Dois turcos dão a volta ao mundo em um Fiat Egea, o Tipo sedã

Volta ao mundo de Fiat Egea (Tipo)

O jornalista automotivo e escritor Okan Altan é um dos mais famosos na Turquia. Ele é também um membro do prêmio Auto Best, criado em 2000 por alguns prestigiados jornalistas automotivos e responsável por conceder um dos prêmios de “Carro do Ano” na Europa. O escolhido em 2016 foi o Fiat Egea, nada menos do que o novo Fiat Tipo com carroceria sedã. Fabricado na Turquia, o modelo é exportado para o mundo quase todo, mas chegou a recantos aonde não é vendido com a ajuda de Altan e do fotógrafo Savas Yilmaz, que percorreram 41 mil km com o carro ao longo de 113 dias.

“Este é o lado mais agradável de nossa profissão: quanto mais tempo demoram os testes, mais divertidos eles são. Nós amamos carros, é por isso que fazemos isso. Tenho pedido aos fabricantes por rotas de teste mais longas há anos e finalmente a Fiat aceitou patrocinar uma excursão ao redor do mundo com o Egea”, disse Altan, que já usou também um Doblò fabricado em Bursa, na Turquia, para ir de Detroit, nos EUA, ao Peru. Sua mais recente aventura antes desta com o Egea foi de 14 países em 14 dias, rodando 10 mil km, ao volante de um Hyundai i10.

O modelo que ele usou em sua volta ao mundo, um Egea 1.6 automático, foi escolhido aleatoriamente na linha de produção, segundo Altan, que nos conta a aventura na entrevista abaixo:

Motor1 – Como a aventura começou?

Okan Altan (OA) – A volta ao mundo sempre foi o meu sonho. Em 2015, no lançamento do primeiro Egea Sedan, informei ao diretor da Fiat na Turquia sobre meus planos e ele gostou da ideia. Imediatamente após o lançamento do Egea Hatchback, o CEO da Tofaş, Cengiz Eroldu, disse: “O mundo é nosso parque de diversões”. E aceitou minha proposta. Seria a primeira avaliação de um carro ao redor do mundo.

Motor1 – Como foi o planejamento?

Se você estiver no Polo Norte, pode dar a volta ao mundo em três passos. Não era o que queríamos fazer, evidentemente. Existem padrões que determinam o que realmente pode ser chamado assim. A National Geographic e a World Travelers dizem que as linhas de solstício medem cerca de 37 mil km e nada inferior a isso pode ser chamado de volta ao mundo. Não é algo registrado em pedra, mas foi o que usamos para nos guiar.

Tudo começou muito rápido. Procurei estradas por onde um carro de tração dianteira pudesse passar sem necessidade de adaptações. Não foi muito fácil, especialmente pelas mudanças de temperatura, a necessidade de vistos e pegar estradas desconhecidas pela frente. Duas delas eu quis incluir no roteiro: a Trans Siberiana e a Carrera Panamericana, no México. Já houve outros carros de tração dianteira a tentar uma volta ao mundo, mas eles levaram anos para completá-la. E a gente se inspirou no livro de Júlio Verne, “A Volta ao Mundo em 80 dias”. Levamos 113.

Em 13 de agosto de 2016, pegamos a fronteira da Turquia em Dereköy. Chegamos a Varna pela Grécia. Então chegamos à Romênia. Embora não existam controles de fronteira entre a Ucrânia e a Romênia, a fronteira tem 600 km. O Danúbio separa estes dois países e, como nenhum dos lados está interessado em construir uma ponte, atravessamos pela Moldávia.

Quando entramos na Ucrânia, sentimos a frieza da guerra. Havia tanques e soldados ao redor e as estradas que tivemos de enfrentar não estavam em boa forma. Tivemos de desviar de grandes buracos um após o outro, mas acabamos dentro de alguns deles. Isso nos retardou muito. Quando chegamos a Odessa, os telefones não estavam funcionando. E não havia eletricidade. Então, em Kiev, as coisas ficaram um pouco mais normais e finalmente chegamos à Rússia.

Visto, seguro e o registro de veículo nos retiveram na fronteira russa. Gastamos 15 horas por lá. Quando entramos no país, pensei: temos 11 mil quilômetros à frente e a Trans Siberiana; nosso visto é de 2 semanas. Isso infelizmente significava ir rápido, dormir menos, comer rapidamente. Tudo correu bem. O Egea estava em boas condições.

A distância entre cidades era de cerca de 1.000 km e cada cidade que passa é como uma região industrial. Embora houvesse pequenas cidades no caminho, tivemos muito tempo para escutar a nós mesmos na solidão. Nós estávamos ficando fisicamente cansados, mas mentalmente estávamos relaxados…

A Trans Siberiana é um lugar lendário para entusiastas de carros e de motocicletas. As pessoas usam dragonas nos ombros, aqueles ornamentos militares com franjas, depois que terminam o percurso inteiro! Se você olhar para tempos de trânsito médio, leva em torno de seis meses. Como não tínhamos tempo suficiente para apreciar o cenário, houve momentos em que tínhamos de andar a cerca de 180 km/h. Não consigo descrever o sabor do café com o lago Baykal ao fundo. Você tem que olhar para as fotos de inverno deste lugar online. O verão, em compensação, é um desastre. Acho que o número de mosquitos per capita é de mais de 50 milhões. E essas criaturas são três vezes maiores do que as que temos na Turquia. Tive que usar quilos de repelentes, mas eles não serviram de nada.

Felizmente, nós continuamos em frente e não parávamos por muito tempo. Dirigi o carro durante 11 horas por dia a uma velocidade média de 170 km/h durante 8 dias sem sair das florestas da Sibéria. Especialmente antes de 2005 havia bancos muito desconfortáveis no mercado, mas o Egea marcou muitos pontos comigo neste quesito.

Quando entramos na Manchúria, o único país sem bandeira do mundo, coisas ruins vieram à minha mente. China, Rússia, Japão e, em seguida, a Rússia novamente invadiu este pedaço do mundo. Guerra, dor, sofrimento… Todo mundo que veio plantou sua própria bandeira. Nós conhecemos pessoas diferentes aqui, mas já que estávamos quase sem tempo, tivemos que correr para Vladivostok. É uma cidade importante no sentido militar e comercial. As duas pontes que eles têm são nomeadas curiosamente; Chifre Dourado e Bósforo. Quando analisamos por que razão é assim, descobrimos uma admiração por Istambul. Enquanto estávamos lá, mudamos o plano e decidimos ir para o Japão em vez de para os EUA.

Pegamos um navio e carregamos o carro para o Japão. O único problema grave que tivemos no nosso caminho foi um pneu furado por causa de um buração em que que caí. A chuva caía forte e descobrimos que a chave de roda carro não servia para trocar os pneus. Eu estava furioso. Liguei para o diretor da Fiat. Eram três da manhã na Turquia naquele momento. Perguntei-lhe como e onde obter outra chave de roda. Passamos duct tape no pneu, usamos nosso pequeno compressor para colocar um pouco de ar nele e dirigimos até uma borracharia do jeito que deu. Também teve a haste do capô. Há uma peça plástica que a prende ao capô quando ela não está em uso, mas ela caiu em uma estrada de cascalho por causa dos solavancos. Usamos duct tape de novo e fomos em frente. Além disso, não tivemos nenhum problema.

Fizemos história no Japão. Soube na alfândega que nunca houve um carro com placas turcas tentando entrar naquele país. Fomos apanhados em uma lacuna legislativa porque não havia precedente, e esperamos que um relatório fosse escrito. Se outro carro turco já tivesse feito isso, não precisaríamos ter esperado tanto tempo. Como a mão no Japão é inglesa, nossos telefones e navegação não funcionaram porque não são compatíveis com o sistema local. Tínhamos dois GPS no carro, e eles não funcionaram. Seus sistemas são diferentes de qualquer outro lugar. O Japão é magnífico, mas muito caro. Você cobre 10 km em uma hora no tráfego regular. As estradas de pedágio são uma ideia boa mas você tem que pagar aproximadamente 13.000 ienes (13 dólares) para a distância mais curta. Tivemos de pagar por apenas 250 metros. E eles não aceitam cartões de crédito. De qualquer maneira, nós carregamos nosso Fiat Egea no porto de Yokohama e começamos uma viagem de 11.000 km de extensão.

Quando Júlio Verne escreveu seu livro, ele provavelmente não imaginou que teríamos de gastar 11 dias na alfândega para entrar no México. 80 dias, atualmente, é um sonho para uma volta ao mundo. Não dá… Mas a partir dali não tivemos mais restrições de tempo. Era ligar o carro e sair rodando. O cinema americano nos enganou sobre o México. Os maias escolheram um lugar lindo para morar, com muita floresta tropical, verde e papagaios! Não consegui encontrar estradas decentes. Mesmo se você puder encontrá-las, as lombadas não nos permitem curti-las devidamente. Fomos alertados sobre falsas alfândegas. Colocam uma bandeira mexicana e um sinal de advertência em espanhol. Eles pedem seu passaporte e depois pedem dinheiro para devolvê-lo. Há relatos de gente que teve de pagar entre US$ 5 mil a US$ 10 mil… Enquanto isso, conheci o irmão de Egea, o Dodge Neon, no México. Ele é vendido nesta região com a marca americana. O início do lendário rali Carrera Panamericana se daria uma semana depois de carregarmos o Egea para a segunda viagem marítima. Talvez em uma próxima oportunidade…

A viagem de 11.000 km do Japão ao México nos tomou 20 dias. Os 6.000 km para atravessar o Atlântico de volta à Europa levaram mais 40 dias. O navio parou em cada porto. O Egea é vendido sob o nome Tipo no Reino Unido. Eles não reconheceram o carro na alfândega. Resolvemos o problema colando uns emblemas “Tipo” que eu tinha pegado em Bursa. As pessoas que reconheciam as placas na Europa sempre faziam as mesmas perguntas: “Você realmente está vindo de Bursa? Você começou na Turquia?”. Elas ficavam realmente surpresas quando eu lhes dizia sobre a volta ao mundo que estávamos tentando completar. Graças a Deus o carro não tinha nenhum arranhão quando terminou o passeio. O trajeto por terra tomou pouco tempo, mas vistos, burocracia e os transportes marítimos tornaram o prazo de 80 dias impossível.

Os pontos altos da volta ao mundo de Fiat Egea (ou Tipo)

22 países 122 cidades
113 dias 41 mil km
1,7 tonelada de gasolina 24 mil km em terra
17 mil km no mar 7.400 horas ao volante em 52 dias
81 dias em alfândegas e no mar 84 noites em hotéis
mais de 300 xícaras de café…

 

Fonte: Motor1.com

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