Com 150 reais por semana ex-batedor de açaí vira professor referência

Eder Nascimento enfrentou um assalto e trocou as mãos calejadas pelo giz

Foto: Divulgação

Da pequena cidade de Capanema, 500 km distante de Belém do Pará, Eder Nascimento atravessava dificuldades como muitos moradores. No estado é comum as pessoas venderem os seus quitutes nas portas das suas casas e é exatamente dessa forma que dona Etiene, mãe de Eder, sustentava a família. Com 13 anos, após a separação dos pais, foi morar com a matriarca no munícipio de Barcarena. E era nessa cidade que a sorte dele iria mudar.

Ainda pré-adolescente arranjou um empego informal de batedor de açaí, algo comum no Pará, mas que exige um trabalho braçal e minucioso. Com 14 anos trabalhava nessa fábrica e conciliava os estudos à noite. Tudo para ajudar a mãe. Trabalho duro durante o dia, mãos com calos, e o uso da mente já cansada à noite. Todavia, no pouco tempo que tinha disponível gostava de filmes e músicas em inglês. Passava vergonha tentando cantá-las e quando disse para alguns amigos que iria aprender o idioma não teve apoio. “Poucas pessoas acreditavam em mim. Afinal eu era jovem e ainda pobre, muito pobre. E as pessoas muitas vezes confundem pobreza com limitação. Provei para mim mesmo que ia contradizer esse ditado”, evidencia Eder.

O adolescente começou a estudar sozinho o idioma, porém não tinha facilidade com o inglês, livros e nem computador. Ia até uma lan house, mas não tinha dinheiro para frequentá-la sempre. “A solução foi começar a paquerar a escola de inglês. Ia até lá todos os dias, fiz amizade com os professores, entrevistas, enfim. Mas tudo não passava de um sonho. Não tinha condições de fazer a matrícula”, lembra o professor.

Foi quando o pai de Eder e o dono da fábrica o ajudaram. O pai com certa quantia para que fizesse a matrícula e o seu chefe ofereceu os famosos “vales” de adiantamento do salário. Com os 150 reais que recebia por semana começou a pagar o curso de inglês aos 17 anos. Demorava cerca de 2 horas da fábrica para a escola. Em baixo de sol e chuva. O estado do Pará é um dos mais quentes e úmidos do país. Estudava no seu horário de almoço e quando aconteciam os testes de nível não comia para usar todo o horário nas lições.

“Cheguei muitas vezes sujo para as aulas de inglês. Sujo de açaí. Não dava tempo de ir para a minha casa tomar banho. Não me envergonho disso, pois trabalhar com açaí envolve muitos processos. Afinal é um alimento. Antes de bater o fruto na máquina é preciso trata-lo, lavá-lo muito bem e fazer toda higienização. Enfim, envolve muita paciência e dedicação. E são essas duas coisas que uso muito na sala de aula”, frisa Eder.

Eder ficou nessa rotina de batedor de açaí por 18 meses. Período de conclusão do curso. Foi encorajado pelos professores e demais funcionários a fazer o teste para se tornar docente, porém não acreditava em si mesmo. “Achava que não ia durar um mês como professor”, fala Eder.

Todavia, com o apoio até dos colegas de sala que muitas vezes tiveram a ajuda dele para estudar, tomou coragem e fez o teste. Conseguiu passar no processo e com 20 anos se tornou o professor mais jovem da Minds Idiomas no Pará.

Após toda essa dificuldade ainda enfrentou um assalto no seu trajeto de 2 horas com a bike e pensou em desistir de dar aulas. “Levaram a minha mochila e toda a preparação das minhas aulas. Pensei em desistir de tudo. Vim determinado a não trabalhar mais como professor. Mas, novamente com a ajuda dos colegas de profissão, fui encorajado a ficar”, lembra. Muitos colegas o ajudaram financeiramente e psicologicamente após esse episódio.

Hoje, com 24 anos, Eder já formou mais de 500 alunos e explica o que é ser professor: “Sempre fiz questão de chegar uma hora antes das aulas para conversar com algum estudante que tivesse com dúvidas. Percebi que muitos conversavam comigo não sobre as questões de inglês, mas sim as adversidades das suas vidas. Notei que a minha responsabilidade não era apenas ensinar. Quando você ouve o aluno consegue perceber o porquê ele tem dificuldade em fazer uma lição. Muitos não têm nem comida em casa e só fazem uma refeição por dia na escola pública que estudam. Quando o professor percebe a realidade de cada um fica mais fácil ensinar e dar apoio. Aconselho os meus aprendizes como os meus professores fizeram comigo”, finaliza o Eder.

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