palácio de Buckingham, sede da família real britânica. Em outras carruagens, atrás, como recomenda o protocolo, vinham dona Marisa Letícia e o marido da rainha.

Quem não se lembra da recepção ao Santo Papa no aeroporto de Cumbica (SP)?

Lula, estadista, não se curvara à Sua Santidade.

Tampouco beijou a mão do pontífice; deu-lhe, sim, um aperto de mão.

Empolgada com a entrevista, a jornalista se descuidara.

Caíra.

Ajudamos a moça a se recompor.

Ela fez menção de se agachar, novamente.

Foi então que Lula se levantou, me pegou pelo braço, olhou nos meus olhos, e disse:

— Ô, companheiro: melhor ficarmos em pé.

Era a primeira vez que um político me olhava nos olhos e me chamava de companheiro.

Ali, comecei a votar no Lula.

Caso queiram acessar o link, é este: http://schabibhany.blogspot.com.br/2018/04/lula-um-cavalheiro-por-luiz-taques.html

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