Biblioteca Isaías Paim realiza sarau temático em homenagem aos 110 anos da Imigração Japonesa no Brasil

Fotos: Aurélio Vinícius

Campo Grande (MS) – A manhã de sábado (16.06) foi de celebração: a Biblioteca Pública Estadual Dr. Isaias Paim, por meio do seu Sarau Cultural, homenageou os 110 anos da Imigração Japonesa no Brasil com elementos da cultura japonesa e “causos” dos imigrantes que vieram para Mato Grosso do Sul.

Todos tinham uma história para contar, até mesmo brasileiros sul-mato-grossenses relembraram histórias de suas vidas que foram marcadas pela gratidão aos imigrantes japoneses que aqui vieram para trabalhar e conquistaram uma nova pátria. A coordenadora da Biblioteca Isaias Paim, Eleuzina Crisanto de Lima, contou que sua família veio para Campo Grande na década de 1980 em busca de trabalho. Seu pai, depois de consertar o telhado da casa do Armando Tibana, foi contratado para morar e trabalhar na Associação Nipo-Brasileira durante 30 anos. “A colônia japonesa nos acolheu, tenho muita gratidão. O povo japonês contribuiu muito para o crescimento da nossa cidade em todas as áreas”.

Fotos: Aurélio Vinícius

O fotógrafo Roberto Higa, que trabalha em Mato Grosso do Sul desde 1968, registrou em suas lentes várias famílias de “nihondin” aqui do Estado e apresentou amostras de seu acervo em slides. “Trago hoje para vocês o que eu possuo no meu arquivo, mas é muito maior do que eu tenho aqui. Retratei a construção do Clube Okinawa na década de 1960, eu sempre tentei guardar as coisas que eles fizeram em Campo Grande”.

Também expôs suas obras o artista plástico Roberto Higa, de mesmo nome do nosso conhecido fotógrafo. Higa morou vários anos no Japão e esteve também em vários outros países para colher informações e aprimorar sua arte. “Quando estive no Japão, em Okinawa, fiquei muito tocado em conhecer minha raiz. Quando retornei ao Brasil fiz uma exposição com temas japoneses em São Paulo. Depois fiz uma exposição sobre o Brasil no Japão, sempre havendo esta troca”.

Fotos: Aurélio Vinícius

Tânia Souza trouxe para a Biblioteca os seus haicais, que são poemas japoneses de 17 sílabas, divididos em três versos, sem rimas e com palavras simples. Tânia escreve haicais há seis anos e diz que esse tipo de poema pode ser feito em qualquer lugar do mundo. “A essência do haicai pode permanecer na natureza e não deve ser pessoal. É um retrato do transitório. Sempre gostei da natureza, da contemplação, e o haicai me fascinou e me ajudou a me concentrar e retratar a imagem com palavras. Não é uma poesia ecológica, mas acaba favorecendo que a gente olhe mais para a natureza, a educar o olhar para a beleza da natureza. Faço haicais como uma homenagem, aprendi muito com a cultura japonesa”.

O Grupo Sakura, que completa dez anos, encantou com as lindas menininhas vestidas de Minnie Mouse e também com a coreografia Olê Champion, em comemoração à Copa do Mundo. A coordenadora, Miti Okamura Miyashita, explica que o objetivo é transmitir a cultura japonesa por meio da dança e da música. “Tem danças tradicionais e outras mais modernas. Para participar, não há necessidade de ter ascendência japonesa, basta gostar de dançar”.

Fotos: Aurélio Vinícius

Outro grupo que encantou foi Ryukyu Koku Matsuri Daiko (que significa “tambores festivos do reino de Ryuku”), com suas coreografias sincronizadas com o taikô (tambor japonês). O grupo foi fundado em 1982, na ilha de Okinawa, e em Campo Grande começou em 2002. O grupo utiliza como base de sua coreografia o Eisá, dança típica de Okinawa com mais de 400 anos. Em Campo Grande são 50 integrantes, entre adultos e crianças. “Esta apresentação aqui na Biblioteca foi bem interessante. É importante reconhecer nossos antepassados, que trouxeram toda a história e cultura japonesas para cá”, diz Daniel Shoiti Suguimoto, o líder do grupo.

O Grupo Seishun, que existe desde 2008, apresentou o Yosakoi Soran, estilo de dança japonesa mais moderno, um tipo de dança contemporânea do Japão conhecido como carnaval japonês. É um estilo muito colorido, com efeitos como trocas de roupas no palco e utilização de acessórios.

Fotos: Aurélio Vinícius

Logo depois, a cantora Meire Mary Obabayashi apresentou a musica “Eieni Kagayaite”. Meire canta desde os cinco anos (atualmente está com 30) e foi agraciada com o primeiro lugar no Concurso de Karaokê na Associação Nipo-Brasileira no último dia 3 de junho, na categoria adulto classe especial. “Para cantar a música japonesa e necessário aprender as técnicas para cantar com mais suavidade. Tem que sentir a música. Me sinto muito bem quando canto, é uma forma de me desestressar”.

O engenheiro e pesquisador Celso Higa e o jornalista Eron Brum realizaram um bate-papo cultural sobre aspectos da colônia japonesa em Mato Grosso do Sul. Eron é autor do livro “Uichinanchu, cidadãos do mundo”, que conta a história da família Shinzato por meio do patriarca Gensei Shinzato, que veio de Okinawa para o Brasil em 15 de setembro de 1925. Gensei veio para Campo Grande para trabalhar numa fazenda, comprou 20 hectares na região da Mata do Segredo e foi chefe de cooperativa. “Gensei contratou 15 novos trabalhadores para a nova colônia do Segredo e um deles era meu avô”, diz Celso Higa. “Gensei e dona Matsuo tiveram 12 filhos. Eles só falavam japonês e não conheciam muito o idioma português. O livro foi lançado em 2012 e se esgotou no lançamento”, explica Eron.

Fotos: Aurélio Vinícius

Alexandre Garcia contou a História do Sadako e os 1000 Tsurus. O tsuru é considerado uma ave sagrada do Japão e simboliza saúde, sorte, felicidade, longevidade e fortuna, sendo um símbolo para grandes benefícios. “A menina Sadako foi internada por complicações resultantes da bomba de Hiroshima. Para poder sair logo do hospital e poder voltar à sua vida, ela dobrou tsurus em origami desejando que nenhuma criança no mundo passasse pelo que ela passava por conta da guerra dos homens. Ela morreu antes de completar os mil tsurus. Foi feito um monumento em sua homenagem na cidade de Hiroshima. Em Campo Grande foi realizado o projeto ‘Mil tsurus por um desejo’ em 2006, no Festival do Sobá. Conseguimos fazer 12 mil tsurus, que foram entregues em hospitais de Campo Grande, São Paulo e em Ramala, na Palestina”.  Ao final do evento foram distribuídos tsurus de origami aos participantes.

O Sarau Cultural nasceu de um anseio de que a Biblioteca não fosse apenas um lugar de leitura, mas que as várias linguagens do conhecimento proporcionem novas descobertas.  O Sarau da Biblioteca é aberto ao público e a participação é gratuita. A Biblioteca Estadual Dr. Isaias Paim fica no 2º andar do Memorial da Cultura e Cidadania (avenida Fernando Corrêa da Costa, 559). Para participar das próximas edições, entrar em contato pelo telefone (67) 3316-9161.

Fonte: Assessoria de Imprensa da FCMS

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