Espetáculo “Só”, do Grupo Sobrevento aborda, sem palavras, o tema solidão

Cena do espetáculo teatral ‘Só’ – Foto: Daniel Reino – FCMS

Cena do espetáculo teatral ‘Só’ – Foto: Daniel Reino – FCMS

Campo Grande (MS) – Cinco atores em cena representando a solidão em suas várias vertentes, sem diálogos nem falas, usando expressão corporal para contar diversas histórias que se mesclam e se fundem em uma só. Objetos em cena, tema musical de Arrigo Barnabé para ilustrar uma narrativa não linear, não convencional. O espetáculo “Só”, encenado em Campo Grande na noite desta quarta-feira (27) pelo Grupo Sobrevento, trouxe ao público essa linguagem diferente do teatro de objetos.

Esta foi a primeira vez que “Só” foi apresentado fora de São Paulo. O grupo escolheu Campo Grande por uma ligação afetiva com o lugar, pois a secretária adjunta de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação, Andréa Freire, foi a fundadora do grupo numa época em que ela e o diretor estudavam teatro no Rio de Janeiro. O espetáculo foi agraciado com o Prêmio Myrian Muniz, e graças a ele o Sobrevento viaja pelo país fazendo apresentações.

Cena do espetáculo teatral ‘Só’ – Foto: Daniel Reino – FCMS

Cena do espetáculo teatral ‘Só’ – Foto: Daniel Reino – FCMS

O diretor, Luiz André Cherubini, afirma que foram nove meses de ensaio, mas as pesquisas começaram dois anos antes da estreia, que aconteceu no espaço do grupo, em São Paulo. “Nós começamos a conceber o espetáculo com um grupo de estudo composto por 30 pessoas, artistas experimentados com caminhos diferentes, para discutirmos as nossas ideias. Durante três meses foram três dias de reuniões por semana”.

Luiz explica que o teatro de objetos segue alguns caminhos particulares, como solos, pequenos objetos em cima de uma mesa. “A gente escolheu um rumo diferente, que envolvia o corpo do ator, sem palavras em cena. E se contássemos histórias? A narrativa não é linear, o público estranha muito. Não há um caminho de evolução para chegar a um grande final. É uma peça mais visual, mais plástica. Não tem a preocupação de uma moral. É mostrar a fragilidade, a solidão. Não se trata de um manifesto, de uma comédia de costumes daquele momento”.

 “A gente questionava esse padrão narrativo com artistas estrangeiros com ideias boas”, explica Luiz André. “Antonio Catalano, artista plástico italiano, discutia a pobreza de recursos, sem glamour, mais rico de ideias. Ele chamou os artistas e juntos construíram, com caixotes de madeira, pedaços de pano, retalhos, galhos e construíram figuras humanas. Os caixotes no peito representavam o povo brasileiro, o paulistano, com símbolos. Um tinha um terço, o outro uma onça, uma escada, representando a pessoa que buscava subir na vida, agressiva e também religiosa. Esse material foi intitulado Povo Frágil e foi exposto na rua em São Paulo. Daí choveu, ventou, algumas pessoas pegaram coisas… Isso revelava a fragilidade do povo. Então, no nosso teatro, o conteúdo é importante, a ideia viva com recursos simples”.

Cena do espetáculo teatral ‘Só’ – Foto: Daniel Reino – FCMS

Cena do espetáculo teatral ‘Só’ – Foto: Daniel Reino – FCMS

Outras influências do grupo foram a artista plástica e dramaturga Agnez Limbos, que tem influência surrealista e a plasticidade pobre do catalano, e o músico Arrigo Barnabé, que circula entre o erudito e o popular. “Ele assistiu a vários de nossos ensaios”.

A trilha, composta por Arrigo Barnabé, trouxe quase duas horas de música. O diretor diz que a música não deve confirmar o que está sendo mostrado, não é pano de fundo. Ela busca complementar e interferir no espetáculo. Os figurinos são de João Pimenta, um nome bastante requisitado na São Paulo Fashion Week. Tem grandes modelos desfilando para ele. “ João tem a alma do teatro, do figurino”.

O elenco de “Só” é composto por Sandra Vargas, que também é diretora, Daniel Viana, Sueli Andrade, Maurício Santana e Liana Yuri. “De todos que entraram no grupo nesses trinta anos de existência, ninguém saiu. Muitos foram chegando depois. O nosso iluminador, Renato Machado, do Rio de Janeiro, trabalha conosco há 26 anos. Nós somos uma cooperativa, e não assalariados, e os que vão chegando só vão agregando. Aqui em Campo Grande, para este espetáculo, somos onze pessoas, [entre elenco e equipe técnica]”.

O Grupo Sobrevento foi fundado em 1986 e veio comemorar em Campo Grande seus trinta anos de existência. É um grupo profissional de teatro que mantém um repertório de espetáculos e que se dedica à pesquisa, teórica e prática, da animação de bonecos, formas e objetos. Desde sua fundação, o grupo mantém um trabalho estável e ininterrupto e tem se apresentado em mais de uma centena de cidades de 19 estados brasileiros. Esteve também no Peru, Chile, Colômbia, Escócia, Irlanda, Argentina, Angola, Irã, México, Suécia e Estônia. Para saber mais sobre o grupo, basta acessar o site www.sobrevento.com.br.

Aos interessados, ainda dá tempo de assistir ao espetáculo “Só”, cuja última apresentação será nesta quinta-feira (28), às 19 horas, no Museu de Arte Contemporânea (Marco), que fica na rua Antônio Maria Coelho, 6000, Parque das Nações Indígenas. O ingresso é um litro de leite e um quilo de alimento não perecível.

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