Márcio Nunes Pereira, sempre na memória

Dez anos atrás, no fatídico 2 de agosto de 1997, o combativo jornalista Márcio Nunes Pereira, aos 42 anos, se eternizava, deixando uma grande lacuna no meio jornalístico, no seio familiar, no círculo de amigos das mais diferentes camadas e correntes de pensamento, e, sobretudo, no cotidiano da cidadania local que o tempo não foi capaz de mitigar.

Depois de ter resistido estoicamente a uma enfermidade só comparável ao mal que (des)graça a nossa tenra democracia – a impunidade, contra a qual ele corajosamente lutou –, encantou-se o peculiar estilo de fazer jornalismo, sem dar trégua aos poderosos, às elites corruptas e aos mercenários da mídia chapa-branca que amesquinham esse honrado ofício e amordaçam o sagrado direito à informação da cidadania e a formação da opinião pública.

Mais que um sincero e admirável Amigo (desses com “a” maiúsculo), Márcio foi um generoso e incomum repórter de privilegiado talento, ao extremo de não priorizar sua prerrogativa de diretor para poder-se dedicar de corpo e alma ao ofício de repórter ousado e incansável.

Perplexos, inúmeras vezes seus amigos puderam testemunhar sua nítida opção pelo corajoso jornalismo investigativo, a despeito de ameaças veladas ou explícitas, ora contra as finanças do inimitável Diário de Corumbá – cujo lema é: Um jornal se mede pelas verdades que diz – ou, também, contra a sua querida família (a leal esposa Margareth e o carinhoso Paulinho, que até hoje tentam se refazer da perda desse grande pai e companheiro).

Sem lugar a exageros, depois do silêncio determinado pela Vida à sua singular carreira – aliás, bem-sucedida –, a imprensa sul-mato-grossense perdeu a alma e o faro do repórter, que nestes alvissareiros tempos – de plenas liberdades e de fácil acesso à tecnologia de ponta – fazem muita falta à opinião pública, à cidadania, até pela monotonia da cobertura, numa unanimidade de fazer jus à sentença do não menos ousado dramaturgo Nelson Rodrigues.

No dia em que transcorre o décimo aniversário de seu prematuro encantamento, mais que uma justa homenagem, tomamos a liberdade de deixar para as novas gerações este despretensioso testemunho de anônimo, mas partícipe observador da inesgotável capacidade de o saudoso Márcio Nunes Pereira inovar o jornalismo combativo com a criatividade e a irreverência das almas pródigas que têm consciência de sua condição de peregrinas, razão pela qual não caem nas armadilhas da ganância ou da desfaçatez.

Como nos sábios versos do saudoso Sérgio Bittencourt a homenagear Jacó do Bandolim, naquela mesa está faltando ele, e a saudade dele está doendo em… todos os que acreditam no papel informativo e formativo do jornalismo-verdade, forjado na têmpera e no caráter de jovens eternizados que não abandonaram o sagrado ofício em nome do leite das crianças.

Até sempre, Márcio Nunes Pereira, sempre na memória!

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