Me arranja algum motivo pra sonhar…

Foto: Amanda Dias

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Quanto mais se pretende expandir as facilidades e atribuições de um celular, mais aumenta sua complexidade. Em contrapartida quanto mais se aumenta a capacidade de amar de um homem, mais se reverencia a sua simplicidade. E de ver e perceber a arte dos grandes mais eu recheava de lírios, sons, cores, camalotes e rosas, a minha bagagem musical. E desta maneira venho através do tempo contando as minúcias não conhecidas das canções e buscando a valorização dos autores, muitas vezes esquecidos, em função dos intérpretes. Mas curiosamente a primeira história, que eu contei, nesta minha vida de “contador de histórias” foi justamente a de Geraldo Roca, e conforme ele mesmo me confidenciava; Trem do Pantanal não foi criada para ser uma ode ao meio ambiente pantaneiro, ainda que tenha se tornado o Hino não oficial de mato Grosso do Sul. Doravante minha função tem sido cunhar na pedra da história, os meandros da inspiração das mais belas canções que se podem ouvir.

Foto: Amanda Dias

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Entrementes … para buscar a preciosidade musical de Geraldo Roca é necessário perquirir a história e assim, a capital do Estado de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, teve seu crescimento impulsionado em função da ferrovia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, (NOB) pois foram seus trilhos que trouxeram tantas gerações que hoje constituem na região, uma miscelânea de etnias e culturas. Fato que serviu de painel para a composição da música “Japonês tem três filhas”. Outra música de sua composição foi repaginada recentemente por um paulistano amante da música pantaneira, o Rubens de Barros Nicolau que ofertou a música Mochileira uma batida folk com violão e gaita. Não menos conhecida e ao meu ver, encantadora; é dele “Uma pra Estrada” de leveza ímpar em sua melodia e de uma transcendentalidade “folk live” contagiante que alimenta de paz a nossa agonia cantada em prosa e verso.

Entretanto ainda mais conhecida e praticamente o hino não oficial do Estado e com mais de 100 regravações, o que faz com que Geraldo de Almeida Roca fosse um dos compositores mais gravados do Mato Grosso do Sul; é a música Trem do Pantanal (1975) em parceria com Paulo Simões, oferta nesta música uma lírica realista própria pincelada com cores regionais e suas versões mais belas lembram a batida dos trens. Mas o que muitos não sabem é que ela quando composta nem pensavam em ter uma vertente que tem hoje. Geraldo conta: “Me inspirei um pouco na experiência de um amigo. Eu e o Paulinho tínhamos uns 14, 15 anos e ele era mais velho um pouco, mas já frequentava o PCB. Até o dia que estouraram uma célula do Partido, ele estava ali, envolvido, teve de sumir e fez justamente este caminho até Santa Cruz de La Sierra. Esta história ficou na minha cabeça. A idéia do cara fugindo”. E hoje Trem do Pantanal é simplesmente tudo que é… E, particularmente, Geraldo Roca é simplesmente tudo que sempre será! Obrigado Dona música, vem nos acalentar, porque: esse dia foi de amargar…

‘Uma pra estrada’ – Geraldo Roca, interpretado por Daniel Freitas (Dourados/MS)

(*) Articulista

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