Rim, esse esquecido

Dra. Ana Beatriz Barra – Foto: Arquivo Pessoal

Quem tem mais de 40 anos provavelmente já fez pelo menos uma visita ao cardiologista. Quem leva uma vida estressante e está acima do peso possivelmente já começou essas visitas antes mesmo dessa idade. A ampla divulgação da prevenção de doenças cardíacas tem contribuído muito para o aumento da longevidade dos brasileiros. A nossa expectativa de vida subiu de 62,5 anos em 1980 para 75 anos em 2016, o que é um resultado intermediário na avaliação da Organização Mundial de Saúde (OMS). Estamos numa posição superior, por exemplo, a países como Paraguai e Bolívia; mas atrás de Uruguai, Chile e Cuba. Em países como Japão e Suíça essa idade está em 83 anos.

Infelizmente o mesmo cuidado e atenção com o coração não se observam em relação aos rins. Muitas vezes quando o paciente descobre uma doença renal já desenvolveu um quadro crônico, e haverá necessidade de transplante e tratamentos que substituem a função dos rins, como a hemodiálise e a diálise peritoneal.

Como se trata de uma doença silenciosa é difícil estabelecer um protocolo de sintomas que identifiquem o início de uma doença renal. A prevenção nesse caso passa principalmente por evitar outras doenças que estão associadas com a doença renal, como a hipertensão, o diabetes e a obesidade.

Voltando aos rins; o que os maiores especialistas no assunto buscam é a incorporação por outros especialistas de rotinas de avaliação da função renal: a mensuração da creatinina e da ureia ao exame de sangue dos pacientes, e a realização de um EAS, que é um exame simples de urina. Assim, o nefrologista poderia ser rapidamente acionado e a doença renal crônica evitada.

É nosso dever usar todos os espaços para alertar a população dos cuidados com esse órgão que – assim como o coração – tem uma missão fundamental para a manutenção da vida: é o rim que filtra todo o nosso sangue diariamente e elimina as toxinas do nosso corpo. Quando ele para de funcionar, é preciso conectar a pessoa a uma máquina pelo menos três vezes semana, em sessões de 4 horas, no caso da hemodiálise.

No Brasil cerca de 111 mil pacientes fazem diálise e a estimativa é que mais de 30 mil novas pessoas passem a precisar do tratamento todos os anos. Essa deveria ser uma terapia transitória. O resultado dessa conta complexa é que 20 mil pacientes em diálise morrem por ano.
As clínicas que oferecem o tratamento – 68% delas concentradas no Sul e Sudeste do país – são 70% privadas, embora a maioria seja custeada pelo Sistema Único de Saúde, e estão com taxa de ocupação de 85%, de acordo com o último censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia.

É fato que o tratamento vem evoluindo ao longo dos anos e a chegada de novas terapias como a hemodiafiltração de alto volume representa um alento. A terapia acaba de ser trazida da Europa para o Brasil e já está atendendo 1% dos pacientes crônicos com ótimos resultados para o bem-estar geral do paciente. Mas ao pensar na equação entre qualidade de vida e longevidade a medicina preventiva tem se mostrado como a melhor prática.

Dê atenção ao seu rim. Ele pode estar carente de cuidados.

** Esse artigo saiu na Revista O Flu, do jornal O Fluminense, no dia 15/10/2017.

*Ana Beatriz Barra é Nefrologista e gerente médica da Fresenius Medical Care

 

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