Amanda

A blogueira Amanda em pose especial para este artigo – Foto: Divulgação

A blogueira Amanda em pose especial para este artigo – Foto: Divulgação

Amanda, vencido em meu castigo

eu trago a paz comigo

de volta, pra ficar.

Amanda, recolhe meus pedaços,

me acolhe nos teus braços,

toma o espaço dessa dor e o teu lugar…

Amanda, perdi pela viagem

as forças, a coragem,

a imagem do que eu sou…(Amanda)

Taiguara em caminhada – Foto: Divulgação

Taiguara em caminhada – Foto: Divulgação

A canção acima é uma homenagem a Amanda, e hoje conto um pouco da história esquecida de um dos maiores compositores do Brasil ou pelo menos o mais censurado. Eu particularmente gosto muito da canção “Viagem”, um de seus maiores sucessos e sem dúvida, um momento mágico de inspiração em sua carreira. Falo de Taiguara Chalar da Silva, nome que não pode ser esquecido pela cultura e pela memória dos brasileiros. Para se ter uma ideia no início de 1976 chegou às lojas o disco mais ambicioso de Taiguara, chamado Imyra Tayra Ipy. Chegou e desapareceu, em 72 horas, apreendido pela censura da ditadura militar, no mais épico embate registrado entre a criatividade e a repressão política no Brasil, entre generosidade e opressão. E criando um vazio que só hoje, 40 anos depois, começa a ser preenchido. Taiguara nasceu em Montevidéu em 1945, durante uma temporada do pai, Ubirajara Silva, bandeonista, no Uruguai. Cresceu no Brasil, trabalhou com Cesar Camargo Mariano, Jongo Trio, Luiz Chaves do Zimbo, esse pessoal do samba-jazz. Mas se consagrou mesmo no final da década de 60 pelas participações bombásticas em festivais e grandes sucessos nacionais (“Hoje”, “Universo No Teu Corpo”, “Viagem”, “Berço De Marcela”, “Teu Sonho Não Acabou”, “Que As Crianças Cantem Livres”).

Taiguara – Foto: Divulgação

Taiguara – Foto: Divulgação

Evidentemente que a marca estética da música “de festival” dessa época, com uma certa grandiosidade orquestral e poética, nunca abandonou o cantor, que não tinha vergonha de soltar a voz em melodias extremamente emocionais, entretanto a censura na ditadura militar no Brasil sufocou a criatividade de muitos compositores brasileiros. O fato é que ninguém chegou a ter a carreira tão prejudicada pela repressão quanto um cantor cujo nome, em tupi-guarani, significa “livre”. A perseguição teve início no período em que Taiguara começava a resgatar suas raízes latinas. As referências em suas letras vinham com uma carga forte de sensualidade e abstrações sobre a liberdade. Ao lado de Chico Buarque e Gonzaguinha contemplam a tríade dos artistas que mais foram censurados. Mas oficialmente, em documentos, Taiguara foi amplamente vetado em seu período mais produtivo. Suas canções românticas faziam parte de um repertório obrigatório dos anos sessenta e inebriavam de ternura e encantamento todos que a elas se debruçavam para tirar de suas lindas melodias e preciosidades literárias, um motivo a mais, para se orgulhar de seus poemas em forma de canção. Quem vive hoje, sim com dificuldades, no emprego, na família, talvez não entenda o que é viver distante da democracia e nem porque poesias tão encantadoras foram censuradas com tanto fervor. Também não encontrei ainda este elo. Apenas considero Taiguara um grande exemplo de inteligência. E considero suas composições algo que transcende o imaginário da genialidade e nos traz de volta todas as lembranças de um passado de luta e de beleza aonde nascia a real música popular brasileira e termino com uma delas…”Viagem” – Vai, recupera a paz perdida e as ilusões, não espera vir a vida em tuas mãos, faz em fera a flor ferida e vai lutar, pro amor voltar. Vai e faz de um corpo de mulher estrada e sol, te faz amante, faz teu peito errante acreditar que amanheceu!

(*) Articulista e crítico musical

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