Trânsito e Cotidiano

Renan da Cunha Soares – Foto: Arquivo Pessoal

Todos os dias, nos deparamos com situações no trânsito que nos levam a crer que o respeito ao próximo e à vida humana tem ficado enfraquecido com o passar dos tempos. Vivemos, sem dúvida alguma, a era da motorização individual, comprovada pelos números da média de ocupação dos veículos e do crescimento da frota. A cada dia, temos um número maior de montadoras instaladas no País, oferecendo vários tipos de veículos e para todos os bolsos. Podemos inclusive comparar a massificação pela venda de veículos com o que já acontece com os telefones celulares e computadores, que trabalham pelo prisma de que cada cidadão precisa e deve ter o seu próprio item como condição de bem-estar.

A vivência diária, cada vez mais individualizada, com um estilo totalmente baseado no consumo, tem convertido uma boa parte de nós, brasileiros, em pessoas extremamente autocentradas. Mas e os reflexos desse modelo?  O enfraquecimento de alguns valores está presente no cotidiano como um todo e pode ser apreciado também no trânsito nosso de cada dia, como no avanço infracional de uma rotatória ou semáforo.

É alarmante a despreocupação com o bem do próximo, com a segurança da coletividade, especialmente no caso do trânsito. Mais do que a preocupação em achar culpados, devemos pensar no que cada um de nós tem feito para mudar esse quadro. Que tipos de comportamento temos? Quais valores e exemplos temos expressado em nossas relações? Os primeiros flagrantes de infrações, como falar ao telefone celular e conduzir, dirigir depois de ter ingerido bebidas alcoólicas e praticar excesso de velocidade, muitas vezes acontecem com crianças presenciando seus pais e pessoas próximas como infratores.

Não queremos aqui crucificar ninguém, mas até quando vamos ficar somente reclamando? A reforma íntima que cada um de nós pode operar, é o primeiro passo para um dia a dia mais humanizado e sensível. O respeito aos mais velhos, às diferenças, aos que estão em desvantagem em relação a nós, deve estar sempre norteando nossa maneira de agir no trânsito e fora dele. Deixemos de lado a intolerância e façamos uso da paciência. Aquele que é consciente de seus direitos e deveres consegue trocar de lugar com o outro, procura ser mais gentil, e, no mundo da mobilidade, tudo é transitório, o agora poderoso condutor é também, em novo momento, frágil pedestre e vice-versa.

Se sozinhos somos força insuficiente para mudar o paradigma do trânsito como um todo, somos senhores para guiar nossas próprias ações com sabedoria, tolerância e humanidade. Afinal, o comportamento coletivo é o reflexo de pequenas ações de cada um de nós. Se fizermos nossa parte, que por vezes parece uma gota d’água frente a um oceano, poderemos deixar de ser a gota d’água que faz transbordar o vaso do individualismo, para ser a gota que enche um pouco mais o cálice da vida.

* Renan da Cunha Soares Júnior é psicólogo, coordenador do curso de Psicologia da UCDB e Doutorando em Psicologia pela UCDB. 

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