Companhia de Teatro do Maranhão traz adaptação de conto de García Márquez para a Mostra de Teatro Boca de Cena

Fotos: Helton Perez/Vaca Azul

Campo Grande (MS) – A conversa, exercício dialético, entre dois personagens, um ser humano e um ser alado, agradou ao público na noite desta sexta-feira (26) durante a Boca de Cena – Mostra Sul-Mato-Grossense de Teatro 2017. A Pequena Companhia de Teatro, de São Luís do Maranhão, trouxe para este penúltimo dia da Mostra a peça “Velhos caem do céu como canivete”, livremente inspirada no conto “Um señor muy viejo com unas alas enormes”, de Gabriel García Márquez.

O diretor, Marcelo Flecha, explica que desde o início do processo de pesquisa até a estreia, foi um ano e meio de trabalho, sendo seis meses de ensaios, cinco vezes por semana, quatro horas por dia. “A gente trabalha gradualmente, vamos desenvolvendo os elementos integrados à cena. Conforme os personagens vão se desenvolvendo no convívio diário, as soluções vão aparecendo”.

O grupo, que já esteve em Campo Grande no ano passado em uma apresentação no Teatro Prosa com a peça “Pai & Filho”, por meio do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura, completa dez anos de existência e no Boca de Cena 2017 também ministrou a oficina O Quatro de Antagônicos como instrumento de treinamento para o ator, e participou da mesa redonda sobre resistência teatral em tempos de crise. “Por já termos estabelecido contato com Campo Grande, isso nos deixou muito tocados em poder estabelecer um retorno à cidade, oferecendo a oportunidade de mostrar a produção de um grupo de outro Estado distante”.

Fotos: Helton Perez/Vaca Azul

A Pequena Companhia de Teatro trabalha com a dramaturgia do ator. “O ator tem um papel importante na formação do espetáculo. A música, o cansaço dos personagens, tudo influencia na forma como o público frui o espetáculo. A voz para nós é um prolongamento do corpo. Todas as decisões do corpo, o posicionamento corporal, como os personagens falam, são decisões do ator, que tem o poder de contar essa história para vocês como eles escolheram”.

Para Marcelo, a técnica não deve se sobrepor ao fazer artístico. “A técnica só serve para fazer a obra de arte, para formalizar, todo o resto é mecanicismo. Na construção da obra de arte, se a técnica se sobrepõe a isso, já é o virtuosismo desnecessário. Nossa construção é muito pouco regionalista. A gente faz uma construção menos ligada a essas características regionais e buscamos gerar uma construção que brinca com a ilusão. A realidade pode ser diferente”.

Sobre a adaptação de textos literários para o teatro, Flecha afirma que não é uma característica específica do grupo, mas que busca encenar textos que tenham a ver com o que o grupo quer dizer. “Quando a gente não encontra esse dizer num texto dramático, pesquisamos outros textos para nos basearmos no que queremos dizer”.

Fotos: Helton Perez/Vaca Azul

Ator da Companhia, Cláudio Marconcine, que atua no espetáculo com Jorge Choairy, diz que em São Luís existem poucos grupos de teatro, por isso o grupo decidiu montar espetáculos para imprimir a sua forma de dizer as coisas. “A gente trabalha com teatro reflexivo, não é para entreter, tem um discurso político-ideológico por trás. Trabalhamos com a dramaturgia do ator. Teve uma época em que o autor do texto era dono da montagem, depois veio a fase do diretor, e hoje o ator participa da obra. Nós participamos inclusive da parte burocrática e administrativa da companhia. A gente participa, interfere quando vai para a sala de ensaio, o corpo é que vai direcionando a construção dos personagens”.

A Pequena Companhia de Teatro já passou por 25 Estados brasileiros com seus espetáculos. “Isso só foi possível graças a uma série de conjunturas que se estabeleceu no Brasil, a políticas culturais que possibilitaram a grupos regionais circularem pelo país. Nós entendemos o teatro profissionalmente. Estamos tentando conseguir a disponibilidade para o fazer teatral. Esta decisão da Companhia não é uma coisa comum, no Maranhão não são muitas as companhias de teatro que sobrevivem da arte. É uma decisão de resolver encontrar um caminho nessa busca”, diz o diretor Marcelo Flecha.

E ele agradece ao Governo do Estado a oportunidade de participar da Mostra Boca de Cena. “Agradecemos ao Governo do Estado, pois numa época em que o país sofre um desmonte cultural, um governo manter uma mostra de teatro como essa é importante. O Governo de Mato Grosso do Sul mantém sua política cultural, isso é uma alegria. Este é um governo sensível à questão cultural. Tem coisa que só a arte dá condições, ela toca no ponto em que outras necessidades humanas não conseguem tocar. Temos tido aqui uma receptividade muito boa. A ideia é que essa mostra possa se perpetuar. Estamos atentos a toda a iniciativa que se mantém, e a Boca de Cena merece nosso louvor”.

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